Morreu Ringo Lam, que inspirou Cães Danados a Tarantino
O cineasta de Hong Kong assinou um dos clássicos do cinema de acção asiático, City on Fire, ao qual o autor de Pulp Fiction foi buscar influências.
O seu nome não atingiu a popularidade de companheiros e conterrâneos como John Woo, Tsui Hark ou Johnnie To. Mas foi Ringo Lam, cuja morte ocorreu no sábado, aos 63 anos, que Quentin Tarantino elegeu como “modelo”: os fatos negros das personagens do seu primeiro filme, Cães Danados, foram “tomados de empréstimo” a City on Fire, considerado um dos clássicos do cinema de acção de Hong Kong dos anos 1980. Tarantino, aliás, nunca escondeu a sua dívida a um filme que, como declarou publicamente, o "influenciou muito”, e foi um dos cinéfilos mais aguerridos na defesa da produção de Hong Kong e Taiwan.
Foi nas décadas de 1980 e 1990 que o Ocidente descobriu a produção cinematográfica dos territórios ao largo da China e que esta se tornou uma espécie de “farol criativo” tanto para o cinema de autor como para a produção mainstream. Ringo Lam Ling-tung, nascido em Hong Kong mas formado no Canadá, integrou, a par dos seus contemporâneos John Woo e Tsui Hark, a primeira geração de cineastas daquela região a deslumbrar os críticos internacionais e os apreciadores de cinema de género. Se a sua primeira longa (Esprit d’Amour) data de 1983, City on Fire (1986), uma história de tríades chinesas com Chow Yun-fat, a vedeta emblemática do cinema de acção da época, continua a ser o filme-referência da carreira de Lam, cujo estilo seco era menos espalhafatoso, menos imediato do que os dos seus colegas de geração. O sucesso e o impacto de City on Fire nunca se repetiram, mas ainda assim – êxito oblige – seguiram-se outros filmes com a palavra “fire” no título (Prison on Fire, em 1987, e School on Fire, em 1988).
Ringo Lam tentou ainda a experiência hollywoodiana, rodando várias vezes com Jean-Claude van Damme (Máximo Risco, 1996; A Réplica, 2001; Prisão Infernal, 2003), mas sem repetir a popularidade dos seus títulos de Hong Kong. Desencantado com o cinema, e sobretudo com a produção local depois do regresso da ilha à soberania chinesa em 1997, deixou de filmar, por opção própria, em 2003, abrindo uma excepção à sua “reforma” em 2007 para Triângulo, filme a seis mãos dividido com Tsui Hark e com o herdeiro oficioso desta geração, Johnnie To. Acabaria por regressar à realização com Wild City (2015) e Sky on Fire (2016), filmes que foram modestamente recebidos, e preparava um novo título.
Ringo Lam foi encontrado morto na sua casa de Hong Kong pela esposa, na tarde de sábado, 29 de Dezembro.