Só May ainda acredita num acordo para o “Brexit” antes de 29 de Março

Nas actuais circunstâncias, o adiamento da saída e o prolongamento das negociações é a "solução racional", defende o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

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"A extensão do prazo é a solução racional", disse Tusk a May Francisco Seco/EPA

Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia, mais do que acostumados a mascarar diferenças e forjar consensos de última hora, já começam a desesperar seriamente com a relutância da primeira-ministra britânica, Theresa May, em afastar a hipótese de uma saída sem acordo que, a quatro semanas do “Brexit”, parece ser um desfecho muito mais provável do que a aprovação do tratado jurídico de 585 páginas negociado entre Londres e Bruxelas.

“Para mim, é absolutamente evidente que não existe uma maioria na Câmara dos Comuns para aprovar o acordo [de saída]. As alternativas que temos pela frente são um “Brexit” caótico ou uma extensão [do prazo para a aplicação do artigo 50 do tratado europeu]”, enumerou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. Apontou a saída mais óbvia para o impasse político em Londres: “Na presente situação, penso que a extensão é a solução racional. Mas a primeira-ministra May ainda acredita que é capaz de evitar este cenário”, acrescentou o líder europeu, que depois de agitar a política britânica ao referir-se a um “lugar especial no inferno” destinado aos chamados “Brexiteers”, usou um tom monocórdico para tentar ser mais conciliatório.

Tusk falou esta segunda-feira em Sharm El-Sheik, onde quase todos os chefes de Estado e Governo da UE participaram na primeira cimeira europeia com a Liga Árabe. Antes do evento, o gabinete de Tusk garantia que não haveria nenhum “acordo no deserto”, até porque não era para resolver o imbróglio do “Brexit” que os líderes viajavam para o Egipto. Mas o conclave acabou por ser uma oportunidade para os aliados de Theresa May na UE aplicarem ainda mais pressão sobre a primeira-ministra, confrontando-a explicitamente com a escolha entre o cenário de “no deal” versus o prolongamento do prazo para o “Brexit”.

“Quanto menos tempo temos até ao dia 29 de Março, maior é a probabilidade de uma extensão”, observou o presidente do Conselho, referindo-se à data em que, pela aplicação automática da lei, o Reino Unido deixará de pertencer à União Europeia. “Este é um facto objectivo: não é a nossa intenção, não é o nosso plano, é um facto objectivo”, repetiu.

Um após o outro, os líderes europeus sugeriram a May que pedisse uma extensão do prazo para evitar a queda no precipício a 29 de Março. Com o dia D a aproximar-se rapidamente, nem foi bem uma sugestão, foi quase uma ordem. “Isto é totalmente inaceitável”, lamentou o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, que comparou o Governo britânico a um sonâmbulo que avança para o perigo enquanto os deputados aguardam impávidos o desastre iminente. “Francamente, já chega. O Reino Unido ainda nem sequer acertou a sua posição negocial. Acordem, cheguem a uma conclusão e fechem este acordo depressa”, aconselhou, em declarações à BBC.

Mas como sempre, o que os europeus disseram não foi o que Theresa May ouviu. “O que retirei de todas as conversas foi uma grande determinação para encontrar um caminho que permita ao Reino Unido deixar a União Europeia de forma suave e organizada. E acredito que está ao nosso alcance sair, com um acordo fechado, na data prevista de 29 de Março”, acrescentou. É verdade que há oásis no deserto — mas para já, o "Brexit" de May é só uma miragem. 

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