Governo espanhol confirma abandono de projecto de mina de urânio junto a Portugal
A mina a céu aberto era contestada por portugueses e espanhóis. A empresa responsável pela construção prometia 450 postos de trabalhos directos e 2000 indirectos, mas não apresentou a documentação necessária.
O Governo espanhol confirmou nesta segunda-feira o abandono do projecto da mina de urânio em Alameda de Gardón, em Salamanca, próximo da fronteira com Portugal, indicando que a empresa promotora não apresentou a documentação necessária para avançar.
Em causa está uma resposta dada esta segunda-feira pelo executivo espanhol ao senador Carles Mulet, indicando que "o Ministério para a Transição Ecológica não recebeu nem o estudo de impacto ambiental, nem o arquivo de informações públicas para o início da fase ordinária de avaliação ambiental". Ao Governo não chegaram, também, os resultados da consulta pública realizada, acrescenta o executivo na resposta, citada pela agência noticiosa Efe.
O projecto "Salamanca", da empresa Barkeley, previa um investimento total de 250 milhões de euros, a criação de 450 postos de trabalho directos e 2000 indirectos, estando o começo da produção previsto para 2019.
Mina era contestada por habitantes
Ainda no último fim-de-semana, mais de duas mil pessoas manifestaram-se em Vitigudino, Salamanca, contra o projecto da mina de urânio, segundo a organização. Esse protesto foi organizado por empresários de pecuária da região e contou com o apoio da plataforma Stop Urânio e de mais 42 câmaras municipais do oeste da província de Salamanca.
Entretanto, a plataforma Stop Urânio já reagiu à informação confirmada esta segunda-feira, notando que, apesar do abandono do projecto, esta mina de urânio continua a ser usada como "um chamariz" para a empresa promotora, a Barkeley, criticando a posição dos governos central e regional.
Em Maio passado, os ministérios portugueses do Ambiente e dos Negócios Estrangeiros anunciaram que Espanha tinha prestado "informação detalhada" sobre os projectos de exploração mineira de urânio de Salamanca e de Retortillo-Santidad, em zonas fronteiriças, garantindo que Portugal será envolvido no processo.
A declaração foi feita no final de uma reunião, a pedido de Portugal, entre as Partes do Protocolo de Actuação a aplicar às avaliações ambientais de planos, programas e projectos com efeitos transfronteiriços.
Antes, em Março, a Assembleia da República aprovou um conjunto de sete resoluções, com origem em todas as bancadas, com recomendações ao Governo português para adoptar medidas junto do executivo espanhol que suspendam a exploração de urânio em Salamanca.
Por seu lado, a Agência Portuguesa do Ambiente considerou que o projecto de exploração mineira de urânio em Retortillo era "susceptível de ter efeitos ambientais significativos em Portugal", pela proximidade com a fronteira e tendo em "atenção a direcção dos ventos" de este e nordeste.
As associações ambientais e as autarquias de ambos os países também tinham feito críticas ao processo.