A cimeira é histórica, mas o encontro entre a UE e a Liga Árabe ficará aquém das expectativas

Por constrangimentos internos e divergências diplomáticas, vários líderes preferiram ficar em casa a viajar até Sharm el-Sheikh.

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A cimeira UE/LIga Árabe: um começo que não é bem um começo KHALED ELFIQI /EPA

A primeira cimeira entre a União Europeia e a Liga Árabe, que arranca este domingo na estância egípcia de Sharm el-Sheikh, não conta com a presença de todos os chefes de Estado e governo dos dois lados do mar Mediterrâneo; não tem uma agenda fechada para os debates nas sessões de trabalho, e, ao contrário do que é costume, pode encerrar sem a assinatura de uma declaração conjunta final dos seus participantes.

Mesmo assim, um responsável europeu classificou a iniciativa como um “momento histórico” de aproximação entre os dois blocos, e uma “oportunidade” para o aprofundamento da sua aliança. “Para construir uma parceria temos sempre de começar nalgum lado”, justificou, acrescentando logo de seguida que não se trata bem de um “começo”, uma vez que “já há uma boa colaboração e muito trabalho conjunto”. “A palavra-chave é empenho”, frisou, comparando o interesse europeu no diálogo com os vizinhos árabes de África e do Médio Oriente com o “desengajamento” de outras potências (leia-se, os Estados Unidos).

Como salienta a comunicação de lançamento da cimeira, os 49 Estados que compõem as duas regiões correspondem a 12% da população mundial: entre os desafios comuns que enfrentam estão as questões ligadas à demografia, educação, economia, energia ou ambiente, enumerou o mesmo responsável.

Nesse mesmo espaço, concedeu, uma série de crises e conflitos exigem soluções de natureza política, assentes no respeito pela ordem jurídica internacional e na jurisdição multilateral — as respectivas visões sobre a Líbia, a Síria, o Irão, ou o Iémen não são inteiramente coincidentes, embora por exemplo em relação ao conflito israelo-palestiniano as duas organizações partilhem a solução de dois Estados a conviver com Jerusalém como capital.

Por pressão da agenda política doméstica ou para prevenir incidentes diplomáticos, líderes europeus como o Presidente de França, Emmanuel Macron, ou o presidente do Governo espanhol, Pedro Sanchéz, estarão ausentes do encontro no Egipto. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, só confirmou à ultima hora a sua participação, arrastando com ela vários governantes cujos planos de viagem estavam ainda em aberto.

O "Brexit" intromete-se

Para Sharm-el-Sheikh, está marcado um encontro bilateral entre Merkel e a primeira-ministra britânica, Theresa May, que também agendou uma conversa a sós com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, para antes da abertura da cimeira. Esta semana, a líder conservadora corre o risco de perder uma nova votação do “Brexit” na Câmara dos Comuns, mas como garantiu uma fonte do Conselho, “não haverá qualquer sessão [paralela] sobre o ‘Brexit’” e muito menos “nenhum acordo no deserto” que permita ultrapassar o impasse em que se encontra o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.

No lado árabe, faltam ao encontro na chamada “pérola do Mar Vermelho” o veterano Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional de Haia, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, suspeito de estar por detrás do brutal assassínio do jornalista Jamal Khashoggi. De fora está ainda o Presidente da Síria, Bashar al-Assad, uma vez que o sei país está suspenso da Liga Árabe desde 2011.

Tendo em conta a fase delicada e sensível que atravessam as relações bilaterais entre vários países europeus e árabes, era inevitável que as expectativas saíssem goradas em termos da ambição que esteve origem na organização da cimeira. No final do Verão passado, quando os líderes acertaram o conclave, as atenções estavam concentradas nas questões migratórias. Os líderes europeus falavam, nessa altura, na hipótese de instalarem “centros controlados” para o acolher e processar pedidos de asilo e plataformas de desembarque regionais para conter o movimento no Mediterrâneo. Mas com a aproximação das eleições europeias, e o firme bloqueio da Hungria a qualquer iniciativa que tenha a ver com refugiados, o tópico foi perdendo importância como prioridade.

Aparentemente, o que tanto os europeus como os árabes estão mais interessados em discutir em Sharm el-Sheikh são questões relacionadas com o comércio e o investimento e o desenvolvimento sócio-económico. A convocatória aponta para as “possibilidades de cooperação” entre os dois blocos nas áreas da ciência e inovação, digital e tecnologia, agricultura e pescas e no turismo. 

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