May diz que novo referendo pode "quebrar a fé do povo britânico" na democracia
A primeira-ministra britânica vai esta segunda-feira ao Parlamento dizer que a convocação de um segundo referendo "causaria danos irreparáveis à integridade da política" do Reino Unido.
Com o Reino Unido num impasse sobre o futuro do acordo para a saída da União Europeia, as vozes que defendem um segundo referendo tornam-se cada vez mais incómodas para Theresa May. Depois de um choque com o antigo primeiro-ministro Tony Blair, no fim-de-semana, May vai ao Parlamento, esta segunda-feira, dizer que "uma nova votação causaria danos irreparáveis à integridade da política" no país.
No domingo, Theresa May viu-se forçada a responder ao apelo do antigo primeiro-ministro Tony Blair a um novo referendo sobre o "Brexit". Dois dias antes, Blair afirmara que há agora "mais de 50%" de hipóteses de que a questão "seja devolvida ao povo".
Num discurso proferido numa acção de campanha em Londres, na passada sexta-feira, Tony Blair chegou mesmo a sugerir a Theresa May o melhor caminho para o país.
"Em última análise, isto [segundo referendo] até pode fazer sentido para a primeira-ministra, que poderia dizer, com toda a legitimidade: 'Fiz o meu melhor, o meu acordo foi rejeitado pelo Parlamento, e agora vocês, o povo, devem indicar a solução'."
Em resposta, Theresa May disse que as palavras de Tony Blair são "um insulto ao cargo que exerceu" e acusou o ex-primeiro-ministro de "sabotar" as negociações entre Londres e Bruxelas sobre o "Brexit".
Esta segunda-feira, a primeira-ministra regressa ao Parlamento britânico para reafirmar que, com ela, a possibilidade de um novo referendo não está em cima da mesa.
"Não quebremos a fé do povo britânico ao tentarmos organizar um novo referendo. Uma nova votação que causaria danos irreparáveis à integridade da nossa política, porque diria a milhões de pessoas que confiaram na democracia, que a nossa democracia não cumpre", dirá Theresa May aos deputados, a partir das 15h30, segundo avança a BBC.
"Uma nova votação que, provavelmente, não nos deixaria mais à frente do que a anterior. E uma nova votação que iria dividir ainda mais o nosso país, no preciso momento em que deveríamos estar a trabalhar para uni-lo."
Mas o adiamento da votação, no Parlamento britânico, do acordo alcançado entre o Governo de Theresa May e Bruxelas deu um novo fôlego aos defensores de um novo referendo sobre o Brexit – muitos, como Blair ou a sua antiga ministra dos Negócios Estrangeiros, Margaret Beckett, tentam passar a ideia de que uma segunda votação é cada vez mais inevitável.
"Uma nova votação seria diferente do referendo de 2016 porque agora sabemos mais sobre o que significa o 'Brexit'", disse Margaret Beckett, citada pela BBC. "Qualquer decisão no sentido de aplicar o 'Brexit' à força, sem verificar se tem o apoio continuado do povo britânico, só reforçará as divisões."
Do outro lado, um dos mais conhecidos e influentes defensores do "Brexit", Boris Johnson, escreve esta segunda-feira, nas páginas do Daily Telegraph, que um segundo referendo iria "provocar sentimentos imediatos, profundos e irreparáveis de traição".
"Este balbucio sobre 'O Voto do Povo' mina a nossa credibilidade e trata as pessoas com desdém", diz o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Theresa May e antigo mayor de Londres.