A domesticação do milho tem uma nova história
O processo começou há cerca de nove mil anos no México e o milho saiu de lá sem estar totalmente domesticado.
Hoje o milho é um alimento incontornável. Mas como ocorreu a sua domesticação? Uma equipa internacional de cientistas de 14 instituições afirma num artigo científico desta sexta-feira na revista Science que a sua história de domesticação é mais complexa do que se pensava. Concluiu-se que o milho iniciou a sua jornada migratória sem estar totalmente domesticado.
Sabe-se que o processo de domesticação do milho começou há cerca de nove mil anos no México e que tem como antepassado o teosinto. Mas havia pormenores na sua domesticação que não eram claros.
Como tal, reconstituiu-se a história evolutiva do milho através da comparação genética entre mais de 100 variedades modernas de milho das Américas, incluindo 40 variedades agora sequenciadas. Muitas das variedades foram recolhidas com a ajuda de indígenas e agricultores tradicionais. Nesta análise foram ainda considerados 11 genomas de plantas antigas. No final, traçaram-se as relações genéticas e descobriram-se diferentes linhagens.
“Com a análise de amostras arqueológicas com 5600 anos do México, onde geneticamente se nota que ainda não tinham os alelos [variantes de um gene] fixos típicos de uma planta de milho domesticada, mostra-se que o milho levou mais tempo até ter características em que se pode considerar que estava domesticado”, diz ao PÚBLICO Fábio de Oliveira Freitas, da Embrapa — Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (pertencente ao Estado do Brasil) e um dos autores do artigo. “Também [vimos] que variedades de milho ‘semi-domesticado’ foram difundidas para outras regiões das Américas antes de o processo de domesticação ter findado no México.”
Percebeu-se ainda que houve duas levas de difusão do milho para a América do Sul: a primeira de cerca de há seis mil anos, ainda com o processo de domesticação em andamento; e a segunda há mil anos, já com o milho domesticado. “Mesmo o milho tendo iniciado a migração não totalmente domesticado, ainda assim tinha na sua estrutura genética todos os componentes que permitiam que o processo evolutivo fosse continuado e o tornasse domesticado”, refere Fábio Freitas, acrescentando que foi no Sudoeste da Amazónia que o processo de selecção e domesticação do milho (da primeira leva) foi concluído. O milho encontrou então na Amazónia um segundo centro de desenvolvimento.