Palcos da semana
Entre a reinvenção de Mezzanine e a arte de Vasconcelos, há encenações de Botelho e Pais, cinema ao desafio e uma ópera (ou coisa parecida).
Arte
Joana Vasconcelos ao espelho
A noiva ou um lustre feito de tampões. Cama valium ou um leito criado com blísteres de comprimidos. Coração independente vermelho ou um coração de Viana criado com talheres de plástico retorcidos. Marilyn ou gigantescas sandálias de salto alto formadas por panelas e tampas. São algumas das mais famosas obras de Joana Vasconcelos. E fazem parte de I'm Your Mirror, a retrospectiva que Serralves se prepara para inaugurar. Sucede ao Guggenheim, em Bilbau, onde esteve patente com sucesso no ano passado, naquela que foi a primeira individual de uma artista portuguesa no museu espanhol. No Porto, com curadoria de Enrique Juncosa, são exibidas 30 peças ilustrativas de mais de duas décadas de carreira. Além das mais conhecidas – algumas, pela sua monumentalidade, colocadas no jardim –, a exposição inclui peças recentes, criadas ou trabalhadas para a ocasião.
Música
De volta a Mezzanine
A nova digressão dos Massive Attack aposta tudo na importância histórica de um álbum: Mezzanine, o terceiro da carreira, lançado em 1998 – o ano em que a banda de Bristol veio a Lisboa inaugurar o Pavilhão Atlântico na sua vida pós-Expo. Mais de uma década e muitos concertos em Portugal depois, e no momento em que o disco acaba de ser reeditado, os pioneiros do trip-hop vêm reinventar esse capítulo. Como é hábito, fazem-no num todo de som, imagem e mensagem que produz uma experiência maior do que a soma das canções. Descrito por Robert Del Naja como "o nosso próprio pesadelo nostálgico", o espectáculo foi concebido em colaboração com o realizador Adam Curtis. E conta com Elizabeth Fraser, a voz de Teardrop.
Teatro
Memórias de criada
O cineasta João Botelho volta ao papel de encenador, depois de o ter desempenhado, por exemplo, na ópera Banksters, em 2011. Desta vez, leva à cena um texto do modernista austríaco Hermann Broch sobre o momento de retrospecção de uma velha criada. O monólogo, intenso e carregado de (res)sentimentos de paixão, desejo e ciúme, é interpretado por Luísa Cruz. Com cenografia do artista Pedro Cabrita Reis, esta versão de A Criada Zerlina vem assinada por António S. Ribeiro, em colaboração com José Ribeiro da Fonte, e parte da tradução de Suzana Muñoz.
Teatro
Assédio e assimetria
Quem também regressa à encenação é Ricardo Pais, com uma versão de Pedro Mexia para uma peça de David Mamet. Oleanna tem como tema o assédio sexual, no contexto da relação entre um professor universitário (interpretado por Pedro Almendra) e uma das suas alunas (Mafalda Lencastre). Mas desdobra-se noutros: o politicamente correcto, as assimetrias de género, as lutas de poder, a educação, os limites da liberdade de expressão, as zonas cinzentas da realidade...
Cinema
Desafios e clássicos
Para começar, a ficção científica de Prospect, de Zeek Earl e Chris Caldwell; para fechar, o horror de The Russian Bride, de Michael S. Ojeda. Entre eles, perto de 200 filmes de 60 países, uma retrospectiva dedicada ao cinema feminino de Taiwan, homenagens aos clássicos Easy Rider, Shining, Laranja Mecânica e Alien, e ainda colóquios, conferências e workshops. É o Fantasporto em exibição, com Os Desafios da Modernidade a darem o tema à 39.ª edição.
Ópera
Cenas fragmentárias
Inspira-se nos códigos da ópera, mas traduz-se num objecto artístico diferente, que nasce de "uma concepção simultânea de música, libreto, projecção vídeo e encenação", explica a nota de imprensa de Tudo Nunca Sempre o Mesmo Diferente Nada, de Tiago Cutileiro. A narrativa é fragmentária e desenvolve-se em quatro actos e doze cenas de dez minutos cada. A encenação é tripartida entre Sónia Baptista, Leonor Keil e André E. Teodósio.