Aí está o Model 3 a 35 mil dólares. Tesla acaba com as lojas
Modelo mais barato chegará à Europa dentro meio ano, diz Elon Musk, que fecha as lojas para cortar custos: quem quiser um Tesla vai ter de o comprar online.
Dois anos depois de prometer um carro eléctrico mais barato para as massas, a Tesla anuncia o lançamento do Model 3 a 35 mil dólares (quase 31 mil euros). Mas este compromisso de Elon Musk chega ao mercado dos EUA com três contrapartidas: a versão low cost tem menos autonomia e um interior mais despojado do que o Model 3 que tem sido vendido e chegou à Europa em Fevereiro; a empresa fecha a rede de lojas e passa a vender carros apenas online, para voltar a cortar custos; e a promessa de lucros no primeiro trimestre de 2019 já foi por água abaixo.
Em Portugal, a Tesla tem uma loja em Lisboa e um espaço em Vila Nova de Gaia, num dos pisos do El Corte Inglés. Questionada pelo PÚBLICO sobre o futuro destes espaços, a empresa disse não ter mais informações a dar neste momento. Segundo Musk, a versão low cost do Model 3 chegará à Europa "dentro de seis meses" – mas não ao mesmo preço.
"O Model 3 base estará disponível na Europa em mais ou menos seis meses, e na Ásia dentro de seis a oito meses", escreveu o CEO da Tesla no Twitter, alertando que, devido à fiscalidade e aos direitos aduaneiros sobre produtos importados deverá elevar "em 25% ou mais" o preço a praticar nos EUA. O que situaria a versão mais barata deste carro nos 43.750 dólares (ou 38.429 euros, à taxa de câmbio deste dia).
As novidades (boas e más) foram anunciadas na última noite. "Transferir todas as vendas para o online, em conjugação com outras medidas de eficiência de custos, permite-nos baixar o preço de todos os nossos modelos em 6%, em média, e chegar ao Model 3 a 35 mil dólares mais cedo do que esperávamos", afirma a Tesla, num comunicado publicado na quinta-feira (madrugada de sexta em Portugal).
Quem comprar o carro até Junho ainda pode ver baixar ainda mais o preço desta nova versão do Model 3, que terá uma autonomia de 354 quilómetros, porque ainda beneficia de um crédito fiscal para veículos eléctricos da Tesla no valor de 3750 dólares (3297 euros). O Governo de Washington pôs fim a este crédito em Janeiro, de forma faseada, porque a Tesla já vendeu 200 mil carros eléctricos. A partir de Julho, quem compra carro eléctrico a esta empresa nos EUA já só terá um crédito de 1875 dólares (1649 euros). No caso da GM, que terá chegado em Novembro de 2018 ao limite dos 200 mil eléctricos vendidos, o crédito fiscal reduz para 3750 dólares a 1 de Abril, e para os mesmos 3750 dólares a 1 de Outubro.
Além do modelo a 35 mil dólares, o fabricante que no mercado doméstico mais carros vendeu no segmento premium em 2018 introduz outra versão, a 37 mil dólares (32528 euros; antes do crédito fiscal), com uma autonomia ligeiramente superior (386 km) à do "irmão" mais barato, mas com a vantagem de manter no interior algumas das características premium dos modelos de luxo da marca.
A autonomia máxima dos dois modelos postos à venda em Portugal varia entre os 544 km (60.200 euros de preço base) e 530 km (preço base de 71.300 euros).
Para poder ter esta oferta no mercado, a empresa precisa, no entanto, de voltar a cortar custos, salientou Elon Musk, durante uma conversa com jornalistas norte-americanos. Depois de dois despedimentos colectivos em 2018, a empresa fecha as lojas, dispensando a maioria das pessoas que trabalhavam nessa rede, e transfere toda venda para o online. "Não há outra forma de obter as poupanças de que necessitamos", garantiu o CEO da empresa, citado pela Bloomberg.
Promessa de melhor serviço pós-venda
Alguns dos 130 espaços que detinha deverão funcionar como showrooms ou oficinas de assistência, com a Tesla a prometer melhorar o serviço pós-venda ao cliente. "Além disso, garantimos disponibilidade de serviço em todos os países em que estamos presentes", lê-se no comunicado da Tesla.
Mas quem quiser comprar qualquer modelo, terá mesmo de o fazer pela Internet.
Quanto ao desempenho financeiro, e após dois trimestres consecutivos de lucros, Elon Musk antevê que a promessa de não torrar mais dinheiro terá de ser adiada. "Tendo em conta tudo o que estamos a fazer neste trimestre, todos os encargos excepcionais que temos e os desafios que enfrentamos para colocar os nossos carros na Europa e na China, não esperamos ter lucro no primeiro trimestre de 2019", disse Musk aos jornalistas.
O fabricante, que devolveu às marcas americanas a liderança nas vendas nos EUA dentro do segmento premium, arrancou com a construção de uma fábrica em Xangai. "Mas pensamos que é provável voltarmos a ser rentáveis no trimestre seguinte", acrescentou.
Empréstimo vence nesta sexta
A empresa tem de pagar nesta sexta-feira um empréstimo feito com obrigações convertíveis no valor de 920 milhões de dólares (808 milhões de euros). É o maior pagamento na história da empresa, que tem liquidez suficiente graças ao segundo semestre positivo de 2018, com mais de 3000 milhões de dólares (2600 milhões de euros) em caixa.
As obrigações seriam convertíveis em acções caso o preço médio ponderado pelo volume das acções fosse de 359,87 dólares (316 euros). Acontece que a cotação da Tesla já andava longe disso – e as novidades agora anunciadas mataram qualquer esperança de quem pensava converter os títulos em acções, porque o mercado reagiu negativamente.
Depois de abrir o dia nos 318 dólares (quase 280 euros), as acções subiram até aos 323 dólares (284 euros), mas depois das 16h (hora da Costa oeste dos EUA), com o anúncio de Musk, tombaram para os 310 dólares (273 euros).