Armando Vara acusa Carlos Alexandre de “vingança”
“Como é que teria sido a minha vida durante estes 10 anos se tenho aceitado ajudar o juiz Carlos Alexandre como me foi solicitado?”, questionou o antigo ministro socialista, condenado a cinco anos de prisão no âmbito do caso Face Oculta.
Armando Vara, ex-ministro socialista condenado a cinco anos de prisão efectiva no âmbito do processo Face Oculta, afirmou esta segunda-feira em entrevista à TVI que não vai aguardar pela ordem de prisão e que irá apresentar-se voluntariamente para cumprir a pena. A condenação de Vara está prestes a tornar-se definitiva, porque já não há a possibilidade de mais recursos.
Vara, condenado por três crimes de tráfico de influência, reiterou a sua inocência, criticando erros de justiça, a pressão mediática exercida sobre o processo e o papel do juiz Carlos Alexandre, acusando o magistrado [que fez presidiu à fase de instrução do caso Face Oculta e que dirigiu a instrução da Operação Marquês] de agir “com uma lógica de vingança”.
“Como é que teria sido a minha vida durante estes 10 anos se tenho aceitado ajudar o juiz Carlos Alexandre como me foi solicitado?", questionou o antigo ministro-adjunto e ex-secretário da Administração Interna, aludindo de seguida a uma pergunta feita pela jornalista Judite de Sousa a Marcelo Rebelo de Sousa, então comentador na TVI, sobre um alegado interesse por parte do juiz no cargo de director do SIS (Serviços de Informação de Segurança).
“Não foi feito só a mim. Façam o vosso trabalho”, disse.
Vara defende que toda a acusação de que foi alvo “é absurda desde o primeiro momento”, prosseguindo o ataque a Carlos Alexandre. “Sempre quis ir mais longe. Se um diz mata, outro diz esfola. Ele não é e nunca foi imparcial", disse, acusando ainda o juiz de se ter atribuído "manualmente a si próprio" os processos Face Oculta e Operação Marquês.
"Fui condenado sem provas"
“Fui condenado sem provas, uma aberração, provas zero. Não há uma prova de que recebi 25 mil euros e prendas. A polícia foi a minha casa e não encontrou nada em lado nenhum”, afirmou sobre as acusações de que foi dado culpado no caso Face Oculta, afirmando ter exercido mas não traficado influências: “Tráfico de influências? Ligar para uma pessoa que eu conheço?"
Vara afirmou que os juízes do processo “deixaram-se influenciar pela máquina de propaganda do Ministério Público e por toda a pressão dos órgãos de comunicação social”, acusando "um grupo que tomou o poder no Ministério Público" de ter “uma agenda politica que, no limite, põe em causa a democracia". O antigo ministro deixou ainda críticas às instâncias de recurso, e em concreto ao Tribunal da Relação do Porto, acusando-as de "fazer copy-paste" das sentenças originais.
Recorde-se que a Vara foi condenado em Setembro de 2014 no Face Oculta por três crimes de tráfico de influência. O tribunal de Aveiro deu como provado que, a pedido do empresário das sucatas Manuel Godinho, Vara exerceu influência junto do ex-ministro das Obras Públicas, Mário Lino, para destituir a então secretária de Estado Ana Paula Vitorino e o presidente do conselho de administração da Rede Ferroviária Nacional, Luís Pardal, com quem o empresário mantinha um diferendo. Em contrapartida, Vara recebeu de Godinho?, concluíram os juízes, 25 mil euros e várias prendas.
As escutas das conversas de Vara permitiram aos investigadores registar Lino a comunicar ao antigo ministro socialista que ordenara a Luís Pardal que se reunisse com Manuel Godinho com vista à resolução do diferendo que opunha a Refer à sua principal empresa, a O2.
Também sobre o processo Operação Marquês, o antigo ministro socialista afirmou que "todas as acusações" de que é alvo "são mentira".
"Não existem provas de actos de corrupção”, reiterou, lamentando ainda a inclusão da sua filha no processo. Ela que, disse Vara, “só se limitou a confiar no pai".