Fábrica da Siemens que equipou as maiores centrais do mundo reforça produção
Unidade de Corroios abriu 102 vagas e aumenta capacidade em 60%. Iniciativa visa responder ao aumento da procura após mega-projecto no Egipto.
O Egipto está habituado a mega-projectos desde o tempo em que os faraós encomendavam pirâmides. Quando em 2015 o governo de Cairo decidiu que precisava de reforçar a rede eléctrica, estava perante mais um projecto faraónico. E o governo egípcio virou-se para a Siemens, que produziu parte da solução em Portugal, na fábrica que a empresa alemã tem em Corroios, concelho do Seixal, a mesma que agora vai aumentar a capacidade de produção em 60% e duplicar, até ao final do ano, o número de trabalhadores, segundo o anúncio feito nesta quinta-feira.
Em 2010, a Primavera Árabe não era a única razão de instabilidade no Egipto. As constantes quebras de electricidade exasperavam os egípcios. O problema só poderia ser resolvido com volumosos investimentos na estabilização da rede então existente e, sobretudo, com uma significativa expansão da capacidade instalada.
Em cima da mesa estava a construção de três centrais termo-eléctricas no país – por sinal, "as três maiores do mundo", sublinha Fernando Silva, director da divisão de Gestão de Energia da Siemens Portugal – e foi de Corroios que, ao longo de 12 meses, saíram os 600 quadros eléctricos de baixa tensão necessários para que as três centrais de ciclo combinado em Beni Suef, Cairo e na região do novo canal do Suez pudessem reforçar o sistema eléctrico egípcio.
A mega-empreitada envolveu uma equipa global da Siemens, incluindo participantes portugueses. Em Janeiro de 2017, 18 meses depois da assinatura do contrato, a primeira expansão injectou 4,8 gigawatts na rede. Mais nove meses volvidos, o projecto foi concluído, contribuindo decisivamente para os resultados da Siemens Portugal que, no ano fiscal terminado em Setembro de 2018, apresentou lucros de 33,7 milhões de euros, um crescimento de 120,6% em termos homólogos.
O produto fornecido a partir de Portugal deu provas de sucesso no Egipto, tal como já tinha dado noutras instalações críticas, salienta Fernando Silva. Mas tal sucesso reforçou a procura pelos quadros Sivacon 8, feitos em Corroios, que produzia 2000 unidades por ano e que, graças ao investimento agora anunciado, vai ter capacidade para produzir 3200 unidades/ano.
Em termos de funções, o Sivacon 8 é um quadro eléctrico "semelhante ao que temos na nossa habitação", explica Fernando Silva, mas que difere sobretudo na capacidade."É usado em indústrias ou serviços de elevado consumo eléctrico, permitindo uma gestão remota da distribuição de energia, com sistemas de redundância que podem operar de imediato sem intervenção humana, em caso de quebras, e dotado de componentes essenciais de protecção, continua.
Trata-se de um produto que é maioritariamente encaminhado para exportação e que, segundo a empresa, é usado como suporte a actividades críticas em data centers ou hospitais, bem como em indústrias de consumo intensivo de energia, como a petroquímica, petróleo, gás ou pasta de papel.
A unidade de Corroios tinha 100 trabalhadores mas abriu 102 novas vagas, das quais 56 já foram preenchidas. Planeia agora contratar mais 46 pessoas "nos próximos meses", levando a uma duplicação do número de trabalhadores e algumas áreas de produção a laborar em três turnos.
“Este reforço da Fábrica de Quadros Eléctricos de Corroios também contribui para as exportações da empresa e do país, uma vez que esta unidade produz quase exclusivamente para o mercado internacional”, destaca Fernando Silva, a propósito deste anúncio, feito na presença do primeiro-ministro e do ministro da Economia, António Costa e Pedro Siza Vieira, respectivamente.
Dados oficiais mostram que 85% da produção de Corroios segue para o mercado externo. O mapa das vendas inclui 56 países, incluindo Alemanha, Suíça, Áustria, a região do Médio Oriente, com os Emirados Árabes Unidos à cabeça, e África, com o já referido projecto charneira no Egipto.
Em Novembro de 2018, durante a mais recente edição da Web Summit, a Siemens Portugal tinha anunciado um investimento de 20 milhões de euros, durante dois anos, na área da digitalização em Portugal, prevendo contratar 400 pessoas.
A Siemens tem quase 2500 trabalhadores em Portugal, onde explora e gere centros de competência nas áreas da energia, das infra-estruturas, tecnologias de informação e dos serviços partilhados.
Em 2017, o grupo alemão tinha escolhido a fábrica de Corroios para uma nova linha de produção do SIMOSEC, um modelo de quadro eléctrico modular de média tensão.