Querem mudar os nomes das ruas e largos? Ora tentem lá outra vez
Isto de andar a mudar nomes de velhos lugares de uma velha cidade tem tanto para dar certo como passar a chamar José a quem uma vida inteira foi João: ninguém adere e só serve para baralhar.
Já lá vão uns valentes séculos desde que o Marquês de Pombal chamou Praça do Comércio ao Terreiro do Paço. Mas o povo é teimoso e, embora até tenha aceitado a “nova” denominação, a antiga continua aí, enraizada na língua dos lisboetas. Os nomes dos lugares não são apenas o capricho de alguns, são uma construção colectiva, assente na história, que não se muda por decreto. Mas insistem. Um hábito antigo, como se prova. Com tanto sucesso ontem como hoje. E agora lá vamos nós outra vez, desta feita com o dedo apontado ao Campo das Cebolas.
Isto de andar a mudar nomes de velhos lugares de uma velha cidade tem tanto para dar certo como passar a chamar José a quem uma vida inteira foi João: ninguém adere e só serve para baralhar. Quem é que alguma vez chamou Praça Sá Carneiro ao Areeiro? Será que alguma vez alguém designará o Campo Grande por Jardim Mário Soares? E a Portela chama-se o quê agora, ao certo? Fora as praças com nomes de personagens de nobre linhagem mas que são apenas o Rossio ou o Cais do Sodré. Já para não falar da Avenida do Aeroporto.
Os casos sucedem-se e a teimosia persiste. Para desespero dos carteiros. É assim tão difícil perceber que a relação que os cidadãos têm com os seus espaços urbanos faz-se de vivências e de memória colectiva? A toponímia dos lugares que habitamos é ainda um reduto inatacável da nossa liberdade. Em resposta a quem não a respeita, respondemos com a eficaz arma da desobediência civil. O Campo das Cebolas continuará a ser Campo das Cebolas. Saramago que nos desculpe.