Cardeal George Pell condenado por abuso sexual de menores

Esta é a mais alta figura da Igreja Católica considerada culpada por abusar de crianças. Chegou a tesoureiro do Vaticano com o Papa Francisco. Pena será divulgada no início de Março.

Foto
O cardeal George Pell está afastado do Vaticano desde 2017 DANIEL POCKETT /EPA

Um tribunal australiano considerou o cardeal George Pell, tesoureiro do Vaticano e ex-conselheiro do Papa Francisco, culpado de cinco crimes sexuais contra dois rapazes de 13 anos cometidos há mais de duas décadas. O Vaticano vai esperar a conclusão do processo de recuso antes de tomar qualquer decisão sobre Pell. “Reiteramos o nosso maior respeito pela justiça australiana”, declarou Alessandro Gisotti, porta-voz para a imprensa do Vaticano.

Pell, cujo mandato como tesoureiro papal terminou no domingo, é a mais alta figura da hierarquia do Vaticano a ser condenada por abusos sexuais. Num julgamento por júri no Tribunal Regional de Vitoria, em Melbourne, Pell foi considerado culpado, a 11 de Dezembro do ano passado, mas a decisão só foi divulgada esta terça-feira, após o levantamento de uma ordem de suspensão do caso, enquanto se aguardava o resultado de um outro julgamento de Pell, do qual entretanto a acusação desistiu.

Espera-se que a pena seja divulgada no início de Março.

O cardeal continua a declarar-se inocente das acusações, mas o Papa Francisco afastou-o do seu conselho consultivo em Dezembro.

Pell, que ocupa o topo da hierarquia católica na Austrália, foi considerado culpado de ter penetrado sexualmente uma criança com menos de 16 anos, e de outras quatro acusações de “acto indecente” com uma criança menor de 16 anos. Estas ofensas, relata o Guardian, remontam a Dezembro de 1996 e ao início de 1997, e aconteceram na Catedral de São Patrício, pouco tempo depois de Pell ter sido nomeado arcebispo de Melbourne.

Cada uma das cinco acusações pode conduzir a uma pena máxima de dez anos de prisão. A sentença deverá ser conhecida no início de Março. O veredicto foi divulgado quando a Igreja Católica tenta lidar com uma crescente crise de abusos sexuais em vários países.

O papa Francisco encerrou uma conferência sobre abuso sexual neste domingo, pedindo uma “batalha total” contra um crime que deveria ser “apagado da face da terra”. O Vaticano disse em Dezembro que o Papa excluiu o cardeal Pell do seu grupo de conselheiros próximos, sem no entanto fazer comentários sobre o julgamento.

Os advogados de Pell apresentaram um recurso contra o veredicto que, se tiver sucesso, poderá levar a um novo julgamento, diz a Reuters. “O cardeal sempre manteve que está inocente e continua a afirmá-lo”, comentou, fora do tribunal, o advogado Paul Galbally.

O padre Alessandro Gisotti, porta-voz do Vaticano, deu a conhecer restrições impostas a Pell desde que voltou à Austrália para se defender na justiça, em Junho de 2017. O Papa Francisco proibiu-o de dizer missa e de ter contacto com e menores “seja em que forma for”.

Pell, que ficou em licença indefinida em 2016 do cargo de ministro das Finanças do Vaticano para combater as acusações, não foi convocado para o julgamento. Em vez disso, foi apresentada ao júri uma gravação em vídeo de uma entrevista feita pela polícia australiana, realizada em Roma em Outubro de 2016, em que negou veementemente as alegações.​

O júri também recebeu uma gravação em vídeo, visionada à porta fechada, do depoimento da vítima sobrevivente – um dos rapazes morreu em 2014. A vítima pediu que fosse mantido no anonimato, e que a sua privacidade fosse respeitada. “Como muitos sobreviventes, senti vergonha, solidão, depressão e dificuldades. Como muitos sobreviventes, levei anos a compreender o impacto que esta experiência teve na minha vida”, disse o homem que era um menino do coro quando sofreu abusos de Pell, através de um depoimento enviado pela sua representante legal, Vivian Waller.