O verdadeiro peso económico da obesidade
Estima-se que a Europa e seus sistemas de saúde gastem cerca de 59 mil milhões de euros por ano com todos os custos associados à obesidade.
A obesidade é uma doença crónica, complexa e multifatorial, considerada a epidemia do nosso século e que tem vindo a aumentar a sua prevalência no mundo e em Portugal, com elevadas repercussões na saúde e qualidade de vida dos doentes, mas também com elevado impacto na sociedade devido aos custos diretos e indiretos associados. Estima-se que a Europa e seus sistemas de saúde gastem cerca de 59 mil milhões de euros por ano com todos os custos associados à obesidade, o que é um número verdadeiramente impactante, que representa cerca de 8% do orçamento total de saúde na Europa. Este é um tema que verdadeiramente preocupa os especialistas nacionais e internacionais da área e, consequentemente, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), motivo pelo qual o lema do 22.º Congresso Português da Obesidade, que hoje começa, seja “Obesidade: Um Peso a Reduzir!”. Não é apenas o peso do indivíduo, mas o “peso”, a “carga” económica que acarreta a não prevenção, o não tratamento atempado desta doença que tem implicações diretas na ocorrência de múltiplas outras doenças e consequentes tratamentos. A obesidade é uma doença com um especial impacto económico devido ao desenvolvimento e o tratamento de outras multipatologias associadas tais como a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, apneia obstrutiva do sono, infertilidade, cancro, depressão, entre tantas outras doenças.
A SPEO pretende fazer um estudo do impacto económico da obesidade em Portugal e conhecermos melhora a realidade em que vivemos. As expectativas dos resultados são elevadas, já que esta doença afeta quase um quarto da população portuguesa, e cerca de 60% é obesa ou pré-obesa.
Com o intuito de tornar a obesidade uma doença que é consensualmente seguida e tratada pelos médicos de todo o país, promovendo o conhecimento e deteção e acompanhamento, a SPEO apresenta vários protocolos: “Protocolo de Tratamento Não Cirúrgico da Obesidade do Adulto”, com a colaboração da Psicologia e Psiquiatria, Nutrição, Fisiologistas do Exercício Físico e Endocrinologistas; “Protocolo de Diagnóstico e Tratamento das Hipoglicemias Após Cirurgia Bariátrica”; e “Protocolo de Orientação Nutricional e Terapêutica Farmacológica da Diabetes Após Cirurgia Bariátrica”, de modo a proporcionar aos diferentes profissionais de saúde ferramentas para a abordagem destas entidades.
Também este ano, a SPEO colaborou com os colegas da Sociedade Espanhola Para o Estudo da Obesidade no “Consenso Ibérico Sobre o Tratamento Farmacológico da Obesidade no Adulto” sob o lema “Declaramos guerra à obesidade”, que também será apresentado no congresso. Os Endocrinologistas Portugueses e Espanhóis estão preocupados com o facto de a terapêutica farmacológica ser inacessível precisamente àquela subpopulação onde a obesidade é mais prevalente. Ou seja, a prevalência de obesidade está aumentada nas classes sociais mais desfavorecidas e os fármacos para a obesidade não são comparticipados na Península Ibérica, o que limita a acessibilidade ao tratamento.
Com esta reunião, que conta com mais de 400 participantes – médicos de várias especialidades, psicólogos, fisiologistas do exercício físico e nutricionistas –, pretendemos debater o problema da obesidade e chegar a conclusões dos próximos passos para melhor diagnosticarmos, seguirmos e tratamos os doentes, promovendo uma reflexão útil sobre as respetivas estratégias possíveis de se aplicarem ao nosso SNS.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico