O atelier de Miró em Tarragona está tal e qual como ele o deixou e já se pode visitar
Antiga casa-atelier do pintor catalão reabre este fim-de-semana. É a famosa La Masía, pintada pelo artista em 1922. Manteve-se intocada desde 1976.
Depois de Barcelona e de Palma de Maiorca, há, desde este fim-de-semana, um novo lugar destinado à celebração, em Espanha, da figura e da obra de Joan Miró (1893-1983), o pintor catalão que se tornou um expoente do movimento surrealista.
Para esta sexta-feira, data em que se assinala o 125.º aniversário do seu nascimento, está agendada a inauguração oficial da casa da família do artista, que foi também a sua casa de veraneio e, principalmente, a sua casa-atelier durante mais de 60 anos.
'Mas Miró' é o nome do novo espaço, localizado na localidade de Mont-roig del Camp, em Tarragona, a cerca de cem quilómetros a oeste de Barcelona, capital da Catalunha.
O que agora é inaugurado é o resultado da primeira de três fases de reabilitação desta casa, comprada pela família do pintor em 1911, numa terra que viria a ser ums dos cenários-chave da obra de Miró. Poder-se-á visitar o atelier em que o artista trabalhou desde os anos a seguir à Guerra Civil e aí ver marcas físicas da sua presença: a grande mesa ainda cheia de tintas, pincéis, ânforas, uma esponja e pastas com esboços de trabalhos, graffiti nas paredes e também dois retratos de Picasso, que foi seu amigo (e rival?) durante meio século (uma reclamada primeira biografia do artista acaba de ser publicada em Espanha pelo jornalista Josep Massot, com o título Joan Miró: el niño que hablaba con los árboles).
“É a catedral da obra de Miró”, disse aos jornalistas o neto do pintor, Joan Punyet Miró, esta semana, aquando da apresentação da casa agora reabilitada. E as referências que a imprensa espanhola faz ao lugar têm como denominador comum o famoso quadro La Masía, com que o pintor recriou em 1921-22 esta sua casa – e que os meandros da história fizeram com que fosse parar às mãos de… Ernest Hemingway ainda nessa mesma década, a selar uma amizade que duraria o resto das suas vidas.
Além do atelier, a primeira fase do trabalho de recuperação de La Masía, iniciada em 2010 e orçada em 400 mil euros, contemplou também o arranjo da sala contígua, que passa a funcionar como recepção para os visitantes.
Para as duas fases posteriores fica a reabilitação da casa principal, primeiro, e da dos caseiros, numa propriedade que se prolonga por dez hectares e onde a Fundação Mas Miró e os herdeiros do pintor projectam criar uma horta ecológica, plantando também amendoeiras e alfarrobeiras, como no tempo em que o artista aí viveu.
“Para Miró, estar em Mont-roig funcionava como um exercício de introspecção através do contacto directo com a terra”, recorda Joan Punyet, acrescentando que o seu avô, quando se mudava para a sua casa em Paris, “levava sempre consigo uma alfarroba para recordar a terra das suas origens”.
O neto de Miró disse ainda à agência de notícias Efe que visitar a casa Mas Miró resulta numa "autêntica viagem no tempo", pois ela está tal e qual o avô a deixou, em Setembro de 1976.
Enquanto esperam a conclusão do projecto global de restauro de La Masía, os responsáveis da Fundação Mas Miró, presidida pelo alcaide de Mont-roig del Camp, Fran Morancho, esperam que o novo equipamento mobilize a atenção de visitantes de todo o mundo. “Miró é conhecido no mundo inteiro, e um dos artistas mais respeitados, e a repercussão que teremos é muito importante”, disse ao autarca.
Não tendo sido anunciadas datas para a conclusão das novas fases de reabilitação da propriedade, a verdade é que a casa em Tarragona – mesmo não estando, por agora, prevista a realização de exposições com obras do pintor – vem completar um triângulo geográfico de referência da sua vida e obra, após a criação, ainda em vida, da primeira fundação em Barcelona, em 1975, seguida depois da de Palma de Maiorca, terra da sua mãe e também da sua mulher, Pilar Juncosa, em 1992.
Um roteiro que fica completo com outros pólos da obra de Miró espalhados pelo mundo, como a Casa de Serralves, no Porto, que desde 2016 é depositária da colecção de pinturas do artista que pertenceram ao extinto Banco Português de Negócios (BPN).