Corbyn apoia um segundo referendo sobre o "Brexit"

May tenta ultrapassar rebelião no Governo que lhe tiraria controlo do calendário do saída da UE, enquanto tenta renegociar o mecanismo do backstop e enfrenta rebelião no Governo.

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Jeremy Corbyn não tinha, até agora, aceite apoiar um segundo referendo,Jeremy Corbyn não tinha, até agora, aceite apoiar um segundo referendo VICKIE FLORES/EPA,VICKIE FLORES/EPA
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Theresa May com Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, em Sharm el Sheik Francisco Seco/EPA

Jeremy Corbyn anunciou que apoia a realização de um segundo referendo sobre o “Brexit”, para evitar o que classifica como um “’Brexit’ tory danoso”. O primeiro passo será dar todo o apoio à proposta apresentada pela deputada trabalhista Yvette Cooper e pelo conservador Oliver Letwin, que mais de 20 membros do Governo de Theresa May dizem que vão apoiar, que dará ao Parlamento os poderes legais para forçar a primeira-ministra a pedir uma extensão do prazo do “Brexit”. A proposta é votada amanhã.

Corbyn diz que vai tentar obrigar May a adoptar a abordagem com cinco pontos do Partido Trabalhista em relação ao “Brexit”, apresentando amanhã uma emenda à moção do Governo, que inclui items como “uma união aduaneira permanente e abrangente com a União Europeia” — o que os eurocépticos mais radicais jamais aceitarão. E além de anunciar o apoio à proposta Cooper

Letwin, vai apresentar outra proposta, a favor de “uma votação pública (outro referendo), diz o Guardian.

“A primeira-ministra está imprudentemente a fazer esgotar o prazo, numa tentativa de forçar os deputados a escolher entre o seu plano chumbado e a desastrosa saída sem acordo”, disse Corbyn. “Não podemos, e não vamos aceitar isto”.

Vários ministros e secretários de Estado ameaçam votar amanhã pela proposta Cooper/Letwin, que obriga May a pedir uma extensão do prazo do “Brexit”, para que o Reino Unido não se veja forçado a sair da União Europeia sem um acordo. Como primeiro passo, esta proposta pretende forçar o Governo a permitir que seja discutida uma lei no plenário; se for aprovada, criaria novas salvaguardas para evitar que o Reino Unido saia da UE sem um acordo comercial, explica a Reuters. Não travaria ou adiaria automaticamente o “Brexit”, mas forçaria o Governo a encaminhar-se numa determinada direcção.

As salvaguardas exigiriam que, se não houvesse acordo até meados de Março, May teria de apresentar uma moção no Parlamento com um plano para avançar com uma saída da UE sem acordo, a 29 de Março (a data prevista para o “Brexit”) ou então outro plano para prolongar as negociações, dizendo por quanto tempo, diz a Reuters, que se informou junto do gabinete de Yvette Cooper. Se May quisesse mesmo avançar para a saída da UE sem acordo, teria de ganhar a maioria no Parlamento. E se o Parlamento concordasse em procurar uma extensão do prazo, então a primeira-ministra teria de a negociar com a União Europeia.

Já a governante britânica está a apoiar uma outra proposta, que será apresentada por deputados do seu partido que não a constrangeria com a força da lei, permitindo-lhe atrasar o “Brexit” apenas por dois meses.

Introduzida por dois deputados conservadores, Andrew Percy e Simon Hart, não tem força de lei, e apenas aconselha o Governo a promover um debate parlamentar sobre a possibilidade de pedir uma extensão do período de negociações com a UE se May não conseguir um acordo até 13 de Março. Para 12 de Março, um dia antes, Theresa May marcou a votação definitiva do acordo de saída, que tem esperança de conseguir rever até essa data.

Levanta-se também a hipótese de Theresa May pedir aos deputados que votem no dia 12 sobre um outro acordo, ao qual a UE ainda não deu o seu assentimento.

As três propostas (Cooper/Letwin, Percy/Hart e a de Corbyn), vão amanhã a votos em Westminster. 

Mais um discurso

May quer manter a ameaça de uma saída sem acordo como um argumento negocial.

Nesse sentido, e ainda antes da votação que pesa sobre os passos futuros do seu Governo, Theresa May faz hoje um discurso no Parlamento, e depois há nova viagem a Bruxelas. Tenta por tudo obter da Comissão Europeia concessões para demonstrar que conseguiu alterar as disposições relativas ao backstop — o mecanismo de salvaguarda que prevê a manutenção do Reino Unido numa união aduaneira temporária, para evitar a reposição de controlos alfandegários na ilha da Irlanda, se no final do período de transição do “Brexit” não existir ainda um novo acordo de livre comércio entre a UE e o Reino Unido.

May sempre recusou adiamentos — ainda ontem afirmou que um adiamento da data do “Brexit” não resolve nenhuma das questões que têm travado um acordo no Parlamento britânico. “Uma extensão do artigo 50, um adiamento do processo, não nos dá uma decisão no Parlamento, nem um acordo”, afirmou.

Apesar de estar a oferecer aos mais de 20 membros do Governo revoltosos um adiamento de dois meses, o que para ela é já uma humilhação, é pouco provável que a oferta seja aceite. “Não sei onde é que ela vai estar no fim desta semana. Já não tem mais saídas”, disse uma fonte do Governo britânico, não identificada, citada pela Bloomberg.

O que querem os britânicos?

Fontes da União Europeia citadas pelo Guardian disseram que Bruxelas só aceitaria um adiamento por um mínimo de 21 meses. A posição oficial da UE, tal como repetida pelo negociador para o “Brexit”, Michel Barnier, é de que Londres tem de explicar exactamente para que precisa de prolongar o prazo das conversações: só depois de saberem o que os britânicos pretendem é que os líderes europeus poderão decidir quanto tempo mais estão dispostos a conceder.

David Davis, o ex-ministro do “Brexit”, que chegou a ser o favorito de Theresa May mas saiu do Governo no Verão passado, em desacordo com o rumo traçado pela primeira-ministra para a saída do Reino Unido da União Europeia, deu uma entrevista à revista de moda Tatler.

O mais interessante, mesmo no fim da entrevista, é a resposta que dá quando lhe perguntam sobre a possibilidade de Theresa May conseguir aguentar-se como primeira-ministra mais um ano. “Não faço ideia. Talvez.”

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