Repetitivos, longos e positivos. Assim são os discursos dos Óscares

A análise do PÚBLICO aos discursos de agradecimento em cerca de 70 cerimónias de entregas dos Óscares mostra, sobretudo, que se repetem. E muito.

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A 91.ª cerimónia dos Óscares acontece na madrugada de domingo para segunda LUCY NICHOLSON

Todos os anos, o ritual repete-se. Os vencedores da estatueta dourada sobem ao palco à vez e, perante os seus pares e com ordem para não falarem mais do que 45 segundos (que nem sempre é cumprida), agradecem à esposa, aos amigos, ao pai, à mãe, a Deus… Falam de coragem, esforço, gratidão, orgulho, sonhos e sorte. O PÚBLICO analisou os discursos da maioria das cerimónias dos Óscares desde 1939 (não há dados para 1941, 1944, 1945 e 1946) e há três conclusões: repetem-se muito, utilizam palavras maioritariamente positivas e são cada vez mais longos.

"Academia", "esta noite", "pessoas", "amor", "prémio", "honra" e "esposa" estão entre as palavras mais repetidas ao longo dos anos. Pelo meio também há muitos nomes próprios ditos inúmeras vezes entre os agradecimentos — John, David e Michael são alguns exemplos. Os discursos de aceitação dos Óscares de Melhor Filme e Melhor Realizador não fogem muito a esta tendência.

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Quando se trata das melhores actrizes e actores distinguidos, há diferenças. Também falam da Academia, de amor e da maravilha que é receber o prémio. Mas os homens referem mais "Deus" e o "pai", enquanto “família” e “feliz” estão entre as dez palavras mais usadas pelas mulheres.

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Outro aspecto que é possível concluir através da análise dos sentimentos associados às palavras usadas durante mais de 70 anos de discursos: são positivos. A frequência de palavras como "amor", "maravilhoso", "honra", "apoio", "gratidão" — que estão associadas a sentimentos positivos — é cinco vezes superior à utilização de expressões conotadas com emoções negativas. 

Discursos mais longos (ou pelo menos mais palavrosos)

A simples contagem do número de palavras utilizadas em cada discurso também permite concluir que estão cada vez mais longos. Entre as décadas de 1940 e 1960 os agradecimentos não ultrapassavam, em média, as 100 palavras. Foram crescendo e entre 2010 e 2017 já vão além das 200.

Clima e nativos americanos

Alguns também aproveitam o palco dos Óscares para dizer mais do que obrigado. A palavra "clima" — no contexto de alterações climáticas — foi utilizada duas vezes: por Al Gore, quando o filme Uma Verdade Inconveniente, foi distinguido como Melhor Documentário, em 2007, e por Leonardo DiCaprio, quando em 2016 venceu o Óscar de Melhor Actor pela sua prestação em The Revenant: O Renascido.

Outra raridade são as referências a nativos americanos. Mesmo assim, o único discurso em que isto foi feito tem por trás um interlocutor de peso. Em 1973, Marlon Brando foi distinguido como Melhor Actor pela sua actuação em O Padrinho. Não foi até ao Dorothy Chandler Pavilion, em Los Angeles, onde a cerimónia desse ano se realizou, mas mandou Sacheen Littlefeather, uma mulher Apache, com uma mensagem contra o “tratamento dos nativos americanos pela indústria do cinema”.

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