Rangel na fronteira com a Venezuela: “Há um entusiasmo colossal, mas facilmente pode degenerar”

O eurodeputado português está em Cúcuta, a cidade colombiana que tem a principal fronteira com a Venezuela, onde se aguarda também a chegada de Juan Guaidó para tentar fazer entrar no país a ajuda humanitária.

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Paulo Rangel encontrou-se com Juan Guaidó nos bastidores do Aid Live DR
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Paulo Rangel encontrou-se com Juan Guaidó nos bastidores do Aid Live DR
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O concerto Venezuela Live Aid atraiu milhares de pessoas a Cúcuta LUSA/Mauricio Duenas Castaneda

“É um sentimento impressionante: ver tantos venezuelanos em desespero falarem tão cheios de esperança, depositando uma confiança em nós a que não poderemos nunca corresponder é simplesmente avassalador. E injusto. Humanamente injusto”. A frase que Paulo Rangel escreveu no Twitter pouco depois de ter chegado a Cúcuta, a cidade colombiana que se tornou esta sexta-feira o palco da oposição a Nicolás Maduro, é o resumo da “experiência única” que está a viver.

O eurodeputado português integra uma delegação do Partido Popular Europeu que viajou na quinta-feira para a Colômbia, e que é composta por González Pons, também vice-presidente daquele grupo do Parlamento Europeu, e outros dois eurodeputados espanhóis. Depois de menos de 24 horas em Bogotá, onde se reuniu com o Presidente da Colômbia, Iván Duque, num encontro em que esteve também o irmão de Juan Guaidó, a delegação seguiu para Cúcuta.

É ali que, por estes dias, todos os esforços se concentram para pressionar o regime de Maduro. “A cidade está caótica por causa da afluência impressionante de pessoas – só para o concerto Venezuela Live Aid vieram mais de 100 mil pessoas, além dos milhares de venezuelanos que têm estado a chegar para distribuir a ajuda humanitária, a pedido de Juan Guaidó, e dos milhares de refugiados que já cá estavam e já tinham mudado o ambiente da cidade”, conta ao PÚBLICO Paulo Rangel. Apesar de toda a confusão, o eurodeputado ficou surpreendido com a calma ali vivida: “Não há militares nem polícias em peso na rua, como vimos em Bogotá. É como se não houvesse venezuelanos cá dentro nem Venezuela aqui ao lado”.

O aeroporto de Cúcuta tornou-se, por isso, um ponto nevrálgico, “com muitos jactos privados” de pessoas que vieram para o concerto organizado por Richard Branson, o empresário britânico dono da Virgin, e muitos venezuelanos a dar as boas-vindas a quem chega. No avião, com a delegação do PPE viajaram os embaixadores da Argentina e do Perú em Bogotá, que disseram ter a informação que Juan Guaidó já teria atravessado a fronteira e já estaria na zona de Cúcuta para acompanhar a missão humanitária que vai tentar entrar na Venezuela no sábado.

Muito entusiasmo

“Fomos recebidos no aeroporto com muito entusiasmo, estava lá muita gente, sobretudo os venezuelanos que estão a responder ao apelo de Guaidó para virem ajudar a distribuir a ajuda humanitária”, conta Rangel. “Quando chegámos, toda a gente nos conhecia e vieram agradecer o apoio, foi impressionante, estou absolutamente impressionado com o poder das redes sociais, através das quais sabiam quem nós éramos”.

E o que lhes disseram? “As pessoas agradecem muito, pedem ajuda, gritam liberdade, dizem que a fronteira da democracia agora é a Venezuela, dizem que isto é o seu muro de Berlim. Chega a ser confrangedor para nós porque, afinal, vimos dar apoio mas não vamos resolver nenhum problema”, desabafa o eurodeputado.

E os riscos?

Na sua opinião, há um sentimento contraditório no ar que ele próprio experimentou: “Há um entusiasmo colossal, a esperança que os venezuelanos que aqui estão transmitem é enorme, mas não fazem nenhuma referência ao risco do que estão a viver, quando todos sabemos que é uma situação que pode facilmente degenerar numa coisa muito mais grave. Mesmo que as forças militares sejam responsáveis, pode sempre haver um incidente e depois pode haver uma escalada”, acrescenta, para rematar com uma confissão: “Nunca tinha vivido uma experiência assim”.

À hora em que Rangel falou connosco, cerca das 17 horas em Lisboa desta sexta-feira, a delegação do PPE estava a caminho de um campo de refugiados, perto da fronteira, sem segurança e sem saber onde iam pernoitar e comer: “Estava prevista segurança, mas não apareceu nenhuma e ainda não sabemos onde vamos ficar, porque não há hotéis, não há restaurantes, não há nada.”

Esta sexta-feira, a delegação do PPE ia ainda reunir-se com os Presidentes do Chile, Paraguai, Colômbia, e provavelmente da Argentina, e que ficarão no país para a reunião do grupo de contacto (que junta UE e países da América Latina) que se realiza na segunda-feira. Estavam também previstos contactos com organizações não-governamentais que dão apoio aos refugiados, com a Igreja Católica, com as missões da ONU e ainda iam passar pelo concerto solidário junto à fronteira por onde, no sábado, milhares de pessoas tentarão fazer entrar a ajuda humanitária.

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