António Jorge Pacheco: “A ideia seminal da Casa da Música foi tão visionária que ainda hoje é válida”
Dez anos passados sobre a sua indigitação para o cargo, o director artístico da Casa da Música assegura que continua a ter objectivos a cumprir. E defende que a instituição deve continuar a preservar o seu ADN, consubstanciado no trabalho dos grupos residentes.
O melómano, crítico e programador António Jorge Pacheco (n. Porto, 1960), que há dez anos pegou no projecto lançado uma década antes por Pedro Burmester, e ao qual esteve também ligado desde o início, continua a liderar uma instituição que está agora finalmente a caminho de recuperar o financiamento estatal estipulado por lei. O director artístico diz que a missão da Casa da Música continua a ser, prioritariamente, servir o seu público, oferecendo-lhe uma visão abrangente da história da música, mas sempre com uma atenção especial à criação contemporânea.
Completou agora vinte anos de ligação ao projecto da Casa da Música, por via da Porto 2001, e dez anos como director artístico. Disse, há cinco anos, que “o primeiro beijo parece que foi ontem”. Ainda vive com essa sensação? Não teve já vontade de experimentar novos desafios, ou há coisas que tem ainda por fazer na Casa?
Sinto algo muito parecido, embora esteja cinco anos mais velho. Enquanto eu me sentir motivado, com energia e paixão por aquilo que faço, e enquanto a Casa da Música entender que sou a pessoa indicada para cá estar, com a conjugação destas duas vontades …
E essa conjugação mantém-se?
Ela existe neste momento, e eu continuo a ter objectivos para atingir, que são sempre a excelência da interpretação da música, a excelência dos nossos agrupamentos. E como a excelência é um objectivo que se atinge no infinito, há sempre um trabalho que está por fazer.
Já recebeu convite de alguma instituição, em Portugal ou lá fora, até por via dos contactos regulares que tem enquanto membro de organismos europeus, como a rede Varèse e a ECHO (European Concert Hall Organization)?
Já recebi convites e já fui sondado para posições em instituições em Portugal, e para duas no estrangeiro…
Quais?
Não vou dizer, até porque seria indelicado para essas instituições.
Mas, passados estes anos todos, não sente a necessidade, até pessoal, de renovação em relação ao que a Casa da Música tem de fazer?
Isso é, para mim, o grande desafio; é o que me mantém alerta, entusiasmado: todos os anos, criar novas coisas, procurar novos reportórios. Como director artístico, sou um intermediário entre o público e os artistas, os compositores e as obras. O meu papel é dar a conhecer ao público aquilo que eles não conhecem e, não conhecendo, não sabem se gostam ou não. Um dos grandes méritos da Casa da Música ao longo destes anos foi conseguir – com a curiosidade e a aceitação do seu público – introduzir de uma forma perfeitamente normal e orgânica o reportório contemporâneo nas temporadas. Tenho a sorte de ter um público muito especial, e a programação de uma sala é feita no contexto do sítio em que se encontra. Não é a mesma coisa fazer programação artística no Porto ou fazê-la em Lisboa; ou em Paris ou em Londres – o contexto é diferente. O que conseguimos fazer aqui foi manter uma grande liberdade curatorial e proporcionar ao público do Porto e da região o acesso às novas obras dos grandes compositores vivos, ao mesmo tempo que as grandes salas de concerto europeias as dão a ouvir aos seus públicos.
Precisamente por falar dessa atenção à música contemporânea, às vezes ouvem-se críticas sobre a presença excessiva dessa área na programação da casa, desde logo pela sua ligação à criação do Remix Ensemble, o que resultaria em desfavor de outros géneros.
Não vejo as coisas assim. A missão da Casa da Música é proporcionar ao público uma visão do património da história da música há dez séculos, sensivelmente, até aos dias de hoje. Para isso, temos quatro agrupamentos residentes, que conseguem abordar esse reportório. Por exemplo, o agrupamento que tem um arco temporal mais abrangente é o Coro, que vai desde a música antiga (século XII) até praticamente o século XXI. E o que tem o espectro mais estreito, também pela sua especificidade, é o Remix Ensemble, que praticamente toca a música desde a primeira década do século XX até à actualidade.
Mas o Remix tem sido uma espécie de guarda avançada na afirmação internacional da Casa. Isso não resulta numa desvalorização de outras áreas?Não, e isso até se prova estatisticamente: se pegarem, por exemplo, no programa para este ano, verificarão que essa preponderância é mais aparente do que real. No programa só da Sinfónica, creio que o reportório contemporâneo, no sentido de compositores vivos, andará por volta dos 10 por cento, o que não me parece exagerado. E se a Casa da Música é reconhecida internacionalmente, deve-o muito à sua militância pela música dos nossos dias. Se ela se cingisse ao reportório museológico, se fosse um museu, não se distinguia de nenhuma outra instituição. De resto, não há nenhum dos compositores vivos dos mais relevantes que não tenha passado por cá. E eles acabam por ser os melhores embaixadores da Casa da Música.
Havia, no início, a ideia de que esta seria “a casa de todas as músicas”, mas, nomeadamente após os cortes no financiamento estatal, tornou-se mais difícil ter aqui programação fora do campo erudito: já se perderam apostas fortes, como o Clubbing…
O grande corte do Estado aconteceu em 2012, com menos 30 por cento no financiamento [dos 10 milhões/ano determinados no decreto-lei que instituiu a Casa da Música]. Em 2017, começou a reversão do corte, tal como estava no programa do actual Governo, e foi cumprido. Nessa altura, em 2014, foi-me colocada essa questão, e eu expliquei que, com essa redução drástica nos recursos para a programação, houve a opção – assumida pelo conselho de administração e também pelos fundadores – de que num momento de crise e de dificuldades havia que repensar a Casa da Música. Mas impunha-se também manter o essencial da sua missão, de forma que ela não perdesse o seu ADN, que são os seus grupos residentes. Houve várias áreas da música que nós fazíamos como programação própria para as quais tivemos que encontrar fórmulas – e encontrámo-las – de colmatar lacunas recorrendo a parcerias com promotores privados. Somos uma instituição privada com uma missão de serviço público. Não devemos competir em áreas que são normalmente cobertas por uma actividade que é comercial, de promotores que estão no mercado. O que justifica o financiamento do serviço público é, em primeiro lugar, que o financiamento reverta a favor do público. Se fizermos as contas para perceber, por exemplo, quanto custa um concerto da Orquestra Sinfónica, dividindo pelo número de lugares disponíveis na Sala Suggia, ia dar um preço próximo dos 70 euros, o que é incomportável para a maior parte da população. E nós somos uma casa aberta à sociedade e a todas as classes sociais; não queremos ser uma instituição para uma elite endinheirada do Porto e da região. A outra justificação é dar-nos a possibilidade de correr riscos.
A Casa da Música tem conhecido diferentes figurinos de organização e governo. O actual funciona bem ou vai precisar de mudanças?
Funciona bem. Houve uma mudança no modelo de governo em 2013, quando se demitiu o conselho de administração, que tinha um administrador-delegado, o Nuno Azevedo. Repensou-se o modelo e agora existe um conselho de administração, um director-geral e um director artístico. E por decisão da administração os dois directores estão presentes nas reuniões mensais do conselho, o que permite um fluxo de informação e cria um clima de confiança, de lealdade e de transparência constante que tem funcionado bem.
Mas, ao contrário do que já aconteceu, a Casa da Música parece carecer actualmente de um rosto público, para além do seu, que intervenha no espaço mediático. Como director artístico não sente uma certa falta de respaldo por parte do líder da administração?
Essa questão deverá ser colocada ao conselho de administração. É uma opção do conselho, e que eu – sem querer exorbitar das minhas funções – interpreto como o desejo da administração de focar a visibilidade da Casa da Música naquilo que é essencial, que é a sua programação.
A casa não está a precisar de obras de manutenção, de modernização de alguns equipamentos, decisões que foram adiadas pelo facto de a fundação ter sido obrigada a usar os seus fundos para atalhar a crise?
Com o corte de três milhões pelo Estado entre 2012 e 2016 – cinco anos, que significam 15 milhões de euros, dos quais nós acomodámos a grande maioria reformatando a programação –, é evidente que tivemos de fazer muitos sacrifícios, exigindo mais às pessoas. Mas a nossa opção foi sacrificar o menos possível as pessoas, o público, os colaboradores e o ADN da Casa da Música. A equipa da casa reagiu de uma forma fantástica, manteve-se motivada. Isso é fundamental. Esta casa só funciona com pessoas disponíveis, profissionais e motivadas. Isso é uma das razões por que ela se manteve. Mas durante esses anos houve cortes a todos os níveis, nomeadamente nos investimentos que eram necessários e que agora são a primeira prioridade: nos equipamentos audiovisuais e de som, que são do tempo da inauguração, em 2005, e que hoje estão obsoletos.
Na área das publicações, edições, investigação, há um caminho a retomar?
Não nego que já tivemos mais pujança nessa área. Mantemos edições discográficas importantes, sempre com a preocupação, também, de introduzir no mercado aquilo que não existe. Se é para gravar mais uma sinfonia do Tchaikovski, do Mozart ou outro compositor qualquer, é inútil – o mercado já está servido. Fazemos de dois em dois anos na Casa da Música o festival O Estado da Nação, exclusivamente dedicado à música contemporânea portuguesa, e daí resulta sempre um CD duplo. Temos também o hábito de fazer um CD monográfico do compositor em residência. Grande parte destas obras estão inéditas no mercado discográfico – é este caminho que a Casa da Música deve fazer. Agora, é verdade que já houve maior pujança na parte editorial, e eu gostaria de retomar isso, com publicações, livros. Há essa ambição de retomar a frente da investigação e da publicação.
Não tem sido muito visível, mas ciclicamente ouve-se falar de lamentos e críticas quanto às condições laborais dos músicos e dos trabalhadores da casa. Isso tem afectado o seu funcionamento?
Nunca houve nenhuma greve, nem pré-aviso de greve na Casa da Música...
Mas já houve uma manifestação dos trabalhadores em volta do edifício, e também se ouviram protestos sobre o modo como eram geridas as audições para novos instrumentistas.
Isso foi um episódio que teve a ver com uma instrumentista que esteve em período experimental na orquestra e resultou da aplicação do regulamento que nós herdámos quando se criou a fundação e foi integrada a orquestra sinfónica. O regulamento foi mudado, em grande diálogo com os músicos e com os seus representantes. O regulamento surgiu num certo contexto, mas os tempos mudam e havia que adaptá-lo à nova realidade, e isso foi feito. Chegámos a um consenso para mudar algumas regras e as composições do júri, de forma a ser mais representativo da orquestra.
Pode afirmar que há um clima de paz social entre os músicos da orquestra e dos outros agrupamentos e o resto da equipa da casa?
Uma casa da música (e uma orquestra) é um reflexo da sociedade. Há tensões, há conflitos. Isso resolve-se com diálogo, bom senso e respeito pela lei e pelos regulamentos, e isso tem acontecido.
Quando o projecto foi lançado na Porto 2001, optou-se pelo modelo que conhecemos. Mas a Casa da Música podia ter sido outra coisa, um lugar mais de acolhimento. Se pudesse voltar atrás, manteria a mesma opção?
Esta é a Casa da Música tal e qual foi desejada desde a sua génese pelo Pedro Burmester. O que verifico hoje é que a ideia seminal – o mérito é do Pedro, embora eu tenha colaborado nela – foi tão visionária que ainda hoje é válida. E isso com todas as vicissitudes por que nós passámos, sobretudo até haver a fundação como modelo de governo, quando as coisas entraram na normalidade. Eu não quereria ter outra Casa da Música; esta é a casa que sempre desejei e na qual me revejo. Há dois grandes modelos de programação de uma casa deste género. Há as salas que têm uma sucessão de concertos com as grandes estrelas mundiais, semana após semana, sem nenhuma ligação temática... A Casa da Música não pode ir por aí e é, das salas europeias, a que tem a programação mais tematizada. Nós temos, praticamente todos os meses, um festival temático. Isso só se consegue fazer porque temos os nossos próprios agrupamentos, que gerimos directamente.
A Casa da Música manteve essa ideia seminal, mas a cidade mudou muito nos últimos anos. A movida actual do Porto e o impacto do fluxo turístico teve algum reflexo nos hábitos e na programação da casa?
Nós somos procurados por turistas, e queremos tê-los cada vez mais, mas não programamos para turista ver. Queremos vender-nos aos turistas por aquilo que somos. Temos a nossa identidade, e não vamos alterá-la. Há cidades, como Veneza, por exemplo, em que não há dia nenhum em que não seja tocado, num sítio qualquer, As Quatro Estações de Vivaldi, para o turista. Nós não estamos aí, nem queremos estar. O turismo é um fenómeno óptimo para a cidade, mas a nossa missão é programar para a nossa comunidade, para aqueles que no fundo pagam impostos e permitem que nós existamos e cumpramos a nossa missão de serviço público.
Tem números que reflictam a frequência de estrangeiros nos concertos da casa?
O último censo que fizemos, há dois anos, com toda a margem de erro que possa ter, apontava para 18 por cento de espectadores estrangeiros, o que é um número impressionante, apesar de tudo.
A Casa da Música tem um modelo de programação estabilizado. Estão previstas mudanças nesse organograma? Por exemplo, quanto ao país-tema, que no ano passado já foi repetido e este ano é todo um continente. Está a chegar ao fim a possibilidade de manter esse programa?
É evidente que penso nisso. Mas a razão por que no ano passado repetimos a Áustria foi porque, no final do Ano Áustria em 2008, sentimos que, meu deus!, faltou tanta coisa... Havia tanto espaço para revisitar o país com novas abordagens. E isso irá acontecer de novo. Mas é claro que não é um modelo eterno, e estou já a pensar noutras fórmulas para o futuro.
Isso significa que irá acabar o país-tema?
Não. Há países que ainda quero revisitar, porque acho que ainda há muito para revisitar. Mas temos debatido isso com os colaboradores, como ao nível da administração, e é evidente que dentro de algum tempo teremos de introduzir outra fórmula para dar coerência à programação.
Quer avançar-nos o país-tema do próximo ano?
Não irei dizer, mas terei algumas novidades para 2020.
Estão previstos novos ciclos?
Há ciclos que já são emblemáticos da casa, e as pessoas estão à espera deles. Em Janeiro, a abertura do país-tema com duas semanas em que temos também a Casa Aberta; em Fevereiro, o Invicta.Música.Filmes, que está agora a decorrer; e há o Música na Páscoa, o Música & Revolução, o À Volta do Barroco… Este ano, introduzimos um novo ciclo, Música no Feminino…
A propósito: disse uma vez que não programava por quotas, nem em relação à música portuguesa, nem em relação a questões de género. Mas lançou agora o ciclo Música no Feminino. A situação mudou? Sempre é necessária uma discriminação positiva?
É o caso. Enquanto cidadão, mudei um bocadinho de ideias em relação a isto. Aqui há alguns anos, eu estava contra a introdução de quotas, deveria ser só o mérito… Hoje em dia, perante o que fui vendo e perante o exemplo de outros países, nomeadamente os escandinavos, começo a perceber melhor essa lógica. Se não se tomar uma medida nesse sentido, nada vai mudar, nem pelo mérito. Portanto, mudei de ideias em relação à necessidade de uma certa discriminação positiva para as mulheres. E este ano vamos ter um festival com cinco concertos com todos os agrupamentos residentes, incluindo o mais recente, o Coro Infantil, a serem dirigidos por maestrinas, todas as obras são de compositoras, todas as solistas são femininas.
É um ciclo para continuar nos anos seguintes?
Não dessa forma. Se olharmos para os compositores em residência que já por cá passaram, há inúmeras mulheres…
E ter uma mulher à frente de um grupo residente? A Joana Carneiro, por exemplo.
A Joana Carneiro é maestrina titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Portanto, não faria sentido – além de que ninguém tem dois cargos no mesmo país. Nós temos a situação dos maestros titulares de todos os agrupamentos estabilizada para os próximos anos. Não há mudanças previstas para os tempos mais próximos.
E um maestro titular português na Sinfónica?
Se aparecesse uma figura com esse mérito, e esse perfil… Mas não é essa a razão. A questão das quotas, até na música, tem particularidades. Vou dar um exemplo. Quando abrimos vagas para a orquestra sinfónica, as provas dos candidatos são feitas perante um júri, e as duas primeiras fases de audição são com ocultação de identidade, atrás de uma cortina. Portanto, o júri não sabe se está a ouvir uma mulher, um homem, um preto, amarelo ou manco. Só julga a performance musical. Não é possível introduzir aqui o sistema de quotas. Caso contrário é o do Coro, que, pela sua natureza, é equitativo: há tantos homens como mulheres, porque tem um naipe de sopranos, um de altos, um de tenores e um de barítonos. É paritário. Não se aplicam sempre as mesmas regras.
A relação da Casa da Música com outras instituições do Porto existe?
Temos relações com todos eles: o Coliseu, o São João, o Rivoli, Serralves, são instituições com quem tenho relações também pessoais. Não sou uma pessoa com um bairrismo exacerbado, mas tenho orgulho numa cidade que tem instituições como estas. Quantas cidades com a escala do Porto, uma cidade média a nível europeu, mostra esta vitalidade?
E com as instituições de Lisboa?
Ainda no mês passado a Orquestra Sinfónica tocou no CCB, e temos uma relação excelente com a Gulbenkian, com encomendas e colaborações.
Mas a Casa da Música não deveria ter mais visibilidade em Lisboa?
Sim. E já teve. Mas os tempos ficaram difíceis para todos, não só para nós. As outras instituições também sofreram com os condicionalismos económicos. Estamos a recuperar disso. A Sinfónica já foi, em 2017 e no ano passado, ao CCB; a Barroca tem ido com frequência a Braga – é uma cidade barroca – e ao festival Música em São Roque, além de que também o Coro tem ido a vários pontos do país.
A aposta nos Concertos na Avenida [dos Aliados] e nos shoppings surgiu por opção de programação, ou foi um modo de procurar atrair novos (e mais) públicos para responder à crise?
Não teve a ver com a crise; até foi em contraciclo. Nasceu da vontade conjunta das câmaras municipais e da Casa da Música de levar a música sinfónica a espaços de entrada livre, que permitam o acesso a milhares de pessoas que normalmente não têm acesso a ela. Os Concertos na Avenida já são uma tradição. Também fomos a Gaia, à Maia, a Matosinhos – tivemos 20 mil pessoas, foi impressionante! – e, por nossa vontade, é para continuar.
Qual foi o momento mais marcante que viveu na Casa da Música nos últimos dez anos?
Houve vários momentos muito marcantes. O primeiro continua a ser – como disse em entrevista anterior ao PÚBLICO – o do convite que me foi feito pelo Pedro Burmester para integrar a equipa da Porto 2001 e da Casa da Música. E, como também não posso negar que há coisas que afagam o ego, outro momento foi quando fui eleito, em 2017, por unanimidade, para membro da comissão executiva da ECHO. Foi simpático sentir o reconhecimento pelos meus pares internacionais. Confesso que me aqueceu a alma.
Já foi condecorado pelos governos romeno e francês, mas nunca pelo Governo de Portugal.
As condecorações nem se pedem nem se agradecem. Eu mantenho esse princípio de boa educação: nem peço nem agradeço.
E qual foi o seu momento mais difícil na Casa da Música?
Continua também a ser o dia da abertura da Casa da Música, pela ausência do Pedro Burmester, e pelos sentimentos contraditórios que então vivi. Nos últimos dez anos, o mais difícil foi quando tínhamos a programação de 2013 toda contratada e impressa, e com as assinaturas em venda, e o Governo anunciou que, ao contrário do que tinha sido acordado, em vez de 20 por cento, o corte seria de 30 por cento. Foi um momento dificílimo, para mim e para toda a gente. E eu senti-o com grande inquietação.