Só forte aceleração no final do ano pode salvar meta do Governo para o PIB

Economia abrandou no terceiro trimestre, acompanhando tendência europeia. Metas do Governo ficaram mais distantes, mas convergência com a média da zona euro mantém-se

Foto
LUSA/OLIVIER HOSLET

A economia alemã travou a fundo, o resto da Europa abrandou e a economia portuguesa, sem surpresa, acompanhou a tendência. O resultado mais fraco registado no terceiro trimestre deste ano colocou a meta do Governo de crescimento de 2,3% em 2018 num patamar bem mais difícil de atingir. E agora, apenas um crescimento trimestral no final do ano que ficasse entre os três melhores dos últimos 10 anos poderia ainda salvar o objectivo traçado pelo Executivo.

De acordo com a estimativa rápida para os valores do PIB divulgada esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a economia registou no terceiro trimestre deste ano um crescimento de 0,3% face ao trimestre imediatamente anterior, o que colocou o crescimento homólogo nos 2,1%. Estes números constituem um abrandamento claro face à variação em cadeia de 0,6% e variação homóloga de 2,4% que se tinham verificado no segundo trimestre do ano.

Nas estimativas rápidas, o INE não fornece ainda dados para a evolução das componentes do PIB, explicando apenas que o abrandamento do crescimento em cadeia reflecte “uma diminuição das exportações de bens e serviços mais intensa que a das importações”, que não foi compensado pelo contributo positivo da procura interna.

Para o total de 2018, a meta definida pelo Governo é de um crescimento de 2,3% e, com os resultados obtidos ao longo dos primeiros nove meses do ano, essa tarefa parece agora mais difícil de atingir. De acordo com os cálculos do PÚBLICO, para que tal acontecesse (num cenário em que não haveria revisões de trimestres anteriores), era necessário que o quarto trimestre do ano fosse de forte aceleração da economia portuguesa. Face ao trimestre imediatamente anterior, a variação do PIB teria de atingir 1% e, em termos homólogos, o resultado a atingir seria de 2,3%.

Para além de representar uma melhoria substancial face aos 0,3% do terceiro trimestre, a variação de 1% do PIB entre Outubro de Dezembro constituiria, caso se concretizasse um dos melhores resultados dos últimos 10 anos. Apenas por duas vezes, no primeiro trimestre de 2010 e no segundo trimestre de 2016, um crescimento igual ou superior a 1% foi atingido.

A convergir com a Europa

Para tornar as coisas ainda mais difíceis, o abrandamento agora registado na economia surge num cenário de deterioração das condições a nível europeu. No terceiro trimestre, não foi só a economia portuguesa a abrandar. No total, a zona euro passou de um crescimento em cadeia de 0,4% no segundo trimestre para 0,2% no terceiro. A variação homóloga do PIB, por seu lado, passou de 2,2% para 1,7%.

O resultado mais preocupante veio da Alemanha, cuja economia contraiu-se no terceiro trimestre, algo que já não acontecia desde 2015 e que veio reforçar os receios de que a maior economia europeia possa estar a entrar, depois de vários anos muito positivos, numa fase mais difícil, o que teria efeitos em todo o continente. Ainda assim, vários analistas assinalam que factores pontuais na produção do sector automóvel podem estar por trás do resultado agora verificado, sendo possível uma melhoria no PIB alemão já no quarto trimestre.

Para Portugal, a boa notícia dos números do PIB é que, apesar do abrandamento, se prolongou no terceiro trimestre o período de convergência face à média da zona euro. De notar, contudo, que entre os 13 países da zona euro para os quais já há dados disponíveis para o PIB do terceiro trimestre, Portugal tem apenas a nona variação homóloga do PIB mais alta. O que acontece é que, entre os quatro países com pior desempenho estão os três maiores países da zona euro: a Alemanha, com um crescimento homólogo de 1,2%, a França, com 1,5%, e a Itália, com 0,8%.

A Espanha, o principal destino das exportações portuguesas, foi uma das poucas economias europeias a não registar um abrandamento, mantendo no terceiro trimestre o mesmo registo do segundo: crescimento de 0,6% em cadeia e de 2,5% em termos homólogos.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários