EUA pedem aos aliados que congelem activos da petrolífera venezuelana
O vice-presidente dos EUA que está em Bogotá na reunião do Grupo de Lima, anunciou mais sanções contra altos responsáveis na Venezuela. China critica uso político da ajuda humanitária. Balanço de sábado em 25 mortos.
Depois da escalada na retórica, a aliança de países do continente americano que quer Nicolás Maduro fora do poder na Venezuela e o fim do regime socialista bolivariano, baixou o tom. Na reunião desta segunda-feira do Grupo de Lima, em Bogotá, capital da Colômbia, ninguém mencionou sequer a intervenção militar de que falou, no fim-de-semana, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. O enviado de Washington, o vice-presidente Mike Pence, falou sim em sanções — e enunciou-as.
Pence anunciou que a Administração Trump vai congelar os activos nos EUA dos governadores de quatro estados venezuelanos, Apure, Vargas, Carabobo e Zulia, por terem impedido a entrada de ajuda humanitária no país, no sábado. Mas pediu aos aliados regionais para fecharem ainda mais o cerco a Caracas — como já fizeram Canadá, Panamá e Colômbia, que congelaram activos de altos dirigentes militares venezuelanos — e a retirarem o que resta das receitas de Maduro, conseguidas com o petróleo.
“Peço que congelem de imediato os activos de funcionários e que transfiram a propriedade dos activos dos lacaios de Maduro para o governo do presidente Guaidó”, disse Pence na reunião. “E peço às nações do Grupo de Lima que congelem os activos da petrolífera nacional venezuelana”.
O Grupo de Lima é constituído por 13 países da América Latina e do Sul e pelo Canadá, e foi criado em 2017, para impulsionar mudanças na Venezuela, quando a crise social, económica e política se avolumou, depois de a oposição ter organizado manifestações contra o Governo que foram reprimidas — alguns líderes da oposição foram presos, outros fugiram do país. Os EUA não pertencem ao grupo.
“Nos próximos dias os Estados Unidos vão anunciar sanções ainda mais pesadas contra a rede financeira corrupta deste regime”, disse Pence. “Vamos trabalhar com todos vós para encontrar até ao último dólar que eles roubaram e devolvê-lo à Venezuela”, disse o vice-presidente americano.
Esta segunda-feira, o Governo alemão também defendeu a aplicação de sanções à Venezuela, a Nicolás Maduro e ao seu círculo próximo. “Estamos a favor das sanções a Maduro e aos seus próximos que pioraram a vida dos venezuelanos”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, Maria Adebahr, citada pela Reuters. Quando à União Europeia, que reconheceu Guaidó e apela a uma resolução pacífica do conflito entre os dois presidentes, apenas apelou à realização de eleições.
Mike Pence fez uma intervenção muito direccionada para os países da América Latina e do Sul, onde há países que apoiam Maduro — Cuba, Bolívia e Equador; o México tem mantido uma posição de alguma neutralidade. Mas abarcou nas suas palavras também outros aliados de Caracas, como a Rússia. “Os que apoiam este regime só conseguirão ficar mais isolados no mundo”, disse Pence, que classificou a Colômbia como o aliado mais importante dos EUA na América Latina — e quem diz a Colômbia diz o seu Presidente, Iván Duque, que com o chefe de Estado brasileiro Jair Bolsonaro tem estado na linha da frente na pressão para derrubar o socialismo bolivariano instalado em Caracas.
Pence deixou um aviso claro de que Washington protegerá a Colômbia, se for preciso: “Qualquer ameaça à sua soberania e segurança enfrentará a determinação dos EUA”.
Guaidó, que como notam os jornalistas do espanhol El País em Bogotá, só se deixou ver fora da reunião com Mike Pence e outro enviado de Trump, agradeceu o apoio. E atacou Maduro e os seus aliados, dentro e fora da Venezuela. “Tentaram vender um falso dilema, que diz que este é um problema ideológico. Este é um problema de direitos fundamentais da democracia. Quando não há liberdade de expressão, quando não se defendem as liberdades sindicais ou a justiça social, não há componentes ideológicos”.
“A transição na Venezuela é um facto. Hoje em dia os grupos armados ilegais bloqueiam essa transição. Sem essas armas, teríamos uma transição pacífica”, disse o Presidente interino reconhecido por mais de 50 países, entre eles o bloco europeu que considerou que tem legitimidade para marcar eleições na Venezuela.
O Grupo de Lima passou agora a pressão internacional para o Conselho de Segurança da ONU. Washington pediu uma reunião de urgência para esta terça-feira, disseram fontes diplomáticas à Reuters. Porém, a Rússia e a China têm poder de veto neste órgão.
A reunião do Grupo de Lima foi marcada na sequência dos acontecimentos de sábado, quando Guaidó montou uma operação para a entrada da ajuda humanitária enviada pelo Brasil e EUA na Venezuela. Pouca ajuda entrou num país com as fronteiras fechadas (caso da Colômbia) e bloqueadas por um pesado aparato militar e policial.
A operação da ajuda humanitária, serviu sobretudo de arma política à oposição venezuelana, o que a China contestou nesta segunda-feira. “Voltamos a pedir ao Governo e à oposição na Venezuela que procurem uma solução política no quadro da lei e da Constituição, e apelamos à comunidade internacional para que faça mais em benefício da estabilidade da Venezuela e do seu desenvolvimento económico e social”, para além da “chamada ‘ajuda humanitária’ com objectivos políticos”, disse em Pequim um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A operação de sábado teve um resultado pesado. O presidente da câmara de Santa Elena de Uairén, na fronteira com o estado brasileiro de Roraima, Emilio González, anunciou que no confronto entre os que tentavam fazer entrar a ajuda e os militares fiéis do regime, morreram 25 pessoas e não quatro. Na Colômbia, na zona de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela, 285 pessoas ficaram feridas.