Morreu o poeta, tradutor e editor Rui Caeiro, autor de Livro de Afectos
A maior parte da sua obra está publicada em edições de autor ou em editoras independentes.
O poeta, editor e tradutor Rui Caeiro, autor de Livro de Afectos e Quarto Azul, morreu esta terça-feira, anunciou a editora Pianola na sua página oficial, na rede social Facebook.
Rui Caeiro tinha 75 anos e, segundo o editor Eduardo Sousa, da Letra Livre, o escritor morreu na residência da família, em Oeiras. "Rui Caeiro sofria há muito tempo de cancro", disse à Lusa.
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, emitiu uma nota de pesar, na qual destaca o "modo de ser discreto e sóbrio" de Rui Caeiro, tendo editado "a parte maior da sua obra em edições de autor ou em editoras independentes".
Rui Caeiro, natural de Vila Viçosa, no Alto Alentejo, onde nasceu em 27 de Junho de 1943, "fez, ao longo de trinta anos de publicação, do seu modo de ser discreto e sóbrio uma prática literária, oferecendo a parte maior da sua obra em edições de autor ou em editoras independentes", lê-se na nota ministerial.
"Desta obra singular destacam-se o seu livro de estreia Deus, sobre o magno problema da existência de Deus (1988), Sobre a nossa morte bem muito obrigado (1989), Livro de Afectos (1992), Deus e Outros Animais (2015) e, em 2018, Diálogos Marados/Um Maluco Vem Pousar-me Na Mão".
Graça Fonseca lembra que Rui Caeiro "foi também tradutor de Rainer Maria Rilke, Robert Desnos, Cesare Pavese ou Marguerite Yourcenar" e, "como editor, trabalhou durante dez anos e ao lado de Vítor Silva Tavares, naquele que foi um dos projectos mais emblemáticos e pessoais da edição independente em Portugal, a [editora] &etc".
Cesare Pavese, Henri Roorda, Nâzim Hikmet, Ramón Gómez de la Serna, Miguel de Unamuno, Henri Michaux, Roberto Juarroz e Roger Martin du Gard são outros autores publicados em Portugal, com a sua tradução.
A editora Pianola recorda que, para a sua chancela, Rui Caeiro "traduziu com cuidado imenso e de forma magnífica", Carta a D., de André Gorz.
Na Letra Livre, Rui Caeiro publicou Quarto Azul e outros poemas (2011). Em 2018, pela Livraria Snob, editou Diálogos Marados/Um Maluco Vem Pousar-me na Mão.
No blogue modo de usar & co. - revista de poesia e outras textualidades conscientes, Changuito, dinamizador da Livraria Poesia Incompleta, disse, sobre o poeta, em Novembro de 2013: "Tem fãs por onde passa, pelo menos junto dos que olham com atenção. Usa o silêncio como generosa estratégia. Estudou Direito. Tem filhos, netos, amigos. Gosta de ler e de comer. Dorme cedo. Leu tudo. É um sábio".
Rui Caeiro licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa e começou a trabalhar como funcionário da empresa EDP, que veio a deixar para se dedicar à literatura.
Numa entrevista ao site www.jogosflorais.com, no ano passado, Rui Caeiro afirmou: "Escrevi muito pouca poesia propriamente dita. No Livro de Afectos, há poesia, há versinhos, há linhas que não chegam ao fim, são versos, aí há. E há também nesse Quarto Azul. Mas não há assim muito mais".