Fernanda Lamelas: de urban sketcher a marca de luxo

A arquitecta e artista Fernanda Lamelas decidiu pôr os seus talentos a render numa área que conhece bem, a do luxo. Os seus artigos estão nos museus mas também em lugares aparentemente improváveis, como a Cervejaria Ramiro, em Lisboa.

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Fernanda Lamelas já tem o seu trabalho em vários museus e estabelecimentos turísticos
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A artista e o marido António Luís Moura, que é também seu sócio
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A artista a trabalhar num pormenor de um lenço inspirado no Grémio Literário, em Lisboa
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Um esboço de um lenço
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O espaço na Praça da Figueira é atelier e loja
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O objectivo do casal é ter outras lojas
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A arquitecta tem em mente criar mais objectos de luxo
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Para cada padrão, as cores podem variar
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No futuro poderão existir outras dimensões de lenços

O que têm em comum as lojas das fundações Gulbenkian, em Lisboa, ou Serralves, no Porto; o Palácio da Pena, em Sintra; o Hotel Valverde ou a Cervejaria Ramiro, em Lisboa? Todas têm à venda lenços de seda com a assinatura de Fernanda Lamelas. E não são todos iguais, pelo contrário, cada um foi inspirado no sítio onde está à venda. Agora, a artista abriu o seu próprio espaço na Praça da Figueira, em Lisboa.

O percurso de Fernanda Lamelas começa na arquitectura, é responsável pelos projectos de muitas joalharias – por exemplo, a Ourivesaria Machado ou a Boutique dos Relógios –, mas é na pintura que dá azo à sua criatividade. Quando viaja, não leva uma máquina fotográfica, mas cadernos, pincéis, aguarelas. Admite que anda carregada e que o seu olhar é mais demorado sobre as coisas do que o dos comuns turistas. Não é fotografar e virar costas, mas, sim, ficar, contemplar, desenhar e pintar. Pertence a um colectivo de autores que desenham diários gráficos, os Urban Sketchers Portugal.

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Fernanda Lamelas decidiu pegar nos seus desenhos e transformá-los num produto de luxo: lenços 100% de seda. Inspira-se nos locais, umas vezes na sua arquitectura, noutras em temas icónicos. “É um olhar sobre o património nacional”, resume António Luís Moura, o sócio e marido da arquitecta, que com ela embarcou na aventura de criar um produto de luxo. “A marca tem de ser virada para o público internacional. É uma marca de raiz portuguesa mas internacional”, precisa. 

A loja abriu num espaço que já pertencia à família, que durante anos esteve ligada à importação de relojoaria e joalharia de luxo. Portanto, este é um ambiente que o casal conhece bem. “Queremos um posicionamento topo de gama, em pontos de venda prestigiados”, diz António Luís de Moura.

Esses são precisamente nos sítios que inspiraram Fernanda Lamelas. Tanto podem ser museus como palácios, hotéis de luxo ou restaurantes. É nas lojas desses locais que os lenços de seda estão à venda, mas também gravatas e lenços para homem, tudo em seda, que chega da Índia em bruto e é trabalhada em Portugal por artesãos.

Fernanda Lamelas anda já a pensar em que outros objectos poderá aplicar os seus desenhos, na loja – que é também o atelier onde trabalha – tem umas almofadas inspiradas num relógio do Hotel Valverde; mas podem ser outros, como lenços com dimensões maiores, por exemplo. “Também podemos pensar em jóias para fazer a partir destes desenhos”, avança António Luís Moura, que é o director de vendas e de marketing.

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O trabalho que Fernanda Lamelas está a fazer começa a ser reconhecido, diz a artista. “Fomos chamados à Direcção-Geral do Património Cultural. Temos 23 museus aos quais podemos chegar em 2019 e termos mais pontos de venda. Daqui a um ano teremos uma marca com alguma consistência”, acredita António Luís Moura. A marca vai estar na Maison Object, a feira de decoração em Paris.

Se até agora a experiência de António Luís Moura passava pela importação e distribuição, agora está noutro patamar. “Uma coisa era vender jóias e relógios, outra é seda. O segmento do luxo não é fácil e, em Portugal, falhamos muito porque somos bons a produzir, mas fracos a vender”, lamenta, dando os exemplos da indústria do calçado, que produz para grandes marcas de luxo internacionais mas que é incapaz de criar marcas portuguesas de renome. No vinho acontece a mesma coisa, acrescenta.

“O valor fica nas marcas internacionais. Ficamos muito contentes por fazê-lo, mas não acrescentamos valor às nossas marcas”, lamenta António Luís Moura. É disso que Fernanda Lamelas quer fugir. Por isso, criou um site internacional, uma loja digital em português, inglês e francês que vende para qualquer parte do mundo. “Temos de não ter medo de vender luxo, porque fazemo-lo com qualidade. Quando queremos vender barato, acrescentamos pouco valor”, afirma, justificando por que razão os lenços custam 120 euros e as gravatas 95 euros.

Embora o público que procure seja o estrangeiro, os turistas que vão aos monumentos ou às fundações, o casal acredita que “Portugal tem poder de compra e público para o luxo”. “Nem todos podem ir todas as semanas ao Gambrinus, mas podem daqui a dez anos porque vão festejar, ou seja, não é preciso ser-se rico para ter um momento de luxo. Qualquer pessoa pode tê-lo”, acredita António Luís Moura.

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