Explorador da National Geographic. Talvez seja algo muito extravagante, ou muito fixe, para preencher no questionário da escola quando a pergunta que surge é esta: profissão do pai? Lilliana Libecki habituou-se a fazê-lo, porventura nem sempre reconhecendo a extravagância que existe nisso. Era a realidade que conhecia. Ponto. Habituou-se a ver o pai através do ecrã, nos intervalos das subidas a um dos picos mais altos, ou mais remotos, ou mais difíceis, ou mais qualquer coisa. O pai, Mike Libecki, tem sempre um novo objectivo para superar. Agora com 15 anos, Lilliana também já poderia dar a mesma resposta se tivesse de entregar um cartão profissional. Ela ainda não tem, oficialmente, uma profissão, ainda é uma estudante de liceu no estado da Califórnia, nos Estados Unidos da América. Mas a verdade é que já é exploradora, já acompanhou expedições com a National Geographic e, até, já é a co-fundadora de uma Fundação, a Joyineering Foundation, que pode dizer que no Verão passado ajudar a equipar com electricidade (luz solar) e computadores uma comunidade com 90 crianças no Aranuchal Pradesh, na Índia.
Lilliana habituou-se ao estilo de vida do pai, e começou a querer ir com ele. Ele fez-lhe a vontade aos nove anos, mas exigiu algo em troca: tinha de tirar muito bom a todas as disciplinas na escola. “A minha preocupação era que ela demonstrasse que merecia isso, que lutava por isso. Ter um estilo de vida como o que lhe estamos a proporcionar, poder viajar pelo mundo, não é um dado adquirido. Tem de ser algo que ela quer. Tem de lutar por ele”, explicou Mike Libecki, durante a primeira sessão do National Geographic Exodus Aveiro Fest, que decorre durante este fim-de-semana em Aveiro.
Lilliana cresceu a ver no pai a paixão pela diversidade do mundo, a pulsão pela descoberta, e, sobretudo, a alegria de viver cada um dos dias como se fosse o último [os lemas de vida que segue e persegue são “time is now”/o momento é agora; “life is sweat”/ a vida é bela; “why rationate passion?”/porquê dosear a paixão ]. Até que elegeu ela própria um objectivo a perseguir: “give back”, isto é, devolver ao mundo um pouco do muito que ele nos dá. Seja participando numa acção de voluntariado, seja alterando um comportamento que vai poupar os recursos do planeta. “Quero inspirar as pessoas, sobretudo as da minha idade, mostrar-lhes que é normal termos esta vontade de devolver”, diz Lilliana num dos vídeos que levou à apresentação.
Lilliana não falou muito, e deixou sempre o microfone ao pai para responder às perguntas que vieram da plateia. Como aquela que lhe deixaram sobre como era articular a educação formal com as expedições mais ou menos longínquas, ou, então, como é que ela tinha conseguido ser Exploradora da National Geographic aos 15 anos, já que esse é o sonho de muita gente. Mas foi Mike quem respondeu que por detrás de todas as histórias há sempre alguém especial, e que no caso da formação da Lilliana, a heroína é a mãe, que fica sempre por perto a zelar que tudo corre bem quando ele anda a trepar montanhas e a perseguir lugares remotos. Sobre ser exploradora da organização que assinala este ano os 130 anos da fundação, Mike admite que ele pode ter aberto algumas portas. “Mas é a Lilliana que tem de trabalhar por isso, lutar para estar preparada, definir objectivos, lutar para atingi-los. A minha preocupação é que ela descubra o que quer fazer na vida e que lute por isso”, terminou.
Bernardo Conde, que teve a ideia deste festival – e a quem os presidentes da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, e do Turismo do Centro, Pedro Machado, agradeceram por ter colocado Aveiro no roteiro internacional da fotografia e do vídeo –, bateu várias vezes nessa mesma tecla. A de que é importante ter a curiosidade de conhecer, de ir, de experimentar. “Talvez conhecendo as diferenças, saibamos respeitá-las. Haverá mais tolerância entre todos”, sintetiza. E a de que “é importante ter um objectivo”, que está na altura de tirar os projectos que estão arrumados nas gavetas e ir tentar mudar alguma coisa e pensar sempre que o planeta “é a nossa casa”.
No final dos discursos oficiais do arranque do festival, já quando os 700 lugares da sala estavam cheios e havia gente sentada nos degraus, e ainda antes de começarem as comunicações com os oradores - “preparem-se que agora vão ter cinco horas seguidas de inspiração pura”, dizia o apresentador –, Bernardo Conde respondeu ao repto deixado pelo presidente do Turismo do Centro, que disse que queria o Exodus em Aveiro nos próximos 50 anos. Disse-lhe que já estava tudo marcado para a terceira edição. A data – 30 de Novembro e 1 de Dezembro - e todos os oradores. Entre os nomes anunciados estão Daniel Berehulak, Corey Rich, Daniel Landa, Justion Mott, Veronique de Viguerie, Frans Lanting, David Chancellor, Danielle da Silva e Joel Santos. Mas isso é só para o ano. Este acabou de começar.