Mirós vão ficar em Serralves durante 25 anos
Primeiro-ministro e ministra da Cultura assinam esta quarta-feira na Câmara do Porto protocolos com a autarquia e com a Fundação de Serralves relativos ao destino da colecção que pertenceu ao BPN.
A colecção de 25 obras de Joán Miró (1893-1983) vai ficar no Porto durante 25 anos. O anúncio foi feito pela ministra da Cultura numa pequena entrevista à Rádio Renascença, emitida na manhã desta quarta-feira, dia em que Graça Fonseca participa, na Câmara do Porto, na formalização do acordo entre o Governo, a autarquia e a Fundação de Serralves com esse objectivo.
“É um acordo de cedência entre o Estado e o município do Porto, um acordo de 25 anos da colecção dos Mirós e depois entre a Câmara Municipal do Porto e a Fundação de Serralves, onde vão ficar, pelo mesmo período de 25 anos, estes quadros de Miró em exposição ao público”, disse a nova ministra, que na semana passada sucedeu no cargo a Luís Filipe Castro Mendes.
Com a presença anunciada também do primeiro-ministro, a assinatura dos acordos com os detalhes e os termos de cedência da colecção Miró ao Porto vem concluir um processo iniciado em Setembro de 2016, quando António Costa anunciou este destino para as obras do pintor surrealista espanhol proveniente do extinto Banco Português de Negócios (BPN).
Esta “decisão política” de Costa surgiu na sequência do desafio que o primeiro ministro da Cultura do actual governo socialista, João Soares, tinha lançado a Serralves para que fizesse a primeira exposição com o objectivo de divulgar junto do público o acervo dos Mirós.
A fundação acolheu o desafio e em Setembro de 2016 inaugurou a exposição Joan Miró: Materialidade e metamorfose, mostrando a quase totalidade das 85 obras que integram a colecção na casa que foi do Conde de Vizela, e que para o efeito foi preparada pelo arquitecto Álvaro Siza.
Nessa altura, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, anunciou que tinha acordado a instalação da colecção em Serralves a título permanente, e que o arquitecto que tinha desenhado o museu de arte contemporânea da fundação (MACS), e feito a montagem de Joan Miró: Materialidade e metamorfose, aceitara também o convite para preparar a bela casa cor-de-rosa de arquitectura modernista para posteriormente acolher as obras do surrealista espanhol. Um processo que está ainda em curso, não tendo o PÚBLICO conseguido saber junto do gabinete de Álvaro Siza em que fase se encontra actualmente o projecto.
Recorde-se que a colecção de Joan Miró contém 85 peças, incluindo desenho, pintura, colagem e tapeçaria, abrangendo um período de quase seis décadas de criação do pintor, “com foco na transformação das linguagens pictóricas que o artista catalão começou a desenvolver em meados da década de 1920”, recorda o comunicado do Ministério da Cultura a anunciar os protocolos desta quarta-feira.
Já no corrente ano, no mês de Abril, foi também formalizada a transferência da posse da colecção Miró da Parvalorem e da Parups – as empresas que herdaram e gerem os activos tóxicos do BPN – para o Estado português, por um valor avaliado em 54,4 milhões de euros.
Esta operação, que na prática não envolveu nenhuma transferência de dinheiro, veio pôr fim ao longo processo que se iniciara em Fevereiro de 2014, no tempo do Governo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho, quando se soube que a colecção Miró iria ser posta em leilão em Londres pela Christie’s, o que não chegou a acontecer.
Depois de um processo polémico e conturbado, o Governo de António Costa reverteu em 2016 a intenção de venda dos quadros e assumiu a “decisão política” de os integrar no património público português.