Em Wall Street, os homens já não querem estar ao lado de mulheres
Os efeitos do movimento MeToo estão a fazer com que os homens evitem viajar ao lado de mulheres. Ou, se estiverem em reuniões privadas, manterem a porta aberta. Em vez de assistir a uma correcção de comportamentos, as mulheres estão a ser excluídas e os homens afastam-se de uma queixa de assédio sexual para serem acusados de discriminação com base no género, explica um advogado especialista em questões laborais.
A denúncia de casos de assédio e abuso sexual teve um preço em Wall Street: o afastamento das mulheres. A Bloomberg revela esta segunda-feira que, no centro financeiro de Nova Iorque, as mulheres estão a ser preteridas pelos executivos masculinos. Para evitar casos de assédio ou abuso, no lugar da correcção dos comportamentos está a promover-se a eliminação de situações onde aqueles podem acontecer. Como consequência, as mulheres estão a ser afastadas. Um ano depois da popularização do movimento MeToo, Wall Street arrisca-se a tornar-se, novamente, um clube “só para rapazes”.
Mais de três dezenas de executivos seniores em Wall Street estão “assustados” com o movimento MeToo. “Está a criar uma sensação de andar sobre ovos", exemplificou David Bahnsen, ex-director administrativo do banco de investimento Morgan Stanley e actualmente consultor independente.
Stephen Zweig, advogado especialista em questões laborais da FordHarrison, ressalva que existe o risco de as empresas não tomarem medidas para que estes abusos sejam denunciados. Ao mesmo tempo, as empresas não garantem que os responsáveis em cargos superiores estejam disponíveis para lidar com os problemas de abuso. “Se os homens evitam trabalhar ou viajar com mulheres sozinhos com medo de ser acusados de assédio sexual, esses homens afastam-se de uma queixa de assédio sexual para serem acusados de discriminação com base no género”, afirmou o advogado.
À semelhança de Mike Pence — o vice-presidente norte-americano afirmou que evitava jantar sozinho com mulheres que não sejam a sua mulher —, os homens entrevistados pela Bloomberg contam que estão cada vez menos com colegas do sexo feminino, especialmente se forem “jovens ou atraentes” com receio dos rumores ou das potenciais “mentiras”, descreve um deles.
Ao serem excluídas de jantares de negócios ou de encontros casuais após o trabalho, as mulheres são excluídas dos laços de ligação entre colegas e afastadas das decisões.
Deixar de reunir com mulheres ou manter a porta aberta em reuniões privadas são algumas das estratégias equacionadas pelos executivos.
Lisa Kaufman, chefe executiva da LaSalle Securities, nota que para evoluir profissionalmente em Wall Street é necessário ter um mentor. “Não existem ainda mulheres suficientes para ajudar a próxima geração. A evolução requer tipicamente que alguém de um nível mais sénior conheça o teu trabalho e te dê uma oportunidade. Isso é difícil se a pessoa não estiver disposta a estar sozinha com o membro júnior”, afirma.