Que a T-shirt é feita de algodão e deve ser lavada a 30.º é informação que já nos habituamos a ver nas descrições de produto. Já menos comum é ver explicações quanto ao preço e custo de produção de uma peça — 3,20 euros para o tecido, 3 euros pela mão-de-obra e por aí adiante. Isto é uma marca portuguesa. Tem um objectivo concreto: fazer os básicos (T-shirts, camisas e camisolas) e fazê-los bem. E isto passa não só pela qualidade das peças, mas também por toda a estratégia da produção e distribuição.
A marca surgiu em 2017 com uma loja online e, há dois meses, inaugurou o primeiro espaço físico, localizado na Embaixada do Príncipe Real, em Lisboa. A loja é partilhada com a marca de mobiliário e acessórios de casa Util e com cerâmica de Cécile Mestelan.
A linha de produtos destaca-se pela simplicidade: cinco peças de homem — uma camisa estilo Oxford (63 euros), outra de linho (69 euros) e outra de flanela (69 euros), uma T-shirt de algodão (28 euros) e uma sweatshirt (69 euros) —, duas de mulher, uma T-shirt de algodão (28 euros) e camisa de linho (69 euros), e uma tote bag. Todas elas feitas com materiais orgânicos e disponíveis em várias cores.
Os três sócios fundadores, Vasco Mendonça, Pedro Palha e Pedro Gaspar apresentam a Isto como uma alternativa: à falta de transparência, às práticas de produção menos sustentáveis, ao compromisso da qualidade pelo preço e à sazonalidade da moda. “Os calendários do ciclo de consumo e de produção são muito propensos a gerar desperdício, porque vivem de colecção sobre colecção, com toda a pressão de novidade que isso implica. E muitas vezes em sacrifício da qualidade”, comenta Vasco Mendonça.
São, aliás, questões em linha com a tendência da crescente preocupação com a sustentabilidade na indústria da moda e com a transparência por parte das marcas. Há alguns anos que a Fashion Revolution levou as pessoas a inundarem as redes sociais com a pergunta #WhoMadeMyClothes, dirigida às marcas de moda. Ao mesmo tempo, são cada vez mais as grandes cadeias de moda a lançar colecções viradas para a sustentabilidade, em resposta às exigências dos consumidores.
O ponto de partida da Isto, explica Vasco Mendonça, foi criar peças que "nós próprios queremos vestir”, de um ponto de vista mais "utilitarista". Com backgrounds em marketing, publicidade e design, "de repente, demos por nós a falar de roupa", conta. "Não só tínhamos preferências similares, como estávamos cansados do relacionamento que os consumidores têm" com vestuário, continua. A marca começou com uma simples T-shirt branca e camisa Oxford e daí alargaram um pouco a colecção. Mas a ideia será manter a linha de produtos restrita aos essenciais, tratando “cada peça como um lançamento em si, um momento de comunicação”, explica Pedro Gaspar.
“Há uma combinação de factores que tem feito as pessoas gostarem da marca”, comenta ainda Vasco Mendonça. Em 2018, a empresa facturou 130 mil euros e as expectativas são de crescer 150%, fechando assim este ano com 325 mil euros. A estratégia passa por investir, sobretudo, no mercado externo, sendo que neste momento cerca de 70% dos consumidores são portugueses. Mas há um detalhe: os clientes fora do país gastam, em média, 120 euros na loja online, contra 56 euros pelos clientes nacionais.
No site, além de informação sobre os custos e produção, apresentam uma estimativa daquilo que consideram o preço típico de mercado para uma peça do mesmo estilo — que, regra geral, é quase o dobro. “[Antes de fundar a marca], não encontrávamos produtos de qualidade sem preços proibitivos. É uma categoria que vive muito de branding, mas às vezes é elevado ao extremo”, defende Vasco Mendonça.
Assim, procuraram criar um produto com "qualidade" que, ao mesmo tempo, "pudesse ser acessível a um número alargado de consumidores”. Fizeram-no de duas formas: com um investimento relativamente baixo em marketing e libertando-se de “qualquer espécie de mediação”. As peças são produzidas em Portugal e até há pouco tempo eram vendidas exclusivamente online. As margens acabam por ser relativamente baixas, apontam o fundadores — até porque aos custos que estão detalhados no site acrescem os impostos —, mas a “o objectivo será crescer em volume”, garantem.