Um minuto de silêncio: é só isto que somos capazes de dar?

Em 2019, 12 mulheres já foram assassinadas vítimas de violências doméstica. Quantas mais vivem este pesadelo no meio do silêncio?

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Manuel Roberto

Apenas 66 dias se passaram desde o início do ano e já são 12 as vítimas mortais por violência doméstica, exactamente metade em relação a 2018 (24 vítimas mortais). São, sem dúvida, números preocupantes. Estamos no terceiro mês do ano e os políticos decidiram agir ao implementar um dia de luto nacional e o cumprimento de um minuto de silêncio pelas vítimas. Mas para quê mais um minuto de silêncio se as vítimas passaram a maior parte das suas vidas em silêncio? Não é mais silêncio que elas precisam, é necessário que alguém grite por elas, são precisos actos e respostas rápidas. Respeito, segurança e liberdade são valores já desconhecidos por estas mulheres e que todos se devem esforçar para que sejam novamente implementados. Sim, todos. A sociedade deve unir forças para terminar com este crime que assombra tantas casas; nestes casos entre marido e mulher todos devem meter a colher.

Para que servem estes dias de luto ou homenagens se não para apaziguar o flagelo que o nosso país está a atravessar? O minuto de silêncio que foi celebrado é mais do mesmo e molda-se ao que tem sido feito até ao momento: silenciar as vítimas. Chega! Não são estas as medidas que devem ser tomadas para contrariar a violência doméstica. Mas não são só as mulheres que sofrem. Apesar de ainda ser um assunto muito pouco mencionado, também existem homens violentados.

Além da implementação de medidas para a protecção das vítimas, é importante consciencializar a população a não fazer tanta separação dos direitos de ambos os sexos para que, futuramente, mais homens se sintam à vontade para apoiar esta causa e se fazerem ouvir. Porque, apesar de a luta ser maioritariamente das mulheres, é importante esclarecer que não precisam de lutar sozinhas. Porque, enquanto o Governo responder apenas com homenagens, flores e palavras bonitas, é crucial que a sociedade se una, esqueça as diferenças e faça algo para acabar com este crime ou para que, no mínimo, os agressores sejam punidos.

Parece que recuamos no tempo, na altura em que a violência era aceitável e muitas vezes recomendada. Os inocentes continuam a viver em silêncio, os que podem denunciar fazem-se de surdos e os que podem fazer justiça fazem-se de ignorantes. E enquanto se demora a tomar decisões, vítimas vão morrendo ao mesmo tempo que algumas mentes dizem “Lá deve ter tido as suas razões”, tal como antigamente. Parece que a idade da razão peca por ser tão tardia — e acaba por ser mortal.

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