Três dias sem recolha deixam lixo empilhado nas ruas de Lisboa
Capital portuguesa é caso raro entre as congéneres europeias, onde a recolha é suspensa por menos tempo. Porto, Oeiras e Cascais também divergem.
E ressuscitou ao quarto dia. Esta quarta-feira os camiões de recolha de lixo saíram às ruas de Lisboa pela primeira vez desde sábado e encontraram um cenário que se tem tornado recorrente na capital: caixotes a abarrotar, sacos empilhados nos passeios, resíduos à solta por entre as pedras da calçada.
Foi esse o caso, por exemplo, na Avenida Infante Santo, onde durante toda a tarde de quarta estiveram expostas, na esquina com a Pampulha, dezenas de caixas de leitão assado, garrafas de cerveja, sacos de pão, muito papel de embrulho e até um puzzle. Mais adiante, a meio da Rua do Sacramento a Alcântara, alguém depositou a caixa que embrulhava uma televisão, sacos grandes cheios de papel, pacotes de leite ainda a escorrer. Paisagem idêntica na Praça da Armada: caixas de electrodomésticos, garrafas de vinho, latas de salsichas e restos de comida.
Todos os anos a situação se repete: nos dias 24 e 25 de Dezembro não há recolhas e a câmara municipal pede aos lisboetas que guardem o lixo em casa. Mas muitos resíduos, domésticos e comerciais, acabam na via pública, aí esperando uma ou duas noites por quem os venha buscar. Este ano, como o dia 23 calhou a um domingo, em que também não há recolhas, ainda mais lixo apareceu nas esquinas da cidade.
A política de não recolher o lixo na véspera e no dia de Natal, retomando o serviço apenas a 26 de Dezembro, faz de Lisboa um caso raro, se não único, entre as principais capitais europeias. Em Madrid não há recolha na noite de 24 e na manhã de 25, mas à tarde recomeça e com reforço de meios. Roma, a braços com uma crise de lixo sem precedentes, teve recolha ininterrupta este ano. Em Paris, onde o lixo é recolhido por serviços municipais em alguns arrondissements e por empresas privadas noutros, o único dia de paragem é o 1º de Maio.
Em Berlim e Londres, com sistemas em que o lixo é recolhido em dias específicos da semana consoante o tipo (orgânico, plásticos, papel, etc.), apenas no dia de Natal é que não houve qualquer recolha.
A realidade lisboeta contrasta também com a de alguns vizinhos portugueses. No Porto, esta quarta-feira amanheceu com a cidade mais limpa do que o habitual na quadra natalícia. A autarquia – que internalizou recentemente o serviço e vai renovar toda a sua frota em 2019, através do “aluguer ocasional” – reforçou os trabalhos no domingo, com “mais circuitos extra na recolha selectiva” e só suspendeu o serviço na noite de 24, retomando-o ainda ao final do dia de 25. A época foi usada também para promover a campanha da Lipor “Neste Natal reciclar é dar +” e o recente serviço de recolha selectiva porta-a-porta. Em média, informa a autarquia em respostas enviadas por e-mail, têm sido recolhidos através deste projecto “cerca de 34 toneladas por mês, o que supera a meta pré-definida”.
Na Grande Lisboa, Oeiras (que só suspendeu a recolha na noite de 24) e Cascais (que não suspendeu nenhum dia, apenas adaptou os horários) são dois municípios que divergem da capital. Já nos concelhos da Amadora, Loures e Odivelas a opção é a mesma: o lixo fica por recolher na noite de 24 e durante o dia 25, regressando o serviço a 26.
No fim do Verão, depois de meses em que as queixas sobre a higiene da cidade se avolumaram quase ao mesmo ritmo que o lixo se avolumava nos caixotes e nas esquinas, a câmara de Lisboa anunciou um conjunto de medidas para a Higiene Urbana, cuja direcção municipal até mudou de responsável para ter “um novo impulso”.
Há umas semanas foi lançado um concurso para a contratação de 93 cantoneiros e para o início do ano está prevista “uma grande campanha de sensibilização e comunicação que abrangerá toda a cidade” com vista a promover “comportamentos indutores da boa qualidade de higiene do espaço público”. Também em 2019 a autarquia espera começar a recolher lixo aos domingos, mas apenas em algumas zonas da cidade. Esta medida está ainda dependente de negociação com os sindicatos.