CP sem soluções agrava crise na ferrovia

Todos os dias há comboios suprimidos e outros que somam atrasos porque o material está encostado nas oficinas. Medidas anunciadas tardam em concretizar-se e empresa não está preparada para enfrentar o pico de procura do Natal.

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Andre Rodrigues

Depois de um Verão caótico, com centenas de comboios suprimidos por falta de material, a situação da CP não melhorou e avizinha-se um período difícil na época da Natal.

A empresa continua sem material circulante suficiente e o recrutamento de operários para a EMEF ainda não está concluído, pelo que se mantém a incapacidade em reparar as automotoras e carruagens que se vão acumulando nas oficinas. Todos os dias há comboios suprimidos no Algarve e no Oeste. E na linha de Sintra tem sido a família Sintra-Alverca a mais sacrificada devido a falta de composições.

Só na passada quarta-feira, 21 de Novembro, foram suprimidos 11 comboios no Algarve (nove entre Faro e Vila Real de Sto. António e dois entre Faro e Lagos). No dia seguinte foram suprimidos quatro comboios no Algarve e três no Oeste e dia seguinte seis no Oeste. A semana tinha começado com cinco supressões no Algarve e dois no Oeste e não foi diferente das semanas que a precederam, com circulações anuladas e passageiros em terra sem serviços ferroviário.

Ainda no serviço regional, o comboio raiano, que liga o Entroncamento a Badajoz numa viagem diária de ida e volta, foi durante dez dias realizado por um autocarro porque a única automotora afecta a esse serviço teve de ir à oficina.

Mesmo no longo curso agravam-se os problemas. Este domingo, o Alfa Pendular que deveria sair às 16h00 de Faro para o Porto, avariou e a CP teve de alugar seis autocarros para transportar os passageiros do Algarve para Lisboa. Na semana passada nenhum dos Alfa Pendular para Braga chegou ao destino e ficaram-se pelo Porto a fim de poderem recolher às oficinas de manutenção. Tanto à ida como à volta, os passageiros entre Braga e Porto, que tinham pago serviço de Alfa Pendular, acabaram por viajar em automotoras de serviço regional. O mesmo acontece com a ligação Lisboa - Évora: em vez de viajarem numa composição Intercidades, com máquina e carruagens, os passageiros são confrontados quase todos os dias com uma automotora de serviço regional, que é o que a CP consegue para assegurar aquele serviço.

Um Alfa Pendular que saiu da revisão de meia vida no Entroncamento registou durante uma semana oito avarias, tendo chegado a ficar parado em plena via durante horas.

Os atrasos vão alastrando a todas as linhas. Frequentemente os Intercidades do Algarve saem atrasados de Faro porque aguardam a ligação do autocarro de Vila Real de Sto. António que substitui o comboio suprimido. De resto, naquela linha, os atrasos e o serviço desregulado têm sido a norma. Ali, tal como no Oeste, os horários afixados pela CP são apenas uma referência que, na prática, não é cumprida. A AMT (Autoridade da Mobilidade e dos Transporte), que é o regulador do sector, no entanto, nunca se pronunciou sobre o não cumprimento da oferta da transportadora pública.

Nas últimas semanas 60% do parque de automotoras UDD (Unidades Duplas a Diesel) chegou a estar imobilizado em oficina, situação que tende a agravar-se porque o material há muito ultrapassou o seu período de vida útil e o que sobra tende a avariar.

As imobilizações em oficina atingiram também as carruagens dos intercidades que, há poucos dias, tinham quase 40% da frota encostada. Uma situação que não obriga a suprimir comboios (os Intercidades podem circular com menos carruagens), mas diminui a oferta de lugares afectando a capacidade da CP em transportar passageiros.

Para evitar que as imobilizações afectem também as automotoras UTE (Unidades Triplas Eléctricas), responsáveis pela grande maioria do serviço regional, a CP decidiu estender o ciclo de manutenção dos seus rodados dos 200 mil para os 300 mil quilómetros. Caso contrário, em poucas semanas este material teria que ir para a oficina e a empresa veria multiplicarem-se os problemas idênticos aos que viveu no eixo Tomar-Lisboa.

O PÚBLICO perguntou ao IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes), entidade que garante a segurança do sistema ferroviário, se deu parecer favorável a esta solução da CP, mas não obteve resposta.

Em Agosto, quando se tornou evidente a situação de ruptura da CP, o governo anunciou repetidamente três medidas para resolver o problema: contratação de pessoal para a EMEF, aluguer de material a Espanha e compra de novos comboios. Das três medidas apenas a primeira está em execução, embora sem efeitos imediatos pois o processo de recrutamento está a decorrer e é necessário esperar meses até que o pessoal conclua a sua formação.

O aluguer a Espanha está no segredo dos deuses. A CP ainda não esclareceu, apesar de questionada sobre o tema, quando virá esse material para Portugal. Contudo, o PÚBLICO sabe que tal não está para breve. Quanto ao concurso para a compra de novos comboios, a CP também não respondeu. O Governo anunciou que seriam compradas 22 automotoras para serviço regional e não esclareceu por que não investe no serviço longo curso, tanto mais que a partir de 2019 será liberalizado o transporte ferroviário de passageiros de longa distância sem que a CP esteja dotada de armas para enfrentar qualquer concorrência.

Com este cenário, há apenas uma pequena luz ao fundo do túnel: o encerramento, para obras, da linha do Douro entre Caíde e Marco de Canavezes, vai libertar algumas automotoras a diesel que ali faziam serviço para outras linhas onde fazem falta.


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