Quando Freddie Mercury era o tímido cantor dos The Hectics

Desde que estreou Bohemian Rhapsody, que se tornou esta semana na biografia musical mais rentável da história e na canção mais ouvida de sempre em streaming, que Freddie Mercury não mais parou de ser notícia. Agora fala-se dos The Hectics, o seu primeiro grupo, na Índia.

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Os The Hectics, primeiro grupo de Freddie Mercury, ao meio

Não se pode dizer que Freddie Mercury, que se celebrizou como cantor dos Queen, alguma vez tenha abandonado os holofotes da fama, mas dir-se-ia que depois da estreia de Bohemian Rhapsody, o filme sobre a sua vida e obra, que o interesse à sua volta voltou a ser fomentado.

Nos últimos dias ficou a saber-se que Bohemian Rhapsody, que estreou em Portugal no mês de Outubro, já é o filme biográfico musical mais rentável da história, gerando mais de 538 milhões de euros em receitas por todo o mundo, ultrapassando os 154 milhões só nos Estados Unidos. Desta forma o filme superou Straight Outta Compton, o filme biográfico sobre o grupo rap N.W.A., que gerou mais de 178 milhões de euros. E até Mamma Mia!, o filme de 1998 baseado nos suecos ABBA, já ficou para trás.

Acontece que a notícia surge poucos dias depois de se ter ficado a saber que Bohemian Rhapsody, o tema que dá o nome ao filme, ultrapassou o icónico tema dos anos 1990 do grupo Nirvana, Smells Like Teen Spirit, como a canção do século XX mais ouvida de sempre em streaming.

De tal forma o interesse à volta do cantor, que morreu em 1991, tem sido reacendido que voltam histórias que não se encontram no filme, nomeadamente sobre o seu passado antes de ter conhecido aqueles que viriam a ser os seus parceiros nos Queen. O filme começa com o encontro do cantor, então na faixa dos 20 anos, quando ainda se chamava Farrokh Bulsara, com Brian May e Roger Taylor, que viriam a ser o embrião dos Queen.

Mas não foram aqueles músicos os primeiros a acompanhá-lo na criação musical. É que antes de se transformar num ídolo global, Mercury havia passado a sua infância na Índia, onde começou a mostrar o seu talento nos The Hectics, a sua primeira banda.

Nascido no protectorado britânico de Zanzibar (actual Tanzânia), Bulsara foi para a Índia com a família. Começou por tocar violino aos oito anos e cantar no coro do colégio de Saint Peter, um internato conservador em Bombaim dirigido para as classes médias-altas da Índia dos anos 50, onde a professora de piano recomendou aos pais que tivesse aulas particulares. Foi aí que, tinha Mercury 12 anos, se formaram os The Hectics, mas não tiveram vida fácil nesse contexto.

Inspirados por Elvis Presley ou Fats Domino, apresentavam-se em eventos escolares cantando versões de nomes conhecidos do rock & roll, mas a sua música não era bem vista naquele ambiente conservador, tem sido agora lembrado. Mas a verdade é que, apesar de muito introvertido, já nessa altura era visível que o cantor se conseguia transcender por completo ao interpretar e dar voz à música. Aliás a sua timidez ainda há dias foi recordada pela sua biógrafa, Lesley-Ann Jones, que o descrevia em entrevista, como um homem "muito bem-educado e respeitável", mas também "muito tímido", apesar do à vontade com o qual se mostrava em palco.

Resta dizer que, em 1963, tinha então 17 anos, quando Farrokh abandonou a Índia, em direcção a Inglaterra, os The Hectics acabaram. Os outros quatro membros do grupo perderam o contacto com o seu vocalista tímido e, apenas muitos anos mais tarde – segundo um deles, Victory Rana – viriam a relacionar o discreto Bulsara com o extravagante Mercury, ao ouvir a sua singular voz.

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