Quantas estrelas traz esta quarta-feira a primeira gala Michelin em Portugal?
O Guia Michelin faz a sua gala anual pela primeira vez no nosso país, atraindo os holofotes para a cozinha e restauração portuguesa. A cerimónia é já esta quarta-feira, dia 21. A grande questão é a de sempre: quantas estrelas vamos ter?
No rescaldo da Web Summit, Lisboa prepara-se para receber outra cimeira que pretende colocar Portugal nas bocas do mundo. Neste caso de forma literal, já que se trata do Guia Michelin, o mais influente e prestigiado guia gastronómico do mundo, cuja gala anual vai pela primeira vez na história acontecer no nosso país.
É o resultado de um longo processo de sedução, com anos de namoro e negociação, mas que finalmente se concretiza. Uma espécie de gastro summit que traz a Lisboa todos os grandes protagonistas da gastronomia e restauração na Península Ibérica — e alguns são mesmo o topo mundial —, atraindo assim todas as atenções para a cozinha nacional.
Numa altura em que o turismo está em alta e o país está na moda, as autoridades do turismo e da autarquia lisboeta aproveitam também para uma espécie de visita guiada destinada a alguns dos grandes chefs do país vizinho, bem como os jornalistas e canais de TV mais influentes no panorama gastronómico. A ideia é mostrar a identidade da cozinha portuguesa, mas também a qualidade e variedade de produtos e o que há de novidade e vanguarda nas nossas cozinhas.
A grande questão, no entanto, é saber-se quais as novidades que podem surgir na gala, que terá lugar já no próximo dia 21, no Pavilhão Carlos Lopes.
Certo, para já, é que aquilo que será servido está reservado aos sete chefs da região de Lisboa já galardoados com as estrelas do Guia. José Avillez vai comandar a equipa responsável pelo menu do evento, que integra Henrique Sá Pessoa, João Rodrigues, Alexandre Silva, Joachim Koerper, Miguel Rocha Vieira e Sergi Arola.
E, apesar dos muitos convites que a Michelin desta vez disseminou pelas mais promissoras cozinhas do território nacional, a perspectiva é a de que poderá não haver novidades por aí além. A mais relevante poderá até estar no facto de, desta vez, não ser Michael Ellis a apresentar a gala, já que o responsável máximo pelos guias deixou o cargo em Setembro, tendo sido substituído por Gwendal Poullennec, a quem caberá a apresentação. Também por isso a cimeira de Lisboa ficará na história, já que pela primeira vez não caberá a Ellis o discurso de abertura e marcando a estreia do novo responsável da marca na apresentação do guia ibérico.
É grande, como sempre, a ansiedade em torno dos possíveis novos estrelados, mas as conhecidas cautelas e conservadorismo dos inspectores aconselham prudência. É certo que se vive um momento de euforia e exaltação gastronómica que varre o país de lés-a-lés, com muitos novos e estimulantes restaurantes e um trabalho apurado de uma nova geração de cozinheiros, mas é preciso também não esquecer a multiplicação de estrelas que tem acontecido nos últimos tempos.
No início de década eram apenas uma dúzia as estrelas atribuídas a Portugal, com um único restaurante com duas estrelas (Vila Joya) — hoje os restaurantes nacionais somam já 33 estrelas, sendo cinco com o duplo distintivo (Vila Joya, Ocean, Belcanto, The Yeatman e Il Gallo d’Oro).
No contexto das habituais especulações sobre o tema, Vasco Coelho dos Santos e o seu Euskalduna Studio, no Porto, são apontados como fortes candidatos à ambicionada estrela. Também Vincent Farges, que durante longos anos teve estrela na Fortaleza do Guincho, poderá ser outro contemplado, mas falta saber se a recente abertura do seu Epur, no coração lisboeta, ainda foi a tempo da avaliação dos inspectores. E parece difícil que assim tenha acontecido.
Sobra ainda a velha questão — ou questiúncula — de saber se finalmente poderá haver estrela para o restaurante Varanda, do Hotel Ritz, em Lisboa. Uma longa história com uma espécie de braço-de-ferro com os inspectores, que embirram com o facto de o Varanda continuar a funcionar ao almoço em regime buffet.
O bom momento que o país atravessa em termos de turismo e restauração acalenta esperanças de boas surpresas e os muitos convites distribuídos alimentam expectativas. Mas há também que ter em conta que o guia não atribui apenas as famosas estrelas e tem feito nestes últimos dois anos um esforço extra para actualizar as distinções Bib Gourmand — que destacam uma boa relação qualidade-preço — e criou há dois anos o Prato Michelin, destinado a distinguir os restaurantes com uma “cozinha de qualidade”.
São de recordar as palavras da directora comercial da Michelin, Mayte Carreño, que, no lançamento do evento em Lisboa, em Junho, anunciou a presença de um bom número de chefs. “Além dos galardoados com estrelas Michelin, contaremos com a presença de cozinheiros Bib Gourmand e Prato Michelin, dando assim visibilidade a todas as categorias”, disse.
E há que ter presente também que, da mesma forma que atribuem as estrelas, os inspectores também as podem retirar, se bem que na euforia de crescimento e reconhecimento dos últimos tempos isso possa estar um tanto esquecido. A instabilidade das equipas é um dos requisitos mais apreciados e as mudanças de chefs sempre negativamente avaliadas. Mesmo que o novo dono da cozinha traga prestígio e currículo, como aconteceu com a chegada de Leonel Pereira ao S. Gabriel, em 2013, tendo que aguentar uma temporada até recuperar o prestigiado símbolo.
É nesta perspectiva que há que prestar atenção à forma como o guia encarou a saída de Rui Silvestre dos comandos dos fogões do algarvio Bon Bon, onde foi substituído pelo jovem Louis Anjos logo no início deste ano.
No total, são já 47 os restaurantes portugueses que receberam a distinção das ambicionada estrelas do Guia Michelin. As primeiras em 1929, numa altura em que a avaliação não tinha a mesma importância nem contava ainda com os actuais inspectores anónimos, cuja figura existe desde 1933. As mais recentes foram atribuídas na última edição aos restaurantes Gusto by Henz Beck (Almancil, Hotel Conrad Algarve), que tem como chef residente o jovem italiano Danielle Pirlo, e o Vista, (na praia da Rocha, Portimão), do chef João Oliveira.