Estivadores de Setúbal põem fim à greve e ao impasse na Autoeuropa

Trabalhadores e Governo confirmam ao PÚBLICO um acordo. Trabalho deve ficar normalizado a partir de segunda. Em Palmela viveram-se horas de ansiedade.

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ANDRÉ AREIAS/LUSA

Os trabalhadores do Porto de Setúbal aprovaram o acordo que vai pôr fim à greve às horas extraordinárias e também ao impasse na Autoeuropa que, nas últimas 48 horas, decidiu montar um gabinete de crise, dada a gravidade da situação criada pela falta de escoamento de carros. O acordo foi confirmado pelo PÚBLICO junto de trabalhadores do Porto de Setúbal e junto do gabinete da ministra do Mar, que tem uma conferência de imprensa agendada para as 11h30. Depois da ameaça de uma paragem forçada na fábrica de Palmela, afinal há uma solução para salvar os cerca de 21 mil carros da Volkswagen que aguardam escoamento.

Segundo o PÚBLICO apurou, os estivadores de Setúbal aprovaram o regresso às horas extraordinárias já na próxima segunda-feira em Setúbal. Estavam em greve desde 5 de Novembro, em solidariedade com os colegas de Leixões e Caniçal (Madeira), que se queixam de discriminação. O governo terá dado, nas últimas horas, garantias aos representantes sindicais de que vai ajudar a encontrar uma solução para o diferendo dos trabalhadores efectivos daqueles portos.

Carla Ribeiro, estivadora há nove anos e que participou no plenário realizado esta manhã nas instalações do Sindicato Nacional dos Estivadores e Actividade Logística, em Setúbal, disse que ao PÚBLICO que "o acordo foi aprovado por unanimidade, com mais de 150 trabalhadores presentes". Finda a reunião o presidente do sindicato, abandonou as instalações e rumou a Lisboa, para se juntar à ministra Ana Paula Vitorino e confirmar a ratificação do acordo dos trabalhadores. "Não estamos completamente felizes, apenas por causa das escolhas que foram feitas", disse Carla Ribeiro, aludindo aos 56 trabalhadores eventuais que vão assinar contratos de trabalho por tempo indeterminado.

Os termos da proposta levada a votação nesta sexta-feira de manhã indicavam que a greve deverá, no entanto, manter-se no Porto de Leixões. O que não afectaria o escoamento dos carros da Autoeuropa. Isto significa que o acordo fechado desde 30 de Novembro, para a contratação de 56 trabalhadores eventuais, pode avançar, uma vez que estas contratações estavam dependentes do fim da greve às horas extraordinárias. Neste novo cenário, ficará resolvida a situação que afligia a administração da Autoeuropa, o Governo português e a casa-mãe da Volkswagen, na Alemanha, que estava a ponderar desviar para Espanha os motores destinados a Portugal.

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56 trabalhadores precários vão assinar contrato

Na última noite, houve contactos entre todos os interlocutores, para encontrar uma solução para o problema da falta de escoamento. A unidade de Palmela montou um gabinete de crise. Os trabalhadores, segundo uma fonte da Comissão de Trabalhadores contactada pelo PÚBLICO, continuavam a trabalhar normalmente, produzindo 865 carros por dia, mas foram alertados para a possibilidade de serem forçados a parar "por tempo indeterminado", porque na sede da Volkswagen, em Wolfsburgo, se começou a questionar o envio de motores para Portugal, tendo em conta que a produção não estava a ser escoada.

Para a marca alemã, a situação estava a tornar-se insustentável e na Alemanha estava-se disposto a tudo para encontrar uma solução. No pior dos cenários, o de não haver uma solução, o caminho seria desviar os motores destinados a Portugal para uma unidade em Navarra. Mas essa solução deitava por terra os ganhos que havia obtido com o acordo laboral que tinha selado com os trabalhadores de Palmela, pelo que ninguém queria enveredar por aí. Muito menos o governo português, que se desmultiplicou na última noite em contactos e negociações de última hora, à procura de uma saída.

Em Palmela, segundo disse uma fonte ao PÚBLICO, as últimas horas foram de "grande ansiedade e até de algum caos". Impedida de escoar a produção, a fábrica portuguesa estava a recorrer à base aérea do Montijo para guardar os carros que não estavam a ser transportados para o destino. A capacidade da base não estava esgotada, mas a paciência alemã em Wolfsburgo estava no limite. A casa-mãe entendia que não fazia sentido continuar a fornecer motores a Palmela – quando outras unidades têm de parar por falta de motores – se Portugal não conseguia garantir o escoamento da produção. Neste contexto, temia-se uma paragem forçada por tempo indeterminado. "Estamos todos na expectativa em relação ao que a ministra vai anunciar", disse um dos representantes dos trabalhadores ao PÚBLICO.

A Autoeuropa tinha anunciado uma paragem entre 22 de Dezembro e 3 de Janeiro, devido à falta de motores, um problema que tem afectado diversas unidades da Volkswagen em toda a Europa. E que se deve às mudanças na procura, com uma maior predominância nas motorizações a gasolina em detrimento dos carros a diesel. Trabalhadores e gestão chegaram a acordo que seria melhor juntar essa paragem forçada à época festiva, retomando a laboração no início de 2019, dando assim tempo aos fornecedores de componentes para que entreguem os componentes necessários à fabricação de novos motores. Com Mariana Adam e São José Almeida

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