Valha-nos São Quentin
Uma versão de Pulp Fiction pelo autor de Cloverfield e A Casa na Floresta, que começa tão bem que nada faria esperar o “tiro no pé” que a destrói por completo.
Drew Goddard tem os padrinhos certos: Joss Whedon, para quem escreveu episódios de Buffy, Caçadora de Vampiros e com quem fez o fantástico A Casa na Floresta, J. J. Abrams, com quem colaborou nas séries Alias: A Vingadora e Lost e escreveu Nome de Código: Cloverfield, e Ridley Scott, para quem assinou o guião de Perdido em Marte. Nada disso desculpa o “tiro no pé” de Sete Estranhos no El Royale, variação sobre o modelo Tarantinesco/Pulp Fiction com uma premissa bem sacada: num hotel escondido na fronteira entre a Califórnia e o Nevada que já viu melhores dias, uma suspeita colecção de estranhos aloja-se exactamente ao mesmo tempo, com exigências específicas de quartos. Estamos nos anos 1960 e o que é que um vendedor de aspiradores sulista, um padre idoso, uma cantora negra e uma jovem mal-disposta vão fazer ao El Royale no mesmo dia?
Durante mais ou menos hora e meia, Goddard desenha voltas e reviravoltas e percursos e flashbacks, brinca com as expectativas do espectador, insere alguns toques de inventividade na fórmula Tarantino e revela a identidade de mais dois dos sete estranhos do título. Só que ainda faltam 45 minutos de projecção, e a entrada nesse momento do estranho em falta, despropositada e desajeitada, vindo de um outro filme completamente diferente, dá completamente cabo de Sete Estranhos no El Royale (não podemos contar mais, sob pena de tirar todo o prazer a um filme que vive de apanhar o espectador permanentemente à socapa). É pena, porque entre a classe de Jeff Bridges e a estrondosa performance da britânica Cynthia Erivo, vinda da Broadway, entre a segurança de Jon Hamm e a revelação de Lewis (filho de Bill) Pullman, pelo meio da graça com que Goddard gere a primeira hora e meia, havia aqui material de primeira água, mais do que suficiente para um policial recomendável. Assim, saímos de Sete Estranhos no El Royale com uma desagradável sensação de frustração, de termos sido enganados por um filme que prometia tanto e cumpriu tão pouco. Não há padrinhos que salvem Drew Goddard disso; nem mesmo São Quentin deixaria a coisa assim.