Autoridades do Gabão travam tentativa de golpe de Estado
Líderes de um movimento de jovens militares ocuparam o edifício da rádio nacional e apelaram a um levantamento das ruas. Presidente Ali Bongo está há dois meses fora do país em tratamento médico.
Um grupo de militares ocupou a sede da rádio nacional do Gabão durante a madrugada desta segunda-feira para manifestar o descontentamento com o Presidente do país, Ali Bongo. Sem apoio do topo da hierarquia do Exército, a tentativa de golpe foi neutralizada ao fim de poucas horas.
Por volta das 4h30 (3h30 em Portugal continental), um grupo de militares invadiu as instalações da rádio nacional em Libreville, onde um dos elementos leu uma declaração em nome do Movimento Patriótico de Jovens das Forças de Defesa e Segurança do Gabão. Um dos líderes apelou a um levantamento popular, sobretudo da população mais jovem, para “tomar o controlo da rua”.
“A hora chegou, é tempo de tomar o vosso destino com as mãos. O dia 7 de Janeiro de 2019 é o dia da vitória do povo gabonês apoiado pelo seu Exército”, declarou o líder do movimento, identificado como tenente Kelly Obiang.
Nas imediações do edifício ouviam-se tiros e vários carros blindados das forças de segurança bloqueavam o acesso à avenida onde se situa a rádio, descreve o correspondente da AFP em Libreville.
Ao início da manhã, um grupo de 300 pessoas concentrou-se perto do local para demonstrar apoio à tentativa de golpe de Estado, mas foram recebidos com gás lacrimogéneo lançado pelas forças militares.
Ao fim de algumas horas, no entanto, a insurgência tinha sido dada como neutralizada. Dois elementos rebeldes foram abatidos e sete foram detidos pelas autoridades, revelou o porta-voz do Governo. O Executivo explicou ainda que o grupo de insurgentes era reduzido e não foi reconhecido por nenhum elemento superior da hierarquia militar.
"Visão lamentável"
O golpe era dirigido contra Ali Bongo, cuja família governa o Gabão há meio século, e que enriqueceu às custas das grandes reservas petrolíferas do país na costa ocidental de África. Bongo, que chegou ao poder em 2009 depois da morte do pai, está há dois meses em Marrocos, onde tem recebido tratamento médico. No discurso de Ano Novo, Bongo tentou afastar os rumores quanto à sua condição clínica dizendo encontrar-se bem de saúde.
Os militares por trás do golpe classificaram o discurso de Bongo como “uma visão lamentável” e uma “tentativa implacável para manter o poder”. O discurso “reforçou as dúvidas sobre a sua capacidade para assumir as responsabilidades como Presidente da República”, afirmou o líder do movimento.
Em 2016, Bongo foi reeleito por uma curta margem, numas eleições muito contestadas e que deram origem a violentos protestos, motivados pelas suspeitas de fraude eleitoral.
Os EUA enviaram tropas para o país nos últimos dias para proteger cidadãos norte-americanos perante a eventualidade de eclosão de conflitos pós-eleitorais na República Democrática do Congo.