Esquerda condena ameaças a activistas dos direitos humanos no Brasil
Voto refere-se ao caso do deputado federal brasileiro Jean Wyllys, um activista dos direitos humanos, homossexual, muito crítico de Bolsonaro, que decidiu renunciar ao mandato e deixar o Brasil devido às ameaças de morte que tem recebido.
O título está escrito no plural, mas descreve apenas um caso: a esquerda fez aprovar um voto em que a Assembleia da República condena a "intolerância e a deterioração dos direitos fundamentais e das condições de segurança", assim como as "ameaças à integridade física de titulares de cargos políticos e activistas dos direitos humanos no Brasil", referindo no texto o deputado federal Jean Wyllys, que renunciou ao cargo e deixará o seu país por não se sentir ali seguro.
O voto foi apresentado pelo deputado não-inscrito Paulo Trigo Pereira e pelo deputado do PAN André Silva, mas mais tarde também subscreveram o texto o PS e o Bloco. Na votação, o PCP juntou-se-lhes com o voto a favor, assim como os deputados do CDS Assunção Cristas, João Almeida e Ana Rita Bessa. O PSD e o resto do CDS abstiveram-se e os deputados sociais-democratas Miguel Morgado, Carlos Páscoa e José Cesário votaram contra. Uma posição que mereceu alguns apupos das bancadas da esquerda quando os três deputados do PSD se levantaram e um sonoro comentário da bloquista Mariana Mortágua: "Ah, pois, para Miguel Morgado era matá-los a todos..."
Eleito pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para um terceiro mandato na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys tem sido uma das vozes mais críticas em relação ao Presidente brasileiro Jair Bolsonaro. É activista dos direitos humanos e das causas das minorias, em especial da comunidade LGBTI, mas também pelo combate ao assédio e à violência contra as mulheres, e pela descriminalização do aborto. É o único deputado federal assumidamente homossexual, e tem recebido cada vez mais ameaças de morte nos últimos meses. Desde o assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, há quase um ano, que o deputado passou a ter escolta policial e a deslocar-se numa viatura blindada.
Deputado desde 2010, começou a receber ameaças no ano seguinte, que se estenderam à família, mas intensificaram-se no último ano. "Em Novembro de 2018, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos reconheceu que Jean Wyllys se encontrava numa situação de gravidade e urgência que punha em risco a sua vida e integridade física", descreve o voto referindo que o deputado chegou a ser agraciado em 2012 com a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho.
"As ameaças à integridade física de titulares de cargos políticos e de activistas de direitos humanos são ameaças à democracia e merecem a vigilância de todos os democratas", defende o texto.