Chegar a técnico principal não pode ser uma obsessão

O desejo é natural, mas não é um drama se não se concretizar.

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Prof. Neca Catarina Morais/NFactos

Há exemplos de adjuntos que passam uma carreira na sombra de outro treinador e também há casos de quem, depois da experiência ao lado de outro técnico, ensaie voar a solo. Um e o outro caminho são legítimos, porque chegar à liderança de uma equipa técnica não é, necessariamente, um objectivo para quem desempenha funções de adjunto, sublinharam os treinadores ouvidos pelo PÚBLICO.

Raul José, por exemplo, está ao lado de Jorge Jesus desde 2005 – a relação entre os dois técnicos será interrompida com o regresso do adjunto ao Sporting, para exercer funções na estrutura do futebol “leonino”.

Ainda mais duradoura foi a ligação entre Flávio Murtosa e o ex-seleccionador português Luiz Felipe Scolari, com a dupla a trabalhar em conjunto durante várias décadas. Mas também há o exemplo de Vítor Pereira, que após um ano como adjunto de André Villas-Boas lhe sucedeu no comando técnico do FC Porto. O próprio Villas-Boas fizera parte da equipa técnica de José Mourinho durante vários anos – tal como Rui Faria, que este ano interrompeu a ligação de 17 anos ao técnico português, com o objectivo de abraçar novos desafios.

“Ou o adjunto está focado nas suas funções e esforça-se para contribuir da melhor forma e ajudar o treinador principal, ou então alguma coisa vai correr mal”, notou Vítor Severino, 35 anos, adjunto de Luís Castro no V. Guimarães. A postura do jovem técnico é de “encarar o crescimento de forma natural e estar preparado para tudo o que possa acontecer”, admitiu. “Considero-me uma pessoa ambiciosa mas não obcecada, nem apressada. Não vivo a pensar nisso. Se acontecer de forma natural, cá estarei. Mas não é uma obsessão”, reforçou Severino.

Adjunto de Lito Vidigal desde 2015-16, o prof. Neca encara a questão com naturalidade. “Essa pretensão é normal e justa. É legítimo querer ser treinador principal, desde que os processos sejam também legítimos”, vincou o treinador de 67 anos. “Se a oportunidade surgir com respeito por um trabalho organizado e planificado, é justo. Se for de forma diferente, não é correcto. Há quem procure colocar umas ‘cascas de banana’ para ver se o treinador principal resvala”, lamentou o adjunto mais velho da I Liga.

“Não faço questão de ser treinador principal”, confessou Pedro Marques Santos, de 39 anos, que esta época ocupa o lugar de adjunto na equipa sub-23 da Académica. “Não tenho problema absolutamente nenhum em integrar uma equipa técnica como treinador adjunto, ou tendo até funções específicas na área da condição física, da performance, ou da análise de jogo, desde que o treinador principal com quem estou a trabalhar olhe para mim e para todos os elementos que compõem a equipa técnica e os valorize”, explicou.

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