Foram detidos oito cúmplices do assalto de Tancos
Ex-militar que recebeu dinheiro para lhes passar informações encontra-se de férias em Espanha. Arguidos só deverão ser interrogados amanhã, terça-feira.
Foram detidos esta segunda-feira de manhã pela Unidade Nacional de Contra-Terrorismo oito homens suspeitos de terem ajudado o ex-fuzileiro João Paulino a furtar o material militar de Tancos há cerca de ano e meio, em Junho de 2017. São todos civis e de nacionalidade portuguesa, tendo alguns deles antecedentes criminais por tráfico de estupefacientes.
No total, foram conduzidas 20 buscas só nesta manhã. Em causa estão factos susceptíveis de integrarem crimes de associação criminosa, furto, detenção e tráfico de armas, terrorismo internacional e tráfico de estupefacientes, refere um comunicado conjunto da PJ e da Procuradoria-Geral da República, que adianta ainda que participaram nesta mega-operação três magistrados do Ministério Público e 85 investigadores.
Aveiro e Ansião e as imediações de Tomar são três dos locais onde estão a decorrer as buscas, que se estenderam ainda ao Algarve, a Albufeira. Poderá haver pelo menos mais uma detenção ainda durante esta segunda-feira. Trata-se de um ex-militar, um contratado do Exército que fazia serviço nos paióis e que terá recebido 30 mil euros para passar informações aos ladrões.
Este homem encontra-se de férias em Espanha neste momento, mas está previsto o seu regresso a território nacional. Preparava-se para ingressar na GNR. Outro dos detidos estará ligado ao roubo das pistolas Glock da PSP. Os arguidos só deverão ser interrogados pelo juiz de instrução criminal João Bártolo amanhã, e não já hoje. Ainda no âmbito da Operação Hubris, está esta segunda-feira a ser inquirido um militar do Exército que recebeu um mandado de comparência para ser ouvido pela autoridade judiciária, mas na qualidade de testemunha.
A maior parte do material furtado dos paióis em Junho de 2017 – quase 1500 munições de nove milímetros, mais de 100 granadas de mão de diferentes tipos, 44 granadas-foguete antitanque de 66 mm e várias cargas explosivas, como unidades de explosivo plástico – reapareceu três meses depois na Chamusca, numa encenação montada pela Polícia Judiciária Militar, que entrou em negociações com João Paulino para poder ser ela, e não a Judiciária civil, a ficar com os louros da operação.
Depois de as autoridades descobrirem de que forma tinham reaparecido as armas, foi aberto um inquérito que contava até agora com dez arguidos, incluindo cinco homens da PJM e três da GNR, os guardas do Núcleo de Investigação Criminal de Loulé a quem o traficante de armas recorreu para devolver as armas que tinha roubado.
Até ser recuperado, o material militar esteve escondido num terreno da avó deste traficante de armas, a cerca de 35 quilómetros de Tancos. Porém, tanto as munições como cinco granadas e várias cargas de explosivos continuam em falta. Depois de detido e interrogado, no final de Setembro passado, o ex-fuzileiro remeteu-se ao silêncio.
O processo em que é arguido o próprio director da Judiciária Militar, que entretanto saiu do cargo, levou à demissão do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e do chefe de Estado-Maior do Exército, tendo ainda suscitado a criação de uma comissão parlamentar de inquérito.
No início de Outubro passado, e na sequência das repercussões políticas do caso, o primeiro-ministro António Costa deixava uma crítica velada aos investigadores: “Falta esclarecer muita coisa, e desde logo a captura dos ladrões. Devemos confiar em que a justiça faça o seu trabalho e os ladrões propriamente ditos sejam presos.” Afirmações tão mais significativas quando nesta altura já se encontrava detido aquele que é considerado o principal assaltante, João Paulino.