Passar o Natal de cabeça para baixo: senhoras e senhores, o circo

O Natal dos artistas circenses é passado na pista, longe de casa. Às vezes, perto da família mas só porque esta também voa com eles, na pista. Até 1 de Janeiro, o circo está de volta ao Coliseu do Porto. 

Paulo Pimenta
Fotogaleria
Paulo Pimenta

A sala escurece e a arena finge-se adormecida. Mas nas cadeiras do público já ninguém acredita. Senhoras e senhores, isto é o circo e qualquer silêncio, qualquer apagão, imita apenas a calma antes da tempestade. Vlada deve-nos ter ouvido porque saltou da caixa onde se enfiou: rápida, como um raio, sozinha no palco do Coliseu do Porto. Está agora apoiada num pedestal — primeiro no braço esquerdo, os músculos a tremerem e ela a trocar para o direito, as pernas numa linha comprida que parece não terminar nas pontinhas dos pés, cada um a apontar para um sentido diferente.

Vlada é ucraniana, tem 14 anos e o Festival de Monte Carlo à sua espera, já em 2019. Treina desde os quatro anos, agora seis horas por dia, seis dias por semana. Em Kiev, vai à escola mas estaria a mentir se não dissesse preferir os aplausos do espectáculo”. Ali, de cabeça para baixo — é assim que passa toda a actuação — esforça-se principalmente por “não pensar”. “Porque senão vou imaginar a minha melhor amiga e desatar a rir. Ela tem mesmo piada”, ri-se alto nos bastidores, mais nervosa agora do que antes de abandonar o palco num mortal à jogadora de futebol, executado com a pose de uma artista circense.

Além dela, várias vezes apresentada como “jovem promessa do circo europeu”, há mais seis números no circo do Coliseu do Porto Ageas, para ver até 1 de Janeiro. Incluindo um palhaço sem maquilhagem ou nariz (vermelho, entenda-se) e um jogo de lasers pensado por um lusofrancês que "pela liberdade do circo" abandonou o curso de professor de Filosofia.

Desde 1941 que a tradição natalícia se repete na cidade ao longo do período de festas — e, relembramos, livre de animais desde 2015. Só quando as cortinas se fecham pela última vez e se arrumam os adereços é que começa o Natal dos mágicos, palhaços, acrobatas. “Nós damos o Natal às pessoas. E celebramos a trabalhar, longe de casa.” Mas Valentin, metade da dupla romena de forças combinadas, tem sorte. Ali pode estar sempre de mãos dadas ao irmão mais novo. Ele via-o quase a voar e só pensava: “Quero muito estar ali também.” Agora, actuam juntos e são dos poucos que passam estes dias em família. “Ajuda muito sermos irmãos. Na conexão e em tudo o resto. É o mesmo sangue, sabes?”

Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta
Paulo Pimenta