Universidade de Coimbra prepara requalificação do Colégio das Artes

Há 25 anos que os estudantes se queixam das condições do edifício do século XVII. Na sequência da passagem do Leslie, os alunos voltaram a protestar contra as condições do departamento, com o nome “Arquitectura na Ruína 2.0”.

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Paulo Pimenta

O Departamento de Arquitectura (DARQ) da Universidade de Coimbra (UC) entregou à reitoria um plano de intervenção no Colégio das Artes, edifício da Alta da cidade fustigado em Outubro pela passagem do furacão Leslie. A intempérie provocou danos na cobertura, levando à suspensão temporária das aulas onde o departamento funciona. Mas os estragos causados pelo Leslie apenas puseram a nu as fragilidades de um edifício a precisar de requalificação.

Ao PÚBLICO, o director do DARQ, José António Bandeirinha, explica que foram levados a cabo alguns trabalhos para repor as telhas e, já em Dezembro, o documento coordenado por Paulo Providência, também professor no departamento, foi entregue para aprovação da reitoria. Depois terá que passar ainda pelo crivo do município e pela Direcção Regional de Cultura da Centro, uma vez que o imóvel está classificado como património da humanidade pela UNESCO desde 2013.

A presidente do Núcleo de Estudantes de Arquitectura, Joana Correia, refere que o departamento não proporciona condições de trabalho. Os problemas do edifício que está aberto 24 horas por dia para os estudantes vão desde a climatização ao pavimento levantado, passando por fissuras nas paredes e soalhos com buracos, enuncia.

Na sequência da passagem do Leslie, os estudantes organizaram-se para protestar contra as condições do departamento, com o nome “Arquitectura na Ruína 2.0”. O protesto foi uma reedição de um outro levado a cabo em 1993 por motivos semelhantes. O núcleo de estudantes promoveu também um abaixo-assinado a exigir a “requalificação total do Departamento de Arquitectura”.

Intervenção parcelar

O Colégio das Artes, onde há cerca de 30 anos está instalado o Departamento de Arquitectura, é um dos edifícios que sobreviveu à destruição de parte da Alta de Coimbra durante o Estado Novo. Serviu de casa aos Hospitais da Universidade de Coimbra de 1855 a 1987. "Foram 130 anos a fazer pequenas alterações”, afirma Bandeirinha. Desde que o DARQ se instalou no edifício, em 1988, foram sendo feitas adaptações, mas o edifício “nunca foi pensado como um todo". "Queríamos deixar esse tempo, o de reparações urgentes", diz.

Há uma certa ironia no facto de o edifício onde se formam arquitectos estar em más condições, reconhece o director. A questão da imagem é só um dos problemas. “Tem algumas falhas nas questões da segurança contra incêndios. O edifício é extremamente frio no Inverno e é muito permeável: qualquer temporal ou ventania levanta-lhe as telhas”, afirma o responsável. E acrescenta: “a estrutura da ala Este do telhado precisa de ser revista completamente ou refeita”.

O vice-reitor da Universidade de Coimbra com o pelouro do edificado, património e sustentabilidade, Vítor Murtinho, não respondeu às questões enviadas pelo PÚBLICO por email. No entanto, o gabinete de comunicação da UC referiu que a actual equipa não se compromete com prazos para intervir no Colégio das Artes, uma vez que está a decorrer o processo eleitoral para eleger o sucessor do reitor João Gabriel Silva.

Antes de uma intervenção geral, o edifício será alvo de obras parcelares. A mais próxima, já com financiamento aprovado pelo programa de atribuição de fundos comunitários Centro 2020, é a reabilitação das galerias e a instalação de um auditório no piso térreo da ala Norte. De acordo com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, as obras terão lugar entre o início de 2019 e finais de 2020. A intervenção integra um pacote de 3,6 milhões de euros, do qual também fazem parte a Sala dos Capelos e o Palácio Real. Paralelamente, está ainda em fase de adjudicação a requalificação de duas salas de projecto do DARQ.

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