Papa quer que bispos tenham bem cientes regras contra abusos sexuais

O chefe da igreja católica relembrou a posição que os bispos devem ter em relação à protecção de crianças para "para prevenir e combater o drama mundial dos abusos".

Foto
REUTERS

O papa Francisco quer que os bispos saibam exactamente o que fazer "para prevenir e combater o drama mundial dos abusos" depois da reunião inédita marcada para Fevereiro sobre a protecção de crianças.

O porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti, apresentou esta quarta-feira em conferência de imprensa alguns detalhes sobre a reunião que vai decorrer no Vaticano de 21 a 24 de Fevereiro e para a qual foram convocados os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo. O papa Francisco participará em todas as sessões deste encontro.

Segundo Alessandro Gisotti, para o papa é essencial que os bispos reunidos em Roma retornem aos seus países, às suas dioceses, cientes das regras a aplicar e, assim, cumprir as medidas necessárias para evitar abusos, proteger as vítimas e não permitir que os casos sejam escondidos.

"O papa Francisco sabe que um problema global só pode ser confrontado com uma resposta global e quer que a reunião seja um encontro de pastores e não uma convenção de estudo", disse.

Na reunião sem precedentes, uma vez que na história da Igreja nunca tinha sido feita esta convocatória, participarão os presidentes das 130 Conferências Episcopais e ainda vítimas de abuso por parte do clero.

O papa Francisco participou também esta quarta-feira numa reunião sobre a preparação do encontro, que está a cargo de um grupo composto pelos arcebispos de Chicago (EUA), Blase J. Cupich, e de Bombaim, o cardeal Oswald Gracias, duas figuras que se caracterizaram pela batalha contra os abusos, assim como o vice-secretário recém-nomeado da Congregação para a Doutrina da Fé, Charles Scicluna e um membro da Comissão para a protecção dos menores, Hans Zollner.

Em Dezembro, a comissão organizadora da cimeira do Vaticano enviou uma carta a todas as conferências episcopais na qual pedia que ouvissem as vítimas nos seus países.

A organização da cimeira apelou a todos os participantes para "seguirem o exemplo do papa Francisco e encontrarem-se pessoalmente com as vítimas de abusos antes da cimeira em Roma".

A 8 de Janeiro, o secretário-geral da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Barbosa, reiterou a disponibilidade da igreja para ouvir vítimas de abusos sexuais por parte de eclesiásticos, não assumindo que os encontros sejam promovidos pelos bispos.

Em declarações à comunicação social, após a reunião do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Manuel Barbosa afirmou que "cada bispo está disponível, como sempre esteve, para acolher e escutar possíveis vítimas" de abusos sexuais, referindo que alguns eclesiásticos "já escutaram alguns desses casos". Questionado pelos jornalistas sobre se a igreja irá ao encontro das vítimas, Manuel Barbosa afirmou não existir uma lista nesse sentido.

"Neste momento é uma disponibilidade activa para escutar. Se houver quem queira falar com os pastores respectivos ou com o patriarca estarão todos disponíveis para isso. Não é uma questão de espera ou não espera, é uma questão de disponibilidade activa para escutar e para acolher, como já houve noutros casos".

Manuel Barbosa adiantou ainda que, "neste momento, não está prevista uma investigação de âmbito nacional", tal como já foi avançado em outros países.

"Esperemos também pelo encontro de Fevereiro, que dará orientações. Na assembleia de Abril é normal que esse assunto seja abordado no conselho permanente e depois na assembleia plenária.

"Esperamos por este encontro que o papa pediu a todos os presidentes de todas as conferências para se reunirem e enfrentarem com todo o rigor este assunto, que é grave e que é preciso extirpar da nossa vida social e da própria igreja", rematou.