May não cede à pressão dos conservadores que a querem ver pelas costas

Primeira-ministra britânica encara desafio interno à sua liderança como uma distracção e alerta para o risco de se “atrasar ou frustrar” o “Brexit”. Labour, SNP e DUP confirmam que se vão opor ao acordo no Parlamento.

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Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido Reuters/PETER NICHOLLS

“Os próximos sete dias serão determinantes para o futuro desde país. E eu não me vou deixar afastar da importante missão que temos pela frente nesta semana decisiva.” Se dúvidas houvesse sobre o compromisso de Theresa May para com o esboço do acordo alcançado com Bruxelas para a saída do Reino Unido da União Europeia, a primeira-ministra dissipou-as, pela enésima vez, numa entrevista este domingo à Sky News.

A líder do Governo britânico garantiu não temer a iniciativa que está a ser promovida dentro do seu partido para a derrubar e fechou a porta a quaisquer alterações ao documento do divórcio antes da cimeira europeia do próximo domingo. E às suas convicções acrescentou um alerta: este tipo de movimentações pode colocar em risco o próprio “Brexit”.

“Uma mudança de liderança nesta fase não vai tornar as negociações mais fáceis e não vai alterar a aritmética no Parlamento. A única coisa que fará é aumentar o risco de atraso das negociações [com a UE] e isso pode retardar ou frustrar o ‘Brexit’”, assegurou a primeira-ministra.

O abandono britânico do clube europeu está agendado para o dia 29 de Março de 2019, mas antes disso há uma montanha de obstáculos por ultrapassar, nomeadamente em Westminster, onde o acordo definitivo terá de receber luz verde dos deputados.

May respondeu desta forma à operação que está em curso, impulsionada pela ala eurocéptica do Partido Conservador, para se desencadear uma moção de desconfiança à sua liderança. Graham Brady, presidente do 1922 Commitee – o grupo dos deputados do partido que não detêm cargos no Governo – revelou à BBC que ainda não lhe chegaram as 48 cartas necessárias para poder agendar a referida votação que, em última instância, pode vir a derrubar a líder do executivo, abrindo uma corrida à chefia dos tories.

Mas na mira da primeira-ministra estiveram também os rumores de que um grupo de cinco membros de topo do seu Governo – incluindo quatro ministros – está em conversações secretas para promover alterações ao texto de 585 páginas, aprovado na quarta-feira em Conselho de Ministros. May insistiu que o rascunho do acordo de saída é para manter e explicou que a prioridade é agora investir nas discussões sobre a relação futura entre Londres e Bruxelas, uma vez que, argumentou, é ela que “garantirá que este acordo seja o melhor” para o Reino Unido.

“É a relação futura que cumpre o voto a favor do ‘Brexit’. E é sobre ela que vamos trabalhar esta semana”, afiançou, anunciando ainda que vai deslocar-se nos próximos dias à capital belga para debater este e outros assuntos com o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker e que falará brevemente com outros líderes europeus sobre a cimeira.

Fontes do executivo disseram ao jornal britânico Independent que a primeira-ministra receia que uma tentativa de renegociação do acordo técnico, a menos de uma semana de o mesmo ser levado ao Conselho Europeu extraordinário para ser ratificado, pode levar Bruxelas a recuar em algumas das suas concessões.

Frente unida de oposição

Não é só Theresa May que encara os próximos dias como decisivos para o futuro do “Brexit”. E por isso não foi a única a dar uma entrevista este domingo para lançar uma semana que se adivinha frenética.

Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, também apareceu na Sky News, para confirmar que o Labour vai votar contra o acordo na Câmara dos Comuns, por entender que o mesmo “não serve os interesses” do Reino Unido, já que dá à UE o poder de “dar as ordens”. “Em mais de 500 páginas, onde estão as garantias em matéria de protecção ambiental, de defesa do consumidor e de direitos dos trabalhadores?”, questionou ainda.

Cada vez mais pressionado pela ala “remainer” trabalhista para promover, de forma inequívoca, a realização de um segundo referendo ao “Brexit”, Corbyn não se desviou muito do que vindo a dizer sobre o tema. “É uma opção para o futuro, mas não é uma opção para hoje”, afirmou o líder do partido, assumindo que se essa possibilidade se cumprir “nem sabe como irá votar”.

Nicola Sturgeon, first minister da Escócia, é que não tem dúvidas na hora de apoiar nova consulta popular: “O que quer que as pessoas votaram em 2016 não foi o caos em que nos encontramos.” A responsável máxima do SNP também assegurou que os nacionalistas escoceses vão votar contra o acordo de May, rejeitando os rumores de que alguns deputados estariam a ponderar abster-se na votação, prevista para meados de Dezembro. 

“Será errado e profundamente irresponsável se a Câmara dos Comuns subscrever este acordo”, rematou Sturgeon, em entrevista à BBC.

Quem também está preparado para votar contra o documento é o Partido Democrático Unionista (DUP). Este domingo Nigel Dodds, vice-líder do partido da Irlanda do Norte que apoia o Governo de May no Parlamento, divulgou um comunicado a citar o ex-ministro do “Brexit” Dominic Raab – outro que também falou às televisões –, para justificar por que é que o DUP “está firmemente unido na oposição ao esboço do acordo de saída”.

“Este acordo irá erguer uma fronteira comercial no mar da Irlanda e sujeitar-nos às regras europeias, sem qualquer poder para influenciar ou modificar o que nos prende à UE e sem capacidade para a abandonar”, lamentam. E para os que duvidam que se está a formar uma frente unida de oposição a May, transversal a todos os partidos, os ultraconservadores unionistas fazem questão de reforçar: “Até o Jeremy Corbyn percebe isto”.

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