Tancos: Costa quer "eventuais cúmplices e encobridores" responsabilizados. "Sejam quem forem"
Em reacção à manchete do PÚBLICO, o primeiro-ministro pede que tudo seja “cabalmente” esclarecido. PGR garante que, até ao momento, não está marcada qualquer diligência no âmbito do caso de Tancos.
O primeiro-ministro, António Costa, quer que os autores e “eventuais cúmplices e encobridores”, no caso de Tancos, sejam responsabilizados, sejam eles “quem forem”.
“O primeiro-ministro não comenta questões objecto de investigação criminal. Limita-se a desejar que as autoridades competentes, com a maior brevidade possível, esclareçam cabalmente o ocorrido, responsabilizando os autores do furto e os seus eventuais cúmplices e encobridores, sejam quem forem”, comunicou ao PÚBLICO o gabinete de imprensa do primeiro-ministro.
Em causa está a manchete do PÚBLICO, segundo a qual o ex-chefe de gabinete do ex-ministro da Defesa disse, no interrogatório, ter informado Azeredo Lopes do memorando sobre Tancos que lhe foi entregue, há menos de um ano, pelo então director da Polícia Judiciária Militar.
O tenente-general Martins Pereira contou que, assim que recebeu o memorando sobre a operação encenada, passou imediatamente a informação ao governante, a quem ligou pela rede WhatsApp, cujos telefonemas e mensagens são encriptados. Colocou agora o seu telemóvel à disposição dos investigadores.
CDS: comissão “cada vez mais oportuna”
A manchete do PÚBLICO nesta manhã também não deixa dúvidas ao deputado centrista, Nuno Magalhães, sobre a “necessidade” de se avançar com uma comissão de inquérito parlamentar ao caso de Tancos, para se “apurar o grau de envolvimento e conhecimento que o Governo teve”.
“Parece-me óbvio e evidente que é cada vez mais oportuna a comissão”, disse ao PÚBLICO, ressalvando sempre que não se está a referir directamente ao teor das declarações proferidas em “sede judicial”.
“É preciso ser claro nisto: no CDS, sabemos separar aquilo que é da justiça e aquilo que é do Parlamento”, começou por afirmar, sublinhando que o que interessa aos centristas são as afirmações que o ex-chefe de gabinete e o ex-ministro da Defesa proferirão ou não em sede de comissão de inquérito parlamentar.
O centrista não nega que, a confirmarem-se, estas informações implicam uma “responsabilidade” política “cada vez mais evidente”, mas mostra-se cauteloso nesta fase do processo: “Primeiro, vamos confirmar se essas declarações existem, se existindo serão reproduzidas em sede de comissão inquérito, se forem, há uma responsabilidade cada vez mais evidente. Mas é um duplo se: se existirem, se forem repetidas”, ressalva.
PCP e BE cautelosos
Também o PCP, para já, mostra precaução. "Há uma parte do apuramento de responsabilidade que é do âmbito da justiça. Mas o ex-ministro e o ex-chefe de gabinete não estão isentos do apuramento desses factos. Depois de apurados, vamos ver quais são as ilações políticas a retirar. Vamos deixar que a justiça funcione”, disse o comunista Jorge Machado.
O bloquista João Vasconcelos reagiu no mesmo sentido: “Não comentamos notícias com base num processo judicial. Vamos esperar pela comissão de inquérito. Consideramos o que se passou [o furto das armas] um acto gravíssimo e exigiremos o apuramento de responsabilidade, mas temos de definir o que é política, de um lado, e justiça por outro. Na comissão de inquérito faremos uma lista de entidade que queremos ouvir. Até agora, nada se sabe”, disse.
O PÚBLICO está também a tentar contactar Azeredo Lopes, mas até ao momento ainda não foi possível. Já "o Ministério Público do DCIAP - Departamento Central de Investigação e Acção Penal não tem, neste momento, qualquer diligência agendada no âmbito da designada 'Operação Húbris'", informou o gabinete de imprensa, sobre a investigação de Tancos.