Hospital Garcia de Orta faz menos 250 cirurgias por mês por falta de anestesistas
Redução significa uma quebra de quase metade das operações programadas que precisam de apoio de anestesia, diz Ministério da Saúde. Hospital de Almada tem plano de contingência para situações urgentes e oncológicas.
Por causa da falta de anestesistas o Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, está a realizar menos cerca de 250 cirurgias por mês. O que corresponde, explica o Ministério da Saúde numa resposta enviada ao PS, “a uma quebra de quase 50% na actividade cirúrgica programada com apoio anestésico”. O hospital criou um plano de contingência “por tempo indeterminado” para salvaguardar operações urgências e oncológicas.
Os problemas do HGO foram revelados numa resposta da administração daquela unidade ao Tribunal de Contas, no âmbito do processo sobre as falhas nas listas de espera do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Segundo noticiou a TSF há cerca de um mês, os responsáveis pediam medidas de excepção para evitar a ruptura, "a curtíssimo prazo", das cirurgias, admitindo que não conseguiam contratar especialistas devido, entre outras causas, “à sobrecarga e degradação das condições de trabalho".
Nessa altura PS e CDS questionaram o Ministério da Saúde sobre a situação, nomeadamente quantos anestesistas tinha o hospital perdido nos últimos seis anos e quantas cirurgias tinham sido alteradas ou desmarcadas. Também a Ordem dos Médicos visitou o hospital, lembrando que a falta de anestesistas afecta várias unidades do SNS.
Na resposta enviada aos socialistas, no dia 14 deste mês, o Ministério da Saúde esclareceu que, desde Outubro até agora, “de acordo com a informação prestada pelo conselho de administração do HGO, estão a realizar-se menos cerca de 250 intervenções cirúrgicas por mês (100 convencionais e 150 de ambulatório), o que representa uma quebra de quase 50% na actividade cirúrgica programada com apoio anestésico”.
As chamadas cirurgias convencionais são aquelas que implicam internamento hospitalar, enquanto nas de ambulatório os doentes têm por norma alta no mesmo dia da intervenção. O Ministério da Saúde adianta que, “para evitar a desmarcação e cancelamentos constantes”, o número de operações a realizar é ajustado semanalmente, tendo em conta os recursos disponíveis em cada momento.
Cerca de duas semanas antes, a 30 de Novembro, o Ministério da Saúde confirmava na resposta ao CDS a existência do problema. “Confirma o conselho de administração do HGO que aquele hospital tem actualmente a sua capacidade cirúrgica diminuída para cirurgias programadas, em virtude da falta de anestesistas, designadamente nas cirurgias de menor gravidade.” O gabinete da ministra Marta Temido dizia ainda que estavam “em apreciação” medidas de reforço de profissionais com vista a ultrapassar a situação.
Plano de contingência
Na resposta dada ao PS, o ministério adianta que nos últimos seis anos o HGO “perdeu um total de 13 anestesistas, encontrando-se actualmente um total de 11 médicos desta especialidade afectos ao mapa de pessoal”. Este problema e as dificuldades de contratação têm sido uma constante nos últimos anos. Esta quinta-feira, o ministério colocou a concurso 287 vagas para os jovens médicos que terminaram agora a especialidade hospitalar. Destas, 23 são para anestesiologia, uma das quais para o HGO.
Ainda na resposta enviada aos socialistas, o ministério admitiu que as medidas para melhorar o recrutamento de anestesistas podiam passar por melhorar o planeamento de necessidades, aumentar a formação e criar condições para uma maior equidade na distribuição de recursos. Disse também que fruto da redução de cinco especialistas nos últimos meses, o hospital criou um plano de contingência “por tempo indeterminado, que prevê salvaguardar as intervenções urgentes, neoplasias, doentes muito prioritários e prioritários”.
“Enquanto a situação persistir, e após consulta de hospitais públicos, encontram-se identificados pelo HGO alguns hospitais privados com disponibilidade de blocos e recursos de anestesia, onde os cirurgiões do HGO operam doentes de menor prioridade clínica e preferencialmente em regime de ambulatório”, esclareceu o ministério.