Descoberta das armas de Tancos não permitiu identificar suspeitos
O material de guerra foi encontrado esta noite na região da Chamusca pela Polícia Judiciária Militar. PGR confirma e diz que inquérito prossegue.
Para já, a operação da Polícia Judiciária Militar, que decorreu na madrugada desta terça-feira, e que levou à descoberta de quase todo o material de guerra desaparecido de Tancos em Junho, não permitiu identificar suspeitos. Pode ser apenas uma questão de tempo. Segundo disse ao PÚBLICO fonte militar, a única pista nova é o local – um terreno ao abandono, de pastorícia, na região da Chamusca, onde o material terá sido colocado no dia ou dias anteriores e não há semanas ou meses.
A descoberta foi feita depois de uma denúncia anónima. Não foi possível chegar a ninguém, apenas a este local a umas poucas dezenas de quilómetros de Tancos, no distrito de Santarém. A Procuradoria-Geral da República confirmou entretanto à Lusa que o material foi recuperado e que o inquérito prossegue.
Caixas grandes escondidas
A Polícia Judiciária Militar encontrou caixas grandes escondidas que indiciavam conter material militar e que aparentavam ter sido assim removidas dos Paióis Nacionais. Elementos do laboratório da Polícia Judiciária Militar foram chamados para a inspecção ao local e recolha de vestígios e provas e depois foi solicitada a presença de uma equipa de engenharia do Exército especializada em explosivos para certificar que o material podia ser removido em segurança. Quase todo o material desaparecido foi encontrado, à excepção de algumas munições.
O facto de o material agora recuperado não ter sido destruído ou escondido de modo a não ser encontrado, afasta a tese de supostas ligações a redes terroristas, refere a mesma fonte militar. A descoberta não está relacionada com nenhuma pista seguida anteriormente pela Polícia Judiciária Militar mas a apreensão do armamento a poucos quilómetros da base de Tancos, onde se encontram os Paióis Nacionais, reforça a convicção deste órgão de investigação criminal de que o furto terá tido a cumplicidade de pessoas que estavam em Tancos ou por lá passaram.
Três paióis assaltados
Dentro das instalações de Tancos existem quase 20 paióis e apenas três foram assaltados, precisamente aqueles que tinham material relevante. Os restantes, alguns vazios, outros com pouco material, ficaram intactos depois do desaparecimento das armas em Junho.
Logo depois de o anúncio do desaparecimento das armas a 27 de Junho, os responsáveis militares e políticos garantiram que o material tinha sido roubado. Na semana seguinte, a 4 de Julho, o Ministério Público decidiu que o inquérito de “natureza urgente” ficaria a cargo do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), coadjuvado pela Polícia Judiciária com a colaboração da Polícia Judiciária Militar.
Embora não tivesse publicamente dito quais as quantidades exactas “para não prejudicar as investigações em curso”, o Exército esclareceu na altura que a quantidade era “do conhecimento das autoridades competentes e da tutela”, depois da contagem elaborada na presença da Polícia Judiciária Militar.
Lista do material na imprensa espanhola
A imprensa espanhola publicou a lista do material: quase 1500 munições de nove milímetros, mais de 100 granadas de mão de diversas valências, 44 granadas-foguete antitanque de 66 milímetros, várias cargas explosivas, nomeadamente explosivo plástico de elevada potência, e respectivos “gatilhos” para provocar a explosão. Pina Monteiro, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, revelou mais tarde que o valor deste material no mercado ronda os 32 mil euros.
O material recuperado encontrava-se esta quarta-feira nos Paióis de Santa Margarida, à guarda do Exército, onde estava a ser “realizada a peritagem para identificação mais detalhada", segundo informou a Polícia Judiciária Militar em comunicado.
PS quer ouvir ministro no Parlamento
O grupo parlamentar do Partido Socialista apresentou um requerimento para ouvir no Parlamento, "com carácter de urgência", o ministro da Defesa, José Azeredo Lopes. Contactado esta quarta-feira pelo PÚBLICO, o gabinete de Azeredo Lopes apenas fez saber que “tal como sempre foi afirmado pelo ministro da Defesa Nacional, será necessário aguardar pela conclusão da investigação criminal em curso para se conhecerem todos os contornos relativos ao furto de material de guerra” de Tancos.
No início de Setembro, o ministro deu voz a rumores que lançavam dúvidas sobre um efectivo assalto a Tancos, ao afirmar numa entrevista à TSF e Diário de Notícias: “No limite, pode não ter havido furto nenhum.”
Em sentido inverso, e na mesma altura, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestava preocupação: "Não só é importante apurar factos e eventuais responsabilidades, como apurar num tempo que seja um tempo o mais curto possível, por um lado, para o prestígio da instituição militar, e por outro lado também para a própria actuação interna da instituição militar.”