Os homens que dominam o mundo

Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar.

Um presidente para a vida, um presidente para o futuro previsível e um presidente para o momento.

Estes são os três homens que dominam o nosso planeta e ultrapassam a influência dos “homens de Davos”: Xi Jinping da China, um homem com mandato ilimitado; o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, um líder que continua a prolongar sua vida política e o Presidente Donald Trump, um homem que alguns acreditam não acabar o seu mandato ou ser reeleito.

Estamos a atravessar uma nova era de homens que se julgam duros no limite da crueldade e um grande ego. Putin fortaleceu seu domínio sobre a política interna, enquanto intensificava a "guerra de influência" cibernética digital da Rússia com o Ocidente. O presidente da China alcançou uma espécie de imortalidade quando os seus pensamentos - não originais - foram consagrados na constituição do Partido Comunista. E Trump promulgou uma desconcertante hipocrisia da presidência dos EUA, misturando poder e ignorância num grau alarmante e perigoso.

A Rússia regressou aos três pilares em que assentou a ordem czarista: autocracia, ortodoxia e nacionalismo. Putin é candidato a Czar. Trump abandona os grandes princípios da hegemonia ocidental: o comércio livre e a globalização em troca do isolacionismo, proteccionismo, populismo e nacionalismo. Falando no congresso, Xi saudou uma "nova era" de prosperidade chinesa e poder global. E em Davos afirmou ser a China defensora da economia global e do multilateralismo podendo vir a transformar-se no centro das decisões globais.

Xi – o líder com melhor visão estratégica - não foi o único líder a beneficiar da ingenuidade de Trump, da afeição pelo autoritarismo e do egocentrismo facilmente explorado.

O corolário da ascensão “de homem duros” foi uma sensação de fraqueza debilitante entre as democracias ocidentais e de uma nova ordem internacional decadente no pós-guerra, cuja resposta efectiva do Ocidente aos conflitos e crises humanitárias pode ter entrado numa fase de declínio.

O poder crescente da China de partido único e da Rússia disseminando o autoritarismo em geral, bem como as regressões nacionalistas e populistas dentro da Europa ampliam o dilema. Os nacionalistas, na verdade, detestam a soberania dos outros, mas desprezam também a soberania dos seus próprios povos. As dificuldades do Ocidente foram agravadas pela incerteza sobre como lidar com Trump na governança de uma nova desordem mundial desorientadora de enfraquecimento da liderança global americana.

O que os três líderes mundiais exploram é um nacionalismo que visa proteger e expandir suas bases de poder: o proteccionismo de Trump como reflectido nas tarifas de aço e alumínio, com impacto numa guerra comercial com a China, mas negativa a nível global; as intervenções de Putin com novas ambições geopolíticas na Ucrânia, Europa e Médio Oriente; sem esquecer as reivindicações territoriais expansionistas de Xi no Mar do Sul da China no Pacífico.

Qualquer um desses argumentos potencialmente desestabilizadores seria motivo de preocupação. Mas ver os três ao mesmo tempo cria um mundo cheio de preocupação pelos riscos acrescidos.

Neste quadro, a corrida armamentista começou novamente com o anúncio de Putin sobre a nova geração de armas de destruição em massa da Rússia; Os russos parecem ter declarado uma nova fase na corrida armamentista nuclear em resposta aos novos sistemas de defesa antimísseis americanos.

O anuncio de Trump em rasgar o Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF), assinado em 1987, que ajudou a reduzir o risco de um confronto nuclear - entre as duas grandes potências – poderá ter consequências imprevisíveis em relação ao regresso da proliferação nuclear. Teria sido uma excelente oportunidade para negociar com a China que dele não faz parte. E, por isso, acabou por se ver forçada a uma reforma do armamento nuclear e actualização do seu poder aero-naval.

A geografia ainda é importante. Ora, como os EUA estão tão distantes, a sua única esperança é oferecer uma visão regional que possa ancorar seu poder militar na região Ásia-Pacífico.

Em relação à Coreia do Norte a resposta de Trump foi contraditória desde o início. Foi mantendo a perspectiva de conversações com Pyongyang, que culminou num encontro pessoal com Kim. Depois de ameaçar "destruir totalmente" a Coreia do Norte passou de uma fase de ameaça nuclear para uma “lua de mel” entre Trump e Kim, que não vai cumprir os acordos de desnuclearização.

O multilateralismo, a economia de mercado, a defesa dos direitos do indivíduo e a democracia liberal estiveram na base da nova ordem internacional criada depois da II Guerra. A integração europeia foi um dos pilares fundamentais dessa ordem, tal como a Aliança Transatlântica.

Contudo, numa fase em que as ameaças e riscos aumentam e a nova ordem caminha para a desordem internacional. Para a consternação da Europa, Trump foi rude – enfraqueceu a Aliança Atlântica - e depois quis ser simpático alterando mais uma vez o seu discurso.

A Europa tem sobrevivido a alarmes políticos incomuns como o caos do "Brexit" – triste acontecimento - para o Reino Unido, mas com efeitos negativos sobre todos os países europeus, entre os quais Portugal.

Os problemas da UE estão longe de estar resolvidos e a influência dos EUA será trocada pela da China. Os líderes mundiais estão confrontados com a crescente maré populista gerada por temores sobre a crise dos migrantes e refugiados, a instabilidade económica, o eurocepticismo, a perda de identidade e a velha xenofobia, que pode levar a UE à desagregação se não tiver uma só voz a nível internacional.

Assiste-se actualmente a um confronto geopolítico – tem como principais actores Trump, Putin e XI-, de dimensões imprevisíveis, por áreas de influência entre a Rússia-China e o Ocidente, pela reemergência da Rússia e China como potências da Eurásia. Fortalecidas pela cooperação trilateral entre a Rússia, China e Índia. Esse confronto resulta das ambições de Putin e XI e a da política externa errática de Trump para mistificar a sua politica interna.

A UE está numa encruzilhada e parece atravessar uma crise de identidade. Não se vislumbram estadistas com capacidade de refundação do projecto europeu e evitar o défice de democracia investindo em novas parcerias estratégicas como África. Além do mais, a UE devia constituir um exemplo de cidadania e solidariedade, bem como na transição energética e revolução digital. Mas o enfraquecimento do eixo Paris-Berlim – já não é o que se esperava - terá impacto negativo naquele projecto. O grande desafio é vencer o medo.

A grande beneficiária ao nível geoestratégico e geopolítico será a China, que a médio prazo será a maior potência económica pronta a ocupar o lugar dos EUA na globalização. Porém, Pequim ainda coloca imensas dificuldades ao investimento estrangeiro na China, enquanto beneficia da abertura dos mercados das grandes economias ocidentais. No entanto, Portugal – numa amizade que transcende o tempo - tem a oportunidade de estabelecer uma parceria voltada para o futuro potenciando a nova rota da seda.

Estamos perante um momento determinante na história – que não pode ser esquecida – em que o eixo político e económico do mundo se está a deslocar. Durante os últimos cinco séculos deslocou-se para o Ocidente dominante da ordem mundial. Todavia, este eixo está agora a deslocar-se para o Oriente. Sabemos o que isso significa para a Ásia que levou os EUA a alterarem a sua estratégia nacional.

É o Oriente indomável, onde existe uma enorme participação económica e estratégica. Deriva preocupante em tempos de incerteza sem que a racionalidade esteja a prevalecer.

O lado sombrio dos três homens “sábios” não seria pernicioso se compartilhassem visões de um mundo pacífico ancorado pela igualdade, liberdade e prosperidade se o impulso pelo poder pessoal fosse equilibrado por uma abordagem cooperativa e diferenciada dos problemas do planeta.

Com os três “homens sábios” no poder, as esperanças de segurança global e prosperidade mundial permanecem uma equação incógnita. E o actual ambiente estratégico permite que estes homens testem os limites até ao eclodir de um conflito sério entre os grandes poderes.

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