EUA cedem à pressão mundial e interditam Boeing 737 Max
Trump anunciou decisão da FAA após reunião com a Boeing. Fontes em Washington garantem que shutdown do governo atrasou aprovação de melhorias no modelo envolvido em dois acidentes.
Donald Trump não estava apenas a ser irónico quando na terça-feira publicou no Twitter duas mensagens em que dizia que pilotar um avião hoje em dia era tarefa para cientistas do MIT por causa da tecnologia cada vez mais complexa. No seu estilo peculiar, o Presidente dos EUA estaria no fundo a dizer que desconfiava da fiabilidade tecnológica dos Boeing 737 Max 8, que tinha sido proibido pela Europa e uma dezena de países de outros continentes. Após quase três dias de crescente pressão internacional, os EUA acabam de ceder e, nesta quarta-feira, anunciaram que também vão retirar aquele modelo do ar.
A novidade foi dada pelo próprio Presidente, na Casa Branca. Durante uma conferência de imprensa em Washington, Trump revelou que a Federal Aviation Administration (FAA), que regula a aviação nos EUA, iria interditar “com efeitos imediatos” os Boeing 737 Max 8 e Max 9, até que se esclareçam as dúvidas sobre a fiabilidade dos modelos que estiveram envolvidos em dois acidentes, num período de cinco meses, que mataram 346 pessoas.
“Tenho esperança que eles [Boeing] tenham uma resposta em breve, mas até lá os aviões ficam em terra”, declarou Donald Trump. Na bolsa de Nova Iorque, as acções da Boeing entraram imediatamente em perda ainda mais acentuada.
Antes deste anúncio, o governo canadiano também proibiu a presença do modelo mais vendido da Boeing no espaço aéreo daquele país, com base em “novas provas”.
Segundo o ministro dos Transportes do Canadá, Marc Garneau, o executivo de Otava, teve acesso a registos obtidos por satélite que confirmam as grandes semelhanças entre o acidente de domingo com um avião da Ethiopian Airlines, que matou 157 pessoas, e o de 29 de Outubro de 2018 na Indonésia, onde um aparelho idêntico caiu no mar de Java, matando as 189 pessoas a bordo.
Garneau acrescentou que a informação de que dispunham “não permite tirar conclusões definitivas”, mas sublinhou que “neste momento foi ultrapassado o limiar” da confiança. E, por prudência, proibiram o 737 Max, seguindo os passos de 32 países europeus e mais uma dezena de outros continentes, que já o tinham feito nas 48 horas anteriores.
Sabe-se agora que Trump se reuniu nesta quarta-feira com o CEO da Boeing, Dennis Muilenburg. Segundo a imprensa internacional, Muilenburg garantiu ao Presidente que os modelos sob suspeita eram seguros.
A mesma mensagem foi passada pelo fabricante num comunicado, com data de segunda-feira, em que prometia, ainda assim, “melhorar” a tecnologia a bordo do 737 Max, com o objectivo de tornar este modelo “ainda mais seguro”. As diversas medidas seriam postas em prática até Abril, data limite fixada pela FAA, que até esta quarta-feira à tarde manteve a posição de que não havia informação suficiente que justificasse a interdição daqueles modelos.
Porém, tanto a FAA como a própria Boeing acabaram por mudar de opinião, cedendo à enorme pressão que estava a amontoar-se. O fabricante acabou por divulgar uma mensagem no final desta tarde em que diz que “após conversações com a FAA, a NTSB [responsável pela investigação de acidentes aéreos] e clientes [do 737 Max], a Boeing apoia a interdição temporária das operações” com os modelos em causa.
Shutdown do governo atrasou intervenção
Tal como o PÚBLICO já explicou, o que está em causa é o funcionamento de um mecanismo novo colocado no Max 8 e no Max 9, chamado MCAS, e a boa preparação dos pilotos para lidar com a actuação desta tecnologia.
O relatório ao acidente com o Lion Air 610 na Indonésia revelou que o MCAS funcionou indevidamente, alimentado por dados errados, o que levou o maior cliente do 737 Max, a companhia Southwest a exigir mudanças ao fabricante, que entregou 370 aeronaves deste modelo e tinha quase 5000 ainda em carteira.
Essas mudanças, segundo confirmaria a Boeing no comunicado do dia 11, estavam a ser preparadas “há algumas semanas”, mas não chegaram a tempo de salvar o voo ET 302, que caiu nos arredores de Addis-Abeba.
E agora há fontes de Washington, citadas pelo Wall Street Journal, a garantir que parte desse atraso deve-se a diferenças de opiniões técnicas entre a FAA e a Boeing, mas também à paralisação (shutdown) do Governo federal. Um factor que, segundo as mesmas fontes, atrasou a introdução de melhorias nos 737 Max em cinco semanas, noticia o Wall Street Journal.