Saiu o jackpot na Feira Popular e Medina quer gastá-lo em casas

Fidelidade ficou com os terrenos por 274 milhões de euros, mais 86 milhões do que o preço-base. Autarca anunciou que esse dinheiro vai financiar habitação com renda acessível.

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Venda esteve marcada para 12 de Novembro, mas foi sucessivamente adiada por dúvidas do Ministério Público daniel rocha

Três anos depois da primeira tentativa de venda e um mês mais tarde do que o originalmente previsto, os terrenos da antiga Feira Popular de Lisboa, em Entrecampos, conheceram esta quarta-feira novo dono: a Fidelidade Property, empresa do grupo Fidelidade, cuja sede vai ali ser construída. A seguradora desembolsou 238,5 milhões de euros pelo espaço da antiga feira e arrematou ainda um terreno na Avenida Álvaro Pais por 35,4 milhões de euros.

A operação rendeu assim quase 274 milhões de euros à Câmara de Lisboa, cerca de 86 milhões acima do preço-base estabelecido. Pouco depois da hasta pública, Fernando Medina apareceu perante os jornalistas e declarou que este foi “um dia de grande importância para a cidade” e de “grande felicidade”. O autarca anunciou que a receita extraordinária de 86 milhões será “integralmente afecta a habitação para as classes médias”.

No âmbito da chamada Operação Integrada de Entrecampos, em que a venda destes terrenos se inseriu, a câmara prevê construir 500 fogos de habitação com rendas controladas na Avenida das Forças Armadas. Já estava previsto que o dinheiro arrecadado com a alienação da antiga Feira Popular servisse para financiar essa pretensão, mas Medina comprometeu-se a “ir mais longe”, embora não tenha especificado como.

O presidente da câmara afirmou que a venda desta quarta contribui para “a resolução de um problema urbano” e representa “uma nova esperança para as famílias” devido ao reforço de investimento agora anunciado. Fernando Medina congratulou-se ainda com a quantidade de dinheiro que vai entrar nos cofres da autarquia (mais de 300 milhões de euros, com impostos) e com o que diz ser o impacto positivo da operação urbanística na economia nacional. “Cerca de meio ponto do PIB é o que o investimento em Entrecampos vai gerar”, afiançou.

Um leilão disputado

Ao fim de um mês em que Ministério Público e câmara esgrimiram argumentos sobre a legalidade da Operação Integrada de Entrecampos, abriram-se finalmente os envelopes com as propostas das três empresas concorrentes à hasta pública: além da Fidelidade, a Dragon Method e a MPEP.

Logo no início da sessão ficou a saber-se que a Fidelidade ficaria com o lote B2, na parte norte da antiga Feira Popular, pois foi a única a apresentar proposta: 67.100.010 euros, mais dez euros do que o preço-base. Nesta zona, com 8544 metros quadrados, ficarão os 279 fogos de habitação que, ao contrário dos previstos para as Forças Armadas, não se destinam a renda acessível, podendo portanto ser arrendados ou vendidos a preços de mercado.

O leilão iniciou-se pela Parcela A, 11 mil metros quadrados de terreno junto à estação de Entrecampos com um potencial de construção de 58 mil metros quadrados. Os representantes da Fidelidade e da MPEP fizeram dezenas de licitações, fazendo o preço subir rapidamente para os 65 milhões. Aí chegados, a Dragon Method entrou na corrida e fez dois lanços (250 mil euros cada), mas a Fidelidade acabaria por vencer a disputa. Ao fim de 50 minutos, arrematou o terreno por 83.100.010 euros – mais 37 milhões do que a base.

A luta pelo lote B1, correspondente à parte central da antiga feira, com uma área de 9152 metros quadrados e potencial construtivo de 59 mil, foi apenas entre a Fidelidade e a MPEP. Com uma base de licitação de 47,3 milhões de euros, os terrenos valorizaram 30 milhões no espaço de vinte minutos e, após umas renhidas raquetadas, acabaram nas mãos da Fidelidade por 88.300.010 euros – mais 41 milhões do que o inicialmente previsto.

Por fim foi à praça a Parcela C, um terreno de seis mil metros quadrados na Avenida Álvaro Pais com preço-base de 27,9 milhões de euros. A venda foi decidida com relativa rapidez, depois de a Dragon Method deixar de responder às licitações da seguradora detida pelo grupo chinês Fosun. O terreno alienou-se por 34.400.010 euros.

Começa assim a ganhar corpo a Operação Integrada de Entrecampos, com o qual a câmara quer revolucionar a zona. Para o espaço da antiga Feira Popular está previsto um centro empresarial com capacidade para 15 mil pessoas, os tais 279 fogos de habitação, espaços verdes e algum comércio. No terreno da Álvaro Pais deverá nascer um empreendimento de escritórios. Fernando Medina prometeu esta quarta-feira um “licenciamento expedito” para que as construções não demorem muito.

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