É quase Natal e Los Angeles brilha ainda mais do que o costume. As ruas recebem-nos enfeitadas e iluminadas à grande e à americana, mil e uma colunas de som convidam-nos a cantarolarmos canções de Natal — ainda que, depois de nos cruzarmos com Lionel Richie à porta de um hotel em Beverly Hills, só nos venha à cabeça a letra de Hello... Mas bem pode o Natal, Los Angeles e as suas estrelas brilharem até ao excesso, que, por estes dias, o que mais ofuscou os cerca de 500 jornalistas que a Mazda levou ao coração da “Cidade dos Anjos” para a revelação mundial do novo Mazda3 foi o brilho da pintura Red Soul Crystal do hatchback de cinco portas e Machine Gray do três volumes. Reflexos e brilhos sabiamente usados pelos designers para criarem o almejado movimento da filosofia Kodo num modelo que se pretende global e premium.
A estreia foi feita à margem do Salão Automóvel de Los Angeles, a decorrer até 9 de Dezembro naquela cidade norte-americana (e ao qual voltaremos na próxima edição), no simbólico NeueHouse, um espaço que se descreve como “uma casa para novas ideias, pessoas, conversas e experiências” e que se situa na badalada Sunset Boulevard. No centro das atenções, está um dos modelos mais vendidos pela marca nipónica, que, na Europa, mesmo em fim de carreira, após o facelift de 2014, conseguiu manter o ritmo alucinante de vendas dos SUV CX-3 e CX-5, que detêm actualmente o título de best-sellers. Globalmente, refira-se, já foram comercializadas mais de seis milhões de unidades do familiar, desde o seu lançamento, em 2003.
Nesta nova geração, em que surge assente numa nova plataforma (Skyactiv-Vehicle Architecture, SVA), a estrear novos motores e a exibir um design cuja filosofia foi amadurecida, o compacto familiar continua a apresentar-se como apenas um modelo, mas veste a pele de duas carroçarias que não podiam ser mais distintas, rompendo com a ideia feita de que as variantes de um mesmo automóvel devem obedecer aos mesmos códigos estéticos. Mas o departamento de Design da Mazda, liderado pelo visionário Ikuo Maeda, não é propriamente conhecido pelo seu conservadorismo e as opções arrojadas não têm dado maus frutos, pelo menos se se tiver em conta o número de prémios amealhados. Por isso, nada como analisar cada uma das versões reveladas ao pormenor.
E tendo o mercado luso uma queda pelos hatchbacks, nada como começar por este. De carácter desportivo, o cinco portas é apresentado como um “espírito livre, determinado em seguir as suas próprias convicções”. Para tal, as arestas, que se poderiam esperar mais vincadas dado o mote aguerrido, foram substituídas por longas áreas curvas que ganham formas ao reflectirem as luzes à sua volta — um pequeno truque que a Mazda já tinha testado nos aplaudidos concepts RX-Vision (2015), Kai e Vision Coupe (2017), mas que só chega à produção em série agora com o Mazda3. Confessamos o nosso cepticismo quanto à traseira arredondada, mas sabemos que nenhuma avaliação será justa antes de o vermos em circulação. Afinal, a expressão “alma em movimento”, que a marca associa à palavra Kodo, não é à toa... A reflectir a garra com que parece querer alapar-se à estrada estão uma nova e maior grelha dianteira e umas taciturnas ópticas de meter respeito. De referir que com o hatch a Mazda inaugura ainda uma nova cor: Polymetal Gray, que funde as aparências plástica e metalizada e que também muda consoante a luz.
Num workshop de design, que a marca organizou em Ílhavo, no início do ano, o director do estúdio europeu, Kevin Rice, explicava que o objectivo da evolução da linguagem Kodo passa por “trazer a arte para o quotidiano”, com desenhos automóveis que revelam o delicado equilíbrio da “beleza subtil e contida” mas “rica e abundante”. Esse equilíbrio parece ter sido alcançado num sofisticado sedan, cujo primeiro impacto remete para um segmento superior. A marca descreve a berlina como “uma senhora ou senhor que combinam dignidade com um forte traço individualista”, cuja opção pela “formalidade e estilos tradicionais esconde uma beleza peculiar de tirar o fôlego quando vislumbrada”. A Mazda não se coíbe em afirmar que “aspirou a criar o mais lindo sedan do seu segmento”. Nós arriscamos acrescentar um “e conseguiu!”.
Quando um gasolina recebe o melhor de um Diesel
Se em termos de design a Mazda parece ter acertado bem no centro do alvo, os novos motores não baixam a fasquia ao prometerem uma maior eficiência em linha com o compromisso Zoom-Zoom 2030, uma nova visão a longo prazo no domínio do desenvolvimento tecnológico que pretende, sem descurar o prazer de condução, procurar soluções para os desafios que o planeta, a sociedade e as pessoas enfrentam em termos de preservação do ambiente.
E esse futuro não deveria ser eléctrico?, perguntámos em Ílhavo ao presidente e CEO da Mazda Europa. Ao contrário do que poderíamos esperar, pela aposta neste novo motor que, na altura, conduzimos em versão ainda de testes, Jeffrey H. Guyton não tem dúvidas de que o futuro será efectivamente eléctrico — mas um futuro distante, uma vez que ainda falta encontrar uma solução para as zero emissões no processo que vai da origem ao fim da cadeia, a designada Well-to-Wheel (do poço à roda, numa tradução literal). Até lá, a Mazda prefere continuar a explorar o que os motores de combustão interna ainda têm para dar.
O novo Mazda3 é o primeiro modelo comercial a apresentar algumas das tecnologias que fazem parte dessa visão: além da plataforma SVA, cujo conjunto de evoluções estruturais promete uma condução ainda mais intuitiva e que só poderemos comprovar depois de um contacto dinâmico, um novo e ambicioso motor a gasolina, o Skyactiv-X, que alia as vantagens dos blocos a gasolina às dos Diesel, afirma-se como o primeiro cuja ignição se faz por compressão.
Uma verdadeira revolução se se tiver em conta que, até aqui, apenas os motores Diesel funcionavam assim, já que os blocos a gasolina necessitam de uma vela de ignição, cuja centelha provoca a explosão da mistura ar/gasolina. O que os engenheiros da Mazda conseguiram foi montar um sistema que, não excluindo a vela de ignição, executa a combustão da mistura ar/combustível por compressão.
Feito em dois tempos — o primeiro, com uma mistura de ar/gasolina pobre, a ser comprimida; o segundo, com a admissão de uma mistura rica, mesmo junto à vela de ignição, que por sua vez recebe da centralina o comando para disparar quando detecta as condições ideais. O que acontece é que, dada a pressão existente, a combustão dá-se junto à vela mas, na mesma medida, em toda a câmara. O resultado é uma queima mais eficiente, recorrendo a menos gasolina, baixando consumos e emissões, aumentando simultaneamente o binário disponível.
Entre a gama, haverá ainda lugar para os revistos e melhorados Skyactiv-G, de 1,5, 2,0 e 2,5 litros, e Skyactiv-D, de 1,8 litros.
O melhor dos dois mundos que já não chega a tempo para pôr no sapatinho neste Natal: o Mazda3 dar-se-á a conhecer dinamicamente apenas em Fevereiro de 2019 (a saber, em Portugal, com Sintra como cenário), sendo lançado comercialmente algum tempo depois. Mas, nada como começar já a fazer a lista para enviar ao Pai Natal no ano que vem...