Armando Vara: bancário, deputado, banqueiro e recluso
Começou a trabalhar num pronto-a-vestir, foi bancário, político com vários cargos, casos e polémicas. Chegou a banqueiro. O seu grande amigo na vida política e pessoal é José Sócrates.
Armando António Martins Vara vai cumprir o seu 65.º aniversário num Estabelecimento Prisional, provavelmente em Évora. Para trás fica uma vida política intensa sempre no PS, muitas polémicas, nomeações suspeitas e muitas contas prestadas e ainda a prestar à justiça.
Nasceu a 27 de Março de 1954 no seio de uma família humilde na povoação de Lagarelhos, concelho de Vinhais, distrito de Bragança e traçar o perfil de Armando Vara é um processo quase repetitivo. Foram tantos os casos em que o socialista esteve envolvido que por dezenas de vezes os órgãos de comunicação se viram na obrigação de apresentar o rasto do que foi a sua vida pública. Este é talvez o momento em que mais se justifica voltar a lembrá-lo.
Vara entrou para a Juventude Socialista logo em 1974. Nessa altura, o jovem já trabalhava e estudava. Repartia as horas entre o balcão do pronto-a-vestir Teté Rodrigues, em Bragança, o estudo de filosofia (um curso nunca acabado), em Coimbra, e a actividade política.
No princípio dos anos 80, Vara já fazia ouvir a sua voz no espaço público. Escrevia artigos de opinião no jornal regional Voz do Nordeste e comentava a actualidade política na RDP-Nordeste.
Em 2010, já Vara era arguido no processo Face Oculta, a revista Visão, num dos muitos perfis feitos pela comunicação social, lembrava um dos seus primeiros escritos no Voz do Nordeste. Escrevia então Vara uma frase que hoje se justifica voltar a lembrar: “O negocismo instalado, a noção de proveito pessoal que alguns têm da política tem a ver com a ausência de ideologia que em nome de uma prática de duvidosa moralidade parece começar a fazer escola.”
Uma escola a que, pelo que dizem os tribunais, Vara aderiu com grande empenho. O socialista sempre se disse inocente.
Em 1983, então com 29 anos, ganha um concurso para funcionário no balcão de Mogadouro da Caixa Geral de Depósitos. Só lá ficou seis meses. Era já um activo dirigente local do PS, o seu nome já constara das listas para as eleições legislativas e acaba por ser chamado para deputado no Parlamento em substituição de um outro deputado que tinha saído da Assembleia da República. Foi deputado até 2001. Nos registos online do Parlamento ainda consta a sua profissão: “funcionário da Caixa Geral de Depósitos.”
Dois anos depois de Vara, haveria de chegar à Assembleia da República outro dirigente local do PS, este vindo da vila de Alijó, distrito de Vila Real: José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa. Entre eles haveria de nascer uma grande amizade e cumplicidade, na política e fora dela, que ainda hoje dura.
Criou empresa com Sócrates
Em 1999 a confiança entre eles era já firme, ao ponto de se associarem para a criação de uma empresa de venda de combustíveis, na Reboleira, Amadora. O escritório para a sede da empresa foi cedido por um empresário, agora bem conhecido dos portugueses, José Guilherme, o homem que terá dado uma prenda de milhões a Ricardo Salgado.
A ligação de ambos à empresa durou poucos meses, pois Vara acabou por se desentender com outros sócios que, entretanto, tinham entrado no capital da sociedade.
Os dois deputados e amigos acabam por chegar a um Governo juntos. Em 1999, no executivo presidido por António Guterres, ambos como secretários de Estado, Sócrates no Ambiente e Vara na Administração Interna. Mais tarde acabam por subir a ministros. O primeiro para ministro-adjunto e Vara como responsável pelo Desporto.
No ano 2000, Armando Vara é confrontado com a sua primeira grande polémica. Foi acusado pela oposição de, enquanto secretário de Estado da Administração Interna, desviar dinheiro da Fundação para a Prevenção e Segurança, de combate à sinistralidade rodoviária. Judicialmente o caso não deu em nada, mas Vara acaba por sair do Governo por pressão do então presidente Jorge Sampaio.
Sócrates e Vara andaram sempre ligados, na política e nas polémicas, como nas dúvidas sobre as licenciaturas de ambos, mas a grande surpresa acaba por acontecer em Agosto de 2005, quando o ministro das Finanças do Governo liderado por Sócrates nomeou Vara para administrador da Caixa Geral de Depósitos. Daí passou para a administração do Millennum BCP, de onde acabou por se demitir devido ao seu envolvimento em diversos processos judiciais. Pelo caminho ainda ficam diversas polémicas em que Sócrates e Vara estiveram envolvidos, como a alegada tentativa de controlo da TVI e de outros órgãos de comunicação social.
Armando Vara já morreu há bastante tempo como político. O homem a contas com a justiça ainda vai ter que percorrer um longo caminho, nomeadamente na Operação Marquês, caso no qual também está acusado, tal como Sócrates.
Em breve deverá entrar no Estabelecimento Prisional de Évora, onde pediu para cumprir pena. O mesmo onde Sócrates esteve dez meses em prisão preventiva.