Fotografia
O kitsch do casamento indiano de alta sociedade
Durante seis anos, o fotógrafo indiano da Agence VU Maesh Shantaram documentou 150 matrimónios da alta sociedade indiana, e respectivas celebrações, e compilou as melhores imagens num fotolivro que pode ser visto como uma “longa e inebriante festa” que revela a “complexa e contraditória” estrutura social de um país ainda dividido por castas. Matrimania, editado pela Hatje Cantz, revela o que está por detrás de cada demonstração de opulência destas festas profundamente marcadas pelo kitsch.
“Tudo o que existe de grandioso na Índia — e tudo o que há de errado nessa grandiosidade — pode ver-se resumido num único casamento”, observa o fotógrafo. Quanto mais alto é o estrato socio-económico dos noivos, maior é o investimento na criação do mundo de fantasia bollywoodesca que é erigido de modo a arrebatar os convidados. Há mulheres que transportam tochas gigantescas na cabeça, centenas de animadores que servem e entretêm milhares de convidados, mantendo a festa viva durante vários dias. Há também trajes que ultrajam, palcos de grandes proporções que albergam espectáculos dignos de casinos, palhaços suados e adolescentes entediados. A pressão social sobre estes eventos faz com que as famílias comecem a poupar para a festa de casamento das filhas logo após o seu nascimento.
O casamento indiano responde a rigorosos e seculares critérios religiosos e sociais. Quase todos aqueles que foram documentados por Shantaram resultam de um acordo entre famílias e têm por base interesses que ultrapassam — e não passam sequer — o afecto entre os noivos: as relações comerciais entre famílias dos futuros esposos estão na base da maioria. Mas não só. A partilha do mesmo estatuto social e casta é também essencial. A Índia do século XXI está repleto de contradições, segundo Shantaram. São essas que pretende expôr, utilizando a objectiva fotográfica como se fosse um microscópio.